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Seca nos EUA revive lembranças das perdas de 1988 nas lavouras

Por Da Redação
28 jun 2012, 18h07

CHICAGO, 28 Jun (Reuters) – Apenas um ano atrás, o agricultor norte-americano Jeff Scates presenciou a pior inundação, desde 1937, que as terras de sua família em Illinois já sofreram. Atualmente, Scates observa suas plantações de milho murcharem na temporada mais seca dos últimos 24 anos.

“Nós fomos de um extremo a outro, de uma inundação em três quartos da fazenda para uma seca”, disse Jeff, de 42 anos, que com seus familiares cultiva 15 mil acres de milho, soja e outras culturas ao longo da fronteira entre os Estados de Kentucky e Indiana, onde os rios Ohio e Wabash se encontram.

Scates disse que sua lavoura de milho ainda está em melhores condições do que a de seus vizinhos, que cultivam em solos mais arenosos, que não retêm tanta umidade. A umidade é necessária para desenvolver um forte sistema de raízes, que sustentarão as plantas durante os meses mais quentes de julho e agosto.

Ele diz que essa temporada de crescimento o faz lembrar o verão de 1988, quando o cinturão central do milho teve perdas significativas. As condições dos campos eram de seca e calor, no início da primavera nos EUA, parecido com o que aconteceu 24 anos atrás, quando as lavouras locais, especialmente do milho, foram prejudicadas pela falta das chuvas de verão.

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“Claramente é uma dessas secas desagradáveis. Se não ultrapassar a de 1988, ela certamente vai chegar perto, ou vai ser classificada como uma das chamadas ‘grandes secas’ dos últimos 30 anos”, disse Bob Nielsen, agrônomo da Universidade de Purde, que atuou como consultor de safras para os agricultores de Indiana em 1988.

Os preços do milho subiram 17 por cento neste mês enquanto, dia após dia, o clima quente e seco persiste no coração do meio-oeste, onde Iowa e Illinois sozinhos produzem um terço de toda a produção norte-americana de milho e soja.

Os mercados estão superaquecidos, enquanto aumentam as preocupações de que os Estados Unidos, maior exportador mundial dessas duas culturas, seriam atingidos por perdas nas lavouras. Isso não só causaria impacto nos orçamentos do governo norte-americano e das seguradoras pelos pagamentos dos seguros das plantações, como também estimularia uma nova rodada de inflação mundial dos preços dos alimentos, dizem especialistas.

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No momento, as preocupações estão concentradas no milho, que é plantado antes da soja, e está começando a entrar em seu mais importante estágio de crescimento, a polinização -período em que a planta do milho começa a produzir seus grãos. No Meio-Oeste, a polinização vai estar em andamento pelas próximas quatro semanas. Existe uma relação direta entre a polinização e os rendimentos finais, sendo a umidade e a quantidade de calor que a planta recebe fatores determinantes para o sucesso da polinização.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na segunda-feira, avaliou que apenas 56 por cento das lavouras de milho estão ótimas/excelentes, a classificação mais baixa da categoria desde o final de junho de 1988. Naquele ano, os produtores americanos produziram apenas 4,9 bilhões de bushels de milho, 33 por cento abaixo das expectativas do governo para o início da safra, de 7,3 bilhões de bushels.

Atualmente, o USDA está com previsões de uma safra recorde de milho, de 14,8 bilhões de bushels para 2012. Essa estimativa foi feira em 12 de junho, antes das últimos danos causados pela seca.

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Dentre os Estados do Meio-Oeste mais fortemente atingidos pela seca, no momento, estão Illinois e Indiana, que ocupam o segundo e o quinto lugar, respectivamente, na produção de milho. Atualmente, em cada um dos Estado, menos de 40 por cento da safra de milho novo está sendo classificado como estando em condições de ótimas a excelentes.

Contrabalanceando esse cenário de preocupação generalizada com a produção norte-americana, estão as plantações mais bem classificadas de outras áreas importantes do Meio-Oeste, incluindo os importantes Estados produtores Iowa e Minesota, que recentemente receberam chuvas, e Nebraska, onde cerca de 40 por cento da lavoura de milho é irrigada.

Nielsen disse que 2012 está se tornando “a tempestade perfeita” para o Estado de Indiana, que vai ameaçar a safra de milho deste ano. A preocupação atual do agrônomo é que a persistente seca combinada com previsões de calor extremo e pouca umidade para os próximos sete a dez dias, prejudique a fase de polinização do milho de Indiana.

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O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos está prevendo temperaturas acima do normal e precipitações abaixo do normal para os próximos seis a dez dias de Ohio a Nebraska, até o sul do Missouri. A temperatura máxima registrada na quarta-feira foi de 100 Fahrenheit (37,7 graus Celsius) em Des Moine, Iowa, 102 fahrenheit em Omaha (38,8 graus Celsius); e 93 Fahrenheit em Champaign, Illinois (33,3 graus Celsius).

VERÃO DE 1988 VERSUS 2012

Analistas dizem que, apesar dos medos serem similares nos dois anos, 2012 está longe de ser uma cópia exata de 1988. As condições do tempo, por exemplo, estavam muito mais secas em 1988 em comparação com 2012, e com isso os danos causados às plantações aconteceram mais cedo no ciclo do milho.

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Este ano, as condições de extrema seca atingem até o momento uma porção muito menor do cinturão, especialmente no extremo sul de Indiana e Illinois, e no sudoeste do Missouri. Atualmente, estas áreas sofrem com o mesmo déficit de chuvas registrado em 1988. As chuvas de julho serão cruciais para definir o destino da safra de milho: em 1988, as chuvas da primavera até o início do verão foi de 8 a 10 polegadas abaixo do normal, de acordo com o Centro Climático do Meio-Oeste.

O calor também é um fator importante, uma vez que a planta do milho para de crescer quando as temperaturas ultrapassam os 90 Fahrenheit (32,2 graus celsius). Até agora, 2012 tem sido mais quente do que 1988 em uma grande faixa do Meio-Oeste. A temperatura média de Indiana de abril a junho deste ano, por exemplo, foi quase dois graus mais alta que em 1988.

“Isso não quer dizer que as condições não podem se tornar tão sérias quanto elas foram em 1988”, disse Elwynn Taylor, climatologista da Iowa State University. “É só que a maior parte do dano à lavoura de milho de 1988 foi causada no período de maio a junho. Este ano, junho vai terminar com a maior parte da colheita avaliada como estando em boas condições”.

(Reportagem de Christine Stebbins)

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