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Sete anos depois do boom da Bolsa, pequenos investidores fogem do mercado de ações

A bolsa de valores planejava atrair milhares de pessoas físicas para o mercado acionário. Só não contava com o mau desempenho da economia brasileira e com empresas-vitrine, como a Petrobras, que passaram a espantar mais do que atrair

Por Naiara Infante Bertão
22 fev 2014, 13h53

Os sinais de superaquecimento da economia brasileira começaram a aparecer há quatro anos, mas nada parecia ser capaz de tirar do Brasil o posto de queridinho entre os países emergentes. Naquele período, a BM&Bovespa traçou estimativas ousadas para o mercado de ações: previa que, em 2015, cinco milhões de brasileiros teriam parte de sua poupança investida na bolsa. Como até o mais pessimista dos oráculos jamais arriscaria dizer que, antes desse prazo, o Brasil figuraria no grupo de economias ‘vulneráveis’, a projeção da bolsa não parecia tão descolada da realidade. Contudo, conforme a situação econômica do país se deteriorou em diversas frentes – com destaque para a piora fiscal e monetária – a bolsa teve de arcar com uma parte do prejuízo. Não só o número de ofertas públicas de ações minguou, mas também as pessoas físicas não se mostraram muito dispostas a colocar seu dinheiro em risco. Hoje, apenas 590 mil brasileiros têm ações em bolsa. A BM&FBovespa já deixou aquela meta inicial de lado, postergando-a para 2018. E, diante do cenário pouco animador, uma nova revisão pode estar por vir.

Em 2007, as empresas que abriram capital na bolsa amealharam nada menos que 28,8 bilhões de reais, enquanto o Ibovespa atingia patamares nunca registrados até então, como os 63 mil pontos no encerramento daquele ano. À época, cerca de 450 mil pessoas físicas participavam desse movimento. A Bovespa (que ainda não havia se unido à BM&F, a bolsa de mercados futuros) aproveitou a maré alta para implementar programas de estímulo ao investimento de longo prazo para pessoas físicas que não conheciam muitas opções de aplicação além da caderneta de poupança. Em sete anos, o número de investidores cresceu apenas 30%, enquanto o Ibovespa vem renovando suas baixas. Nos últimos meses, foram poucas as vezes que o índice ultrapassou 50 mil pontos. Na sexta-feira, 21, fechou em 47.380. Em seu pico, maio de 2008, chegou a 73,5 mil pontos.

Acertou quem investiu antes da crise financeira e, principalmente, conseguiu realizar o lucro antes da onda de queda das ações. “É muito difícil convencer um cliente a comprar ações em um momento que elas estão caindo. É muito mais fácil ele comprar em um momento de alta, na euforia”, explica Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos. O Ibovespa recuou 15,5% em 2013.

Atrair pessoas físicas para o mercado de ações não é tarefa fácil – nem mesmo com Pelé como garoto-propaganda, como fez a bolsa em campanha veiculada em 2010. Poucos possuem sangue frio suficiente para assistir, inertes, à queda de suas aplicações. Um dos motivos que mais prejudicou a atratividade do mercado para brasileiros, segundo o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, foi a queda das ações da Petrobras. A estatal está presente em 90% das carteiras dos investidores pessoa física. “O investidor brasileiro tem perfil conservador e muitos usavam o fundo de garantia para comprar participações na Petro (Petrobras) ou Vale”, afirma. As ações ordinárias da petroleira caíram 70% entre maio de 2008 e o fechamento desta quinta-feira. O valor de mercado da empresa neste intervalo despencou 65%, ou seja, os investidores perderam 331 bilhões de reais. As perdas são explicadas, em parte, pela política do governo de impedir o reajuste do preço da gasolina e impor à estatal altos custos para subsidiar as oscilações de petróleo no mercado internacional.

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Outro setor que atraía as pessoas físicas era o de empresas elétricas, conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos e com pouca volatilidade. Esse cenário, porém, mudou completamente em 2012, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou as novas regras para o setor. O valor de mercado das empresas elétricas de capital aberto despencou 27% de setembro daquele ano até meados de fevereiro, segundo levantamento da consultoria Economatica. Há ainda a derrocada das empresas do grupo EBX, de Eike Batista, que também colocou em xeque a credibilidade das ofertas e das companhias listadas, ainda que tenha sido caso pontual.

O contexto econômico afetou o interesse das empresas em abrir capital. “A redução do número de IPOs, dentro da situação macroeconômica, também prejudicou. A abertura de capital de uma nova empresa atrai até 100 mil novos acionistas à bolsa”, afirmou Edemir Pinto. Depois da bonança que teve como auge o ano de 2010, veio a ressaca. Em 2011, houve apenas duas ofertas de ações de 904 milhões de reais. Em 2012, foram apenas 332 milhões de reais. Houve alguma recuperação em 2013 graças à abertura de capital da empresa de milhagens Smiles, da Gol, que ajudou a elevar o valor captado para 3,563 bilhões de reais.. “O que poderia fazer o mercado voltar seria a abertura de capital de novas empresas que estão nascendo e sejam atraentes, como aconteceu com o Google e Facebook”, afirma Flávio Conde, da Gradual Investimentos.

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Baixa poupança – Uma pesquisa recente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostrou que 80% dos brasileiros não controlam suas finanças e apenas 18% têm um bom conhecimento quando o assunto é finanças pessoais. Num país ainda carente por educação em geral, em especial financeira, a BM&FBovespa e as corretoras de valores tentam promover cursos, palestras, seminários e eventos. O Instituto Educacional BM&FBovespa possui planos de curto, médio e longo prazos para diversos públicos e faixas de renda.

Em paralelo, a Bolsa deu início, no fim do ano passado, a um programa junto às corretoras que oferece crédito por novo investidor pessoa física que aderir à bolsa.. As corretoras, por sua vez, podem usar esses créditos para abater tarifas que tenham de pagar à bolsa. Hoje, 26 corretoras já apresentaram seu plano para atrair pessoas físicas. “Estamos dividindo uma receita que ainda não temos, porque é um cliente novo, e reconhecendo que a corretora tem papel importante no processo de atração de novos investidores”, afirma o diretor de Produtos e de Relações com Investidores da BM&FBovespa, Eduardo Refinetti Guardia.

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