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Alunos que participaram de conflito na UFSC são investigados pela PF por vandalismo em protestos de rua

Investigação já identificou 25 estudantes, entre eles um aluno que recebe bolsa de 522 reais para estudar na instituição federal

Por Bianca Bibiano, de Florianópolis
8 abr 2014, 17h29

Entenda o conflito na UFSC Em 25 de março, cinco policiais federais foram ao campus da UFSC para investigar uma denúncia de tráfico de drogas acompanhados da segurança oficial do Campus. Segundo Clyton Eustáquio Xavier, superintendente da Polícia Federal no Estado, a ação fazia parte de um acordo assinado entre a reitoria e a PF em 2013 para combater ações criminosas na universidade. Durante a operação, cinco pessoas foram detidas por consumo de maconha. A ação da PF, entretanto, foi barrada por um grupo de estudantes liderados pela professora Sônia Maluf. A docente sentou no carro para impedir a saída da PF do local e incitou os estudantes a fazer o mesmo. Sônia ainda tentou, em vão, negociar com os policiais para que o jovem detido fosse levado por ela para a delegacia. Após duas horas de negociação, o grupo começou a quebrar os vidros da viatura para resgatar o estudante. A PF chamou reforço da Tropa de Choque, que entrou no Campus com cerca de dez policiais e, com bombas de efeito moral e balas de borracha, dispersou os baderneiros. Após o conflito, cerca de 200 estudantes invadiram a reitoria em protesto e exigiram a proibição da polícia no Campus.

Um grupo de 25 estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está sendo investigado por envolvimento em atos de vandalismo em Florianópolis, segundo declaração da Polícia Federal no Estado ao site de VEJA. De acordo com o delegado Thiago Monjardim, esses alunos participaram ativamente do conflito com a polícia no dia 25 de março, quando uma operação da PF para investigar tráfico de drogas na universidade terminou com quatro feridos e cinco presos (leia mais no quadro ao lado). “Há fortes indícios que relacionam esses alunos da UFSC com atos de depredação em protestos de rua”, declarou Monjardim.

Entre os investigados, a PF já identificou um aluno do curso de geografia que vive na moradia estudantil da UFSC e recebe 522 reais mensais pelo programa de bolsa permanência da universidade – dado a alunos de baixa renda. O jovem, que não pode ter o nome divulgado durante o andamento das investigações, tem papel ativo na universidade, especialmente no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH).

O CFH abriga dez cursos de graduação e é famoso na universidade por ter estudantes ligados a movimentos de esquerda. O complexo de prédios fica ao lado do bosque, onde funciona o núcleo infantil e os colégios de aplicação, mas ficou mais conhecido nacionalmente por ser palco do conflito entre a polícia e os estudantes. Ali, alunos e visitantes se reúnem para fumar maconha – prática considerada “normal” pela reitoria. A reportagem flagrou ao menos vinte pessoas consumindo a droga durante os horários de aula.

É nesse cenário que o aluno de geografia investigado pela PF organiza eventos em prol de movimentos sem terra e propaga a ideologia do marxismo. Também é um dos responsáveis por organizar reuniões de alunos bolsistas, nas quais critica o baixo valor do benefício e a contrapartida de 20 horas de trabalhos semanais. Em junho do ano passado, um dia após uma reunião desse grupo, a UFSC aderiu ao programa nacional de bolsas oferecido pelo Ministério da Educação e extinguiu a contrapartida que era exigida pelo antigo edital.

Outros dois estudantes bolsistas estão na lista da PF. Um deles foi identificado como líder da invasão à reitoria e está sendo investigado juntamente com outra estudante, também de geografia, por ter atuado em um protesto de rua em janeiro, que deixou policiais e manifestantes feridos. A PF não descarta a ligação dos três jovens com grupos de black blocs e partidos políticos.

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A suspeita do envolvimento de estudantes com grupos alheios à universidade foi levantada após a divulgação de um vídeo gravado por uma rede de TV local durante a ocupação da reitoria. Na gravação, um homem aparece usando um rádio walkie-talkie para controlar o acesso ao prédio invadido. Segundo a PF, ele não pertence à UFSC e estaria ligado diretamente à invasão de um terreno na rodovia SC-401 por membros do Movimento sem Terra (MST).

Um aluno de filosofia, que não quis se identificar por medo de represálias, também afirma ter identificado alunos com camisetas do grupo União da Juventude Comunista (UJC), vinculado ao PCB, e também do PSTU no dia do conflito. “Eles estavam passando de sala em sala pedindo para que os alunos apoiassem a invasão à reitoria”, declarou.

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Doutrina – Segundo professores, a presença de membros de partidos políticos é comum na universidade. “Isso acontece em todas as instituições, é normal e saudável que manifestem suas ideologias. O problema é que eles querem impor seu discurso e sobrepor seus interesses ao objetivo principal da universidade, que é prezar pela excelência”, afirmou Paulo Philippi, docente do departamento de engenharia mecânica.

Para Philippi, o apoio da reitora Roselane Neckel aos alunos invasores e a crítica aberta à ação da polícia colaborou para “manchar a imagem da UFSC”. “Ela se mostrou favorável a pedidos como liberação de festas no Campus e atendeu prontamente ao pedido de aumento da bolsa auxílio, publicando um edital no dia seguinte do conflito. Mas em momento algum criticou o uso de drogas por esses estudantes”, afirma.

De acordo com o professor de filosofia Décio Krause, a manifestação dos grupos de esquerda na universidade atrapalha a rotina dos estudantes e beira a doutrinação. “Recentemente, uma assembleia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas votou pela proibição de empresas juniores, núcleos fundamentais para o desenvolvimento acadêmico dos estudantes. O único argumento usado era o de que a empresa júnior não é democrática.” A decisão foi revogada no início deste ano, mas ainda há cartazes pelo Campus contra a atividade.

A reportagem tentou entrar em contato com o diretor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Paulo Pinheiro Machado, e com a vice-diretora Sônia Maluf, ambos apontados pela PF como pivôs do conflito na universidade. Porém, mesmo com entrevista agendada, os docentes se recusaram a falar com o site de VEJA sob o argumento de que a “universidade vive um clima de ódio”.

A reitora também não recebeu a reportagem. Segundo a assessoria de imprensa, a representante da UFSC estava em viagem e não autorizou nenhum de seus substitutos a conceder entrevistas. O chefe do departamento de segurança do Campus, Leandro Oliveira, que acompanhou a ação da PF, também não foi autorizado a falar sobre o conflito.

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