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Rapidez da valorização do dólar preocupa, diz Azevêdo

Diretor-geral da OMC, o diplomata brasileiro afirmou que a oscilação da moeda americana atrapalha as negociações comerciais

Por Naiara Infante Bertão
20 jun 2013, 17h26

O embaixador brasileiro e recém-eleito diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse nesta quinta-feira que a valorização do dólar ante as demais moedas globais, sobretudo o real, atrapalha as negociações comerciais. “O mais preocupante não é a elevação do dólar, é a velocidade dessas oscilações cambiais. As oscilações cambiais estão ganhando velocidade de apreciação e depreciação extraordinária”, disse, em evento promovido pelo Valor Econômico em São Paulo. “Isso muda a dinâmica do mundo comercial, que não tem instrumentos de negociação para lidar com isso (oscilações bruscas)”, completou.

Azevêdo afirmou que a questão cambial teve participação no motivo do fracasso das negociações comerciais entre Mercosul e União Europeia em 2008, quando o dólar disparou. Naquele momento, os países não conseguiam avançar nas conversas porque não tinham como prever em qual patamar a moeda estaria. “A taxa de câmbio disparou e isso foi difícil de ser digerido até pelo setor privado e o governo”, disse. Azevêdo também comentou que os empresários brasileiros estão preocupados com o impacto da oscilação cambial e já se reúnem para discutir o cenário.

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Sobre a estratégia de alguns países – como o Brasil – de desvalorizar suas moedas para ajudar a mitigar os efeitos da falta de competitividade, Azevêdo admitiu que o estabelecimento de parâmetros de oscilação cambial é uma alternativa legítima. “Acho difícil uma taxa cambial livremente oscilante. A taxa de câmbio é flutuante dentro de certos limites, que são estabelecidos de governo a governo. A partir de determinado momento, os governos agem”, disse. “Se isso pode ser chamado de guerra cambial, eu não sei, mas acho que não teremos nada como tivemos nos anos 80.” Contudo, ele foi enfático em dizer que a OMC não tem competência nem jurisdição para tratar de todos os temas, em especial este.

O embaixador foi eleito em maio o novo diretor-geral da OMC com o desafio de retomar a rodada Doha e estabelecer graus mais elevados de multilateralismo comercial. Engenheiro eletricista formado pela Universidade de Brasília (UnB) e profissional de Relações Internacionais pelo Instituto Rio Branco, Azevêdo traçou carreira diplomática no Brasil e no exterior. Começou no Itamaraty, em 1984, e participou, em 2001, da criação da Coordenadoria Geral de Litígios do Ministério das Relações Exteriores, que dirigiu por quatro anos. Em 2005, ele se tornou o chefe do departamento econômico do Ministério e, de 2006 a 2008, foi subsecretário geral de assuntos econômicos.

Desde 2008, o diplomata representa o Brasil na OMC e foi chefe de delegação em litígios importantes vencidos pelo país na organização, como nos casos dos subsídios ao algodão contra os Estados Unidos e ao açúcar contra a União Europeia. Ele participou de quase todas as conferências ministeriais desde o lançamento, em 2001, das negociações de Doha sobre a liberalização do comércio mundial e se apresenta como um conhecedor nato dos processos da organização, além de ter um bom trânsito entre os países-membros.

Multilateralismo – No evento na capital paulista, Azevêdo adotou um tom moderado no discurso e disse claramente que o multilateralismo é sistema ideal, mas que a organização terá de trabalhar com o que há de mais viável num primeiro momento. “Com um desafio dessa magnitude para a OMC, temos de dar passos manobráveis e administráveis”, afirmou.

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O primeiro grande desafio do embaixador, que assume a liderança da organização em 1º de setembro, será em dezembro, na IX Conferência Ministerial da OMC em Bali, na Indonésia. Em tom otimista, ele afirmou que o clima em Genebra, sede da OMC, não é dos melhores em relação ao andamento da rodada Doha, mas que isso “não é impossível”. “Se tivermos algum resultado positivo em Bali ganharemos duplamente: primeiro do ponto de vista substantivo, com resultados positivos das negociações, mas também do ponto de vista emotivo, teremos a sensação de que é possível e isso nos daria mais força para continuar tentando (as ações multilaterais)”, enfatiza, mas sem comentar quais seriam os acordos que teriam chance de dar certo neste primeiro momento.

Ele também deixou claro que o multilateralismo beneficia, em especial, países emergentes e os pequenos, porque tira distorções do comércio exterior, estabelece parâmetros claros e torna o processo menos custoso e mais previsível. “Não tenho a menor dúvida de que o sistema multilateral tenha um valor enorme para países como o Brasil, traz previsibilidade, dita regras de comportamento, evita sistemas que tenham movimentos provocados por governos. Nós (emergentes) não temos cacife para mudar as regras do jogo de um dia para o outro. Isso vale para o Brasil, mas também para os países menores.”

Perguntado sobre o crescente número de acordos bilaterais e, especificamente, sobre a parceria comercial entre Estados Unidos e União Europeia, Azevêdo disse que isso só será um problema se esses acordos não puderem, posteriormente, ser incluídos na agenda multilateral. “Teremos de ver como vai avançar e o grau de ambição de cada um. Não é líquido e certo.” Se o acordo sair, contudo, ele diz que as diretrizes – sanitárias, comerciais, entre outras – poderão servir de padrão para outros países.

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