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Bebês de seis meses vão ao curso de inglês

Técnica propõe exposição precoce ao segundo idioma, para facilitar o aprendizado e a assimilação da língua com naturalidade

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 17h05 - Publicado em 15 Maio 2011, 14h08

Certeza absoluta, por enquanto, só há a de que a exposição a outra língua não faz mal

Eles só têm seis meses de vida. Ainda não falam, pouco entendem e mal ficam sentados em uma cadeira. O que fazem esses bebês, então, em uma sala de aula, amparados por seus responsáveis e orientados por uma professora? A resposta é intrigante: aprendem inglês. Parece incrível, e é. Os recém-nascidos brasileiros começam a ter sua agenda ocupada ainda em tempos de fralda. Cursos de língua estrangeira estão abrindo turmas para crianças cada vez mais novas. “Se a intenção é ensinar uma segunda língua para o bebê, isso deve ser feito através de atividades lúdicas e de muita audição para ele começar a reconhecer o idioma. É uma boa possibilidade”, diz Álvaro Alfredo Bragança Junior, professor do departamento de letras da UFRJ.

Dona de um curso de inglês na zona sul do Rio de Janeiro, Eloísa de Oliveira Lima, formada em letras, fez uma experiência piloto em 2003 com os recém-nascidos. Ela ofereceu aulas, de graça, para ver qual seria o desempenho da criança. Quatro bebês se apresentaram, todas meninas com seis meses de idade. A partir daí, teve início a saga. “Um trabalho com essa faixa etária tem que acompanhar o tempo de interesse da criança pelo assunto. Um bebê se concentra um minuto e meio em uma atividade. A metodologia tem que seguir essa preocupação”, explica Eloísa.

Ela mesma considera audaciosa a experiência. Por tentativa e erro, Eloísa, no comando da classe, percebeu o que dava certo com os mini-alunos. Filmes, brincadeiras, barulhos e música fizeram parte do repertório da aula. Ela falava o tempo inteiro em inglês, sem parar, como se dublasse as suas ações – algo fundamental em uma turma cujas respostas dos estudantes não são as mais convencionais. Quando os bebês se cansavam, sem qualquer problema, movimentavam-se, desorganizavam a atividade e pouco se importavam com o professor.

Com os contratempos, mais que esperados, Eloísa percebeu que estava dando certo. Um ano depois de as quatro meninas começarem o curso, ingressaram mais outros quatro bebês na faixa de um ano e dois meses. “Eu subdividia as atividades, pegávamos uma fatia de pão, contava uma historinha, sentávamos em uma mesa, colocávamos o pão no prato, comíamos. Era uma atividade picotada, com três minutos para cada tarefa, podendo durar sete minutos”, conta a diretora. E então, eureka! “Os antigos entendiam e participavam de todo o exercício, enquanto os outros estavam esgotados nos primeiros três minutos”, afirma Eloísa.

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Depois, em um mestrado em neurociência, ela diz ter comprovado sua teoria. “Esse estudo me confirmou que eu não estava doida. E passei a ter argumentos mais embasados para os pais que me perguntavam se valia a pena”, conta a proprietária do curso. Para Bragança Junior, professor de letras da UFRJ, se a criança tem contato com outro idioma mais cedo, poderá compreender mais rápido esse outro código de linguagem. “Tem que considerar o objetivo dos pais. Se você colocar em um curso desde muito cedo com a expectativa de se tornar bilíngue, isso é possível. Quanto mais exposição à outra língua, maior a capacidade de desenvolver bem a capacidade oral”, afirma o professor.

Bragança Junior faz, no entanto, um adendo importante para os pais: a parte escrita em outra língua pode ser um problema antes mesmo da alfabetização no idioma nativo. É obvio que, para crianças de apenas alguns meses, as palavras formadas na ponta do lápis não serão ensinadas. Bragança Junior fala sobre o conhecimento da escrita àqueles no período dos seis anos de idade. “O aprendizado precoce pode apresentar interferências na alfabetização da língua mãe e da língua dois. Apesar disso, a criança gosta de brincar, ouvir histórias. É através da parte oral que se permite a aquisição da capacidade de distinguir sons”, diz.

Segundo Eloísa, a linguagem fecha-se aos sete anos. Até essa idade, os idiomas aprendidos se localizam na mesma região cerebral. Por isso ela defende a tese de que os bebês devem ser expostos a outra língua o quanto antes. “Aos sete anos, a janela se fecha. Quando o bebê só tem meses de vida, essa janela é mais aberta. Isso facilita que a criança consiga pensar na língua e tenha uma boa pronúncia. Já o adulto que entra em um curso para aprender um novo idioma tem mais dificuldade por ter de usar várias interfaces do cérebro”, afirma Eloísa.

Certeza absoluta, por enquanto, só há a de que a exposição a outra língua não faz mal. É como se, por algumas horas na semana, os recém-nascidos brincassem ao som de um idioma menos familiar. E as lições se desenrolam com tanta brincadeira que em algum momento a expectativa é atendida: o que a princípio é ‘grego’ para os bebês vai sendo transformado em segunda língua.

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