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Risco dos EUA cresce, mas calote é hipótese remota

Com recorde de endividamento público, os Estados Unidos ainda assim não são candidatos a um ‘default’. Contudo, sem uma solução para os problemas estruturais, seu prêmio de risco tende a seguir em alta

Por Ana Clara Costa
17 Maio 2011, 07h39

A cada semana que passa, os indicadores de risco de ‘default’ (não pagamento de um dívida) dos títulos dos governos dos Estados Unidos e do Brasil aproximam-se mais (veja quadro). Do lado dos Estados Unidos, historicamente o porto seguro dos investidores internacionais, o prêmio de risco subiu de 0,03% em 2008 para 0,49% em 2011. Ou seja, os americanos estão pagando um prêmio maior para quem compra seus títulos. Essa taxa é medida, entre outras formas, pelos ‘credit default swaps’ (CDS), um papel que funciona como uma espécie de seguro contra o calote de uma dívida. No mesmo período, o prêmio de risco dos títulos brasileiros caiu de 1,07% para 1,01%. É fato que poucas vezes essa diferença esteve tão baixa, mas nada indica que a confiança na economia americana esteja se equiparando a de um país emergente. Analistas ouvidos pelo site de VEJA apontam, inclusive, que a probabilidade de um calote da dívida dos Estados Unidos é remota e que essa discussão tem maior potencial para a cobertura política na imprensa do que propriamente econômica. O foco daqui para frente serão o pedido da Casa Branca de elevação do limite de endividamento e as condições a serem impostas pelo Congresso para garantir a aprovação. Na prática, não será desta vez que os EUA deixarão de ser vistos como um investimento sólido e de risco baixo.

Em abril, a agência de avaliação de risco Standard & Poors mudou a perspectiva de risco de crédito de longo prazo dos EUA de ‘estável’ para ‘negativa’, o que sinaliza que poderá piorar a nota americana. O mercado, no entanto, não se abalou. “Essa classificação refere-se mais ao perigo fiscal, pelo fato de não haver um plano concreto de redução do déficit público, do que a um eventual risco de a economia americana quebrar”, afirma Cristiano Souza, economista do Santander.

O dado, apesar de deixar analistas em alerta, tampouco significa que os Estados Unidos estejam próximos do famigerado “calote” da dívida – tema que ganhou relevância na segunda-feira devido ao fato de o país ter atingido o limite máximo de endividamento, de 14,3 trilhões de dólares. Na avaliação de economistas ouvidos pelo site de VEJA, o cenário de default está fora de cogitação. “Eles irão aumentar o teto da dívida e continuar rolando o valor, como sempre fizeram”, explica o economista Edward Meir, da gestora americana MF Global.

Teto da dívida – O fato de expandir o limite máximo de endividamento não é assunto novo para o Congresso dos EUA. Entre 1980 e 2011, o ‘teto’ da dívida americana foi atingido 47 vezes e, em todos esses episódios, o limite foi elevado para que ela pudesse voltar a crescer. A última vez que isso ocorreu foi em 2008, quando o valor foi acrescido em 800 bilhões de dólares. Em entrevista à Bloomberg, a senadora republicana Olympia Snowe afirmou tratar-se de uma rotina de votos corriqueira. “Votei sete vezes contra o aumento do limite no governo de um presidente democrata, e cinco vezes a favor durante um governo republicano”, afirmou.

Vale recordar que o próprio presidente Barack Obama, quando era senador pelo estado de Illinois, votou contra a elevação do teto em 2006. Em seu discurso, Obama foi incisivo. “O fato de estarmos aqui hoje para debater o aumento do limite de endividamento do país é um sinal de falha de liderança. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não consegue pagar suas próprias contas”, afirmou na época. No início de 2011, ao defender o novo aumento do limite máximo da dívida, Obama reconheceu que sua opinião de cinco anos atrás teria sido um erro.

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Questão política – Aumentar ou não o endividamento do país é uma briga antiga entre governo e oposição nos Estados Unidos. O governo sempre defende a expansão do limite e a oposição geralmente se posiciona contra. Neste ano, para conseguir os votos republicanos necessários à aprovação do aumento, o governo é pressionado a ceder em questões relacionadas a cortes de gastos e, provavelmente, repetir a briga ocorrida em abril na aprovação do orçamento do ano. “O embate ocorre porque os republicanos acreditam que expandir o limite da dívida poderá afetar a percepção de solvência em relação à economia americana”, afirma Souza, do banco Santander.

Providências do Tesouro – Para garantir a rolagem da dívida e, enquanto não se aprova um novo teto para ela, o Departamento do Tesouro deixará temporariamente de fazer depósitos nos fundos de pensão dos funcionários públicos. Tais medidas, no entanto, não terão quaisquer consequências sobre o pagamento das aposentadorias. Segundo o Tesouro, tais ações proporcionarão uma margem de 224 bilhões de dólares, o que lhe permitirá continuar a emitir títulos da dívida, segundo o calendário previsto, até 2 de agosto, sem aumentar seu endividamento líquido. Sendo assim, o Congresso terá mais alguns meses para votar a definição de um novo teto.

Medidas paliativas a parte, o fato é que os americanos estão longe de chegar num acordo sobre como resolver o problema de seu déficit fiscal no longo prazo. Republicanos e democratas têm propostas que, não raro, são o oposto uma da outra. Diante deste quadro, e de uma economia que apresenta sinais duvidosos de recuperação, a percepção de risco dos investidores deve seguir em alta. Por outro lado, a economia brasileira prossegue com bons indicadores – ainda mais com o respaldo de mais de 300 bilhões de dólares em reservas no exterior -, o que faz com que, pouco a pouco, arrefeça a percepção de risco sobre o país. Logo, a diferença de risco entre os dois países tem tudo para continuar em queda.

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