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Retomada do crescimento não dependerá apenas de ajuste fiscal

Se o país não conseguir avançar em produtividade e melhora do ambiente regulatório, crescimento do PIB se manterá pífio, apontam especialistas

Por Luís Lima
28 nov 2014, 08h46

O crescimento de 0,1% da economia brasileira no terceiro trimestre não foi bem uma surpresa. Economistas já contabilizavam alguma retomada com base nos dados da produção industrial e do indicador do Banco Central que funciona como uma espécie de prévia do PIB, o IBC-BR. Contudo, para o ano, as previsões se mantêm: o PIB deve ficar muito próximo de zero. As chances de retomada estão na mesa da presidente Dilma Rousseff. Caberá a ela decidir se dará autonomia à sua recém-anunciada equipe econômica para empreender os ajustes necessários para que o país recobre parte de sua credibilidade e volte a atrair investimentos. Nesse sentido, o ajuste fiscal é ferramenta de primeira necessidade, mas não é a única. Será preciso maior recuo do Estado para estimular a produtividade e permitir que a curva de crescimento volte a subir.

Dois setores terão papel-chave em 2015: o de infraestrutura e o de energia. Atingidas pela Operação Lava Jato, as empreiteiras podem ser obstáculo importante para o crescimento do país, tendo em vista que comandam obras públicas em todos os estados – e em todos os segmentos de logística. “Na esteira dos escândalos, é possível que haja um encarecimento do capital para essas empresas”, afirma a economista Thaís Zara, da Rosenberg Associados.

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No setor de energia, não só a situação da Petrobras poderá ter impacto negativo sobre o desenrolar dos investimentos, como também o setor elétrico se mantém um ponto de alerta. As empresas do setor enfrentam sérias dificuldades para conseguir sanar suas dívidas com governos e geradoras, depois que a Medida Provisória 579, elaborada pela própria presidente, desequilibrou a relação de demanda e oferta do setor. Não só os preços aumentam para o consumidor – e devem subir ainda mais em 2015 – como a própria capacidade de abastecimento de energia do país está comprometida por causa da estiagem. “As medidas paliativas do governo não vão esconder por muito tempo o fato de que a oferta de energia corre sérios riscos de ser insuficiente. Tudo isso tende a gerar um acanhamento dos investimentos pelo menos até o primeiro semestre do ano que vem”, afirma Thaís.

Isso significa que não só a equipe econômica terá de dar sinais confiáveis ao mercado, como também a presidente deverá reavaliar medidas já implementadas, como o coeficiente de conteúdo nacional na indústria de óleo e gás, por exemplo. Se não o fizer, que pelo menos não anuncie novos pacotes que não tenham um benefício horizontal ao setor produtivo. Os novos ministros, na avaliação de especialistas, devem servir como conselheiros da presidente – mesmo que ela não seja lá muito adepta de conselhos, em especial os que contrariam sua opinião. “O time anunciado mostrou preocupação em cuidar do aspecto micro, do setor produtivo da economia”, celebra o economista do Insper, Otto Nogami. Para ele, a sinalização da equipe em relação ao problema inflacionário já dá bom alívio ao mercado. “A equipe mostrou uma atenção maior à oferta. À medida que se expandem as condições de produção, há ganhos de produtividade e se torna possível reduzir custos de produção. Assim, elimina-se o problema da inflação de custos. Esse é um ponto crucial que deve acompanhar o ajuste”, diz.

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A expectativa dos economistas é que 2015 será um ano de crescimento baixo, mas que será bem compreendido se o mau resultado vier acompanhado de ajustes. A tarefa do novo governo se assemelha, de certa forma, ao que ocorreu em 1999, quando veio a crise cambial na gestão de Fernando Henrique Cardoso, e em 2003, quando o governo Lula teve de trabalhar para recuperar a confiança dos investidores. “O crescimento demorará a aparecer, não só pelos equívocos de política interna, mas pelo cenário externo adverso, com muitos países crescendo pouco. Mas é bom ter alguém no governo como Joaquim Levy, que promova ajustes, do que alguém que insista no modelo errado”, afirma o economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto.

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