Trinta de abril de 2008 foi um dia memorável para o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi precisamente nesta data que o Brasil recebeu o título de bom pagador pela agência Standard & Poor’s. Na ocasião, Lula celebrou a conquista do grau de investimento dizendo que o país, a partir daquele momento, se tornava sério e reconhecido internacionalmente. “Eu não sei nem falar direito essa palavra (investment grade), mas, se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passamos a ser merecedores de uma confiança internacional que há muito tempo o país necessitava”, afirmou durante um evento em Maceió.
Os tempos eram outros: a economia brasileira avançou 5% em 2008, a inflação não passava do nível de 6%, e a taxa básica de juros (Selic) estava em 11,75%, em abril. Sete anos depois, esse cenário de crescimento econômico, calcado sobretudo no consumo, inverteu-se: a expectativa para 2015 é que o PIB encolha até 2%; que a inflação ultrapasse a barreira dos 9%, e que os juros permaneçam a cheguem a 14%. Não bastassem os números ruins, o governo ainda enfrenta forte resistência no Congresso para aprovar o pacote fiscal e sente os efeitos dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras. Não é por menos que a S&P decidiu alterar a perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para negativa, colocando-o a um degrau de perder o grau de investimento.
No final do seu discurso, Lula ainda disse se considerar um “presidente de sorte” por ter alcançado tal feito. “Quis Deus que fosse exatamente no momento em que um presidente de sorte assumisse a Presidência da República”, exclamou. Seguindo o seu raciocínio, será que Dilma Rousseff pode ser considerada uma presidente azarada? (Eduardo Gonçalves, de São Paulo)