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Tênis da corrida pode ficar ainda mais caro a partir de julho

Após sobretaxar sapatos fabricados na China, governo estuda estender a medida para importações do Vietnã, Malásia, Indonésia e Hong Kong. Quem paga o preço? O consumidor, claro

Por Carolina Guerra
23 abr 2011, 10h54

“Já existe uma infinidade de taxas que encarecem o calçado. Se a ideia é incentivar a indústria nacional, melhor investir em tecnologia, e não em algo que recaia sobre o consumidor” – Marcio Utsch, presidente da Alpargatas

Quem viaja muito aos Estados Unidos já aprendeu a lição: vale sempre a pena dar uma olhada nos preços dos tênis, onde, quase que via de regra, podem custar menos da metade do que é cobrado no Brasil (veja quadro). Agora o que já era caro, pode ficar ainda mais. O governo estuda uma medida para sobretaxar calçados importados do Vietnã, Malásia, Indonésia e Hong Kong. Com o produto da China, isso já ocorre. Além dos 35% de imposto de importação – a alíquota máxima permitida pela Organização Mundial de Comércio (OMC) -, é cobrada sobre cada par que vem de lá uma sobretaxa de 13,85 dólares. A medida afeta todos os tipos de calçado, com pouquíssimas exceções para itens específicos, como produtos para prática de esqui e surfe na neve e para uso médico-hospitalar, entre outros.

Mais uma vez o pleito é da Associação Brasileira de Calçados (Abicalçados). A instituição afirma que, para driblar a sobretaxa sobre os produtos chineses, as indústrias têm feito a chamada triangulação. Trata-se da estratégia de usar partes de tênis provenientes da China e somente montá-los em outra nação da região, que assim exportaria o produto final com valores mais baixos. “Acreditamos que haja triangulação, pois logo após a aplicação da taxa aos calçados chineses, o mercado de calçados da Malásia aumentou”, afirma Admar Schievelbein, consultor de assuntos internacionais da Abicalçados.

O tributo adicional sobre as importações chinesas já havia sido pedido pela Associação em março do ano passado, quando foi registrada uma queixa junto ao governo federal de que tais produtos entravam no país com preços mais baixos que os do mercado de origem – o que configuraria ‘dumping’. A prática estaria prejudicando a indústria nacional. O governo assentiu e a sobretaxa foi aprovada nas importações de calçados chineses pelos próximos cinco anos.

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Agora, os produtos importados do Vietnã, Malásia, Indonésia e Hong Kong também correm o risco de pagar a taxa antidumping de 13,85 dólares. Segundo a assessoria da Abicalçados, o pedido foi enviado em janeiro. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) – composta pelos titulares de seis ministérios, entre os quais Fernando Pimentel, do Desenvolvimentno, e Guido Mantega, da Fazenda – tem agora até julho para tomar uma decisão. Se a medida for aprovada, tênis importados como o Air Max 2011 e o Gel Nimbus 12 (veja quadro), produzidos na Malásia e na Indonésia, ficarão ainda mais caros.

info tênis
info tênis (VEJA)

Consumidor é quem perde – Em reação a essas medidas, grandes empresas do segmento de material esportivo estrangeiras – Nike, Adidas, Puma, Asics, New Balance e Sketchers – e nacionais – Penalty/Cambucy e Alpargatas, que é dona das marcas Rainha e Topper, além de representar a Mizuno no país – uniram-se em setembro de 2010 no Movimento para Livre Escolha (Move). A entidade rivaliza com a Abicalçados na questão referente às taxas cobradas nos calçados esportivos de alta tecnologia. Enquanto a associação do setor quer proteger os interesses da indústria brasileira, o Move afirma ser a favor de oferecer ao consumidor um produto de alta qualidade e tecnologia, por um preço mais justo. “Ao importar um calçado, já estamos expostos a uma quantidade de impostos que beira o absurdo. Ações como essa, de proteção ao mercado dificultam as operações e, é claro, encarecem o produto”, aponta Gumercindo Neto, diretor executivo do Move.

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A entidade que reúne as importadoras ressalta que não é contrária a uma investigação de dumping. A reclamação, nesse caso, é que o governo apenas atendeu a um pedido da Abicalçados, sem levar em conta o impacto para o consumidor. Além disso, o pleito da associação teria sido demasiadamente abrangente, envolvendo produtos os mais diferentes. O Move ressalta que a indústria brasileira é competitiva em uma série de artigos do setor calçadista. Não seria à toa, portanto, que se destaca enquanto um importante exportador. Muitas linhas de produtos de suas associadas são, inclusive, fabricados no país. Por outro lado, diz o Move, o Brasil não tem escala e tecnologia para concorrer com as asiáticas no segmento de ‘alta performance’. Por fim, a entidade e alguns especialistas do setor avaliam que a China e seus pares do Sudeste asiático não praticam no exterior preços inferiores aos de seus mercados domésticos. “Não acredito que exista dumping neste caso”, afirma Dirceu Antonio Marques, professor da escola de negócios Trevisan.

Única beneficiada: a Vulcabrás – Mesmo que esse seja o caso, especialistas indicam que a atitude mais acertada seria apelar para os meios legais, e não simplesmente infringir outra sobretaxação. Apesar de a medida envolver outros tipos de calçados, a briga se dá mesmo no campo dos tênis. “Não há dumping nenhum na história. A medida foi única e exclusivamente tomada para proteger o mercado nacional. A única empresa que se beneficia disso é a Vulcabrás, que produz tênis no Brasil, e toma uma posição, através da Abicalçados, de quem quer fechar o mercado”, afirma uma fonte ligada ao caso.

O presidente da Vulcabrás – que detém as marcas Azaleia e Olympikus e os direitos da Reebok no país – é o executivo Milton Cardoso, que também preside a associação. Ironicamente, procurado pela reportagem, o empresário estava na Índia, onde a Vulcabrás acaba de comprar uma fábrica para produzir cabedais (a parte do tênis que recobre o pé) – ou seja, o mesmo empresário que pleiteia medidas de proteção de mercado junto ao governo resolve investir em uma produção na Ásia, porém, sabiamente, em um país que não há risco de restrições.

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“O consumidor tem o direito de comprar os melhores produtos pelo melhor preço possível”, disse Marcio Utsch, presidente da Alpargatas. “Já existe uma infinidade de taxas que encarecem o calçado. Se a ideia é incentivar a indústria nacional, melhor investir em tecnologia, e não em algo que recaia sobre o consumidor”, completa. Ao fim, quem paga pela briga é mesmo quem compra tênis, em especial os praticantes de corrida, que, por recomendações médicas, devem trocar de tênis a cada três ou quatro meses para evitar lesões ao se exercitar.

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