Relatório de 2013 já alertava governo sobre riscos das pedaladas
Documento elaborado por técnicos do Tesouro fazia um diagnóstico sobre a situação econômica do país e citava, inclusive, o risco de rebaixamento
Um relatório de 97 páginas com o diagnóstico da situação econômica brasileira, elaborado em 2013, por técnicos do Tesouro Nacional, já alertava a cúpula do governo sobre os riscos das pedaladas fiscais. O documento, ao qual o jornal Valor Econômico teve acesso, citava, inclusive, o risco um rebaixamento da nota de crédito do país em até dois anos. Entre os fatores que agravava o cenário fiscal, o documento mencionava a contabilidade criativa que faria com que o governo tivesse um passivo de 41 bilhões de reais até o fim de 2015.
Em uma versão revisada, de setembro de 2013, o baixo caixa do Tesouro foi citado como “risco para 2014”. Os técnicos do Tesouro recomendavam, então, “interromper imediatamente quaisquer operações que produzam resultado primário em a contrapartida de contração da demanda agregada”.
Finalizado em novembro daquele ano, o trabalho foi apresentado a Arno Augustin, então secretário do Tesouro. Com linguagem mais suave e de fácil compreensão, o estudo de 97 páginas foi resumido em 16 slides, mas o documento foi considerado um ato de rebelião dos escalões inferiores pela cúpula do Ministério da Fazenda.
Dois anos se passaram e o rebaixamento da nota do Brasil ao grau especulativo foi anunciado pela Standard & Poor’s (S&P), principal agência de avaliação de risco soberano, em setembro. Um novo rebaixamento pode ocorrer em até três meses, já que a Moody’s colocou em revisão o rating do país.
O descrédito da política fiscal passou a ser considerado um dos principais fatores responsáveis pela recessão de mais de 3% projetada para 2015. As pedaladas fiscais foram reprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e alimentam a crise política enfrentada por Dilma – que enfrenta agora a abertura de um processo de impeachment.
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(Da redação)