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Progresso do IDH ocorre à custa do aquecimento global

De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, países com melhoria mais rápida do IDH também passam por um aumento mais célere das emissões de dióxido de carbono

Por Benedito Sverberi
2 nov 2011, 07h59

Nas próximas décadas, a degradação ambiental pode botar a perder parte das conquistas dos últimos quarenta anos no terreno do desenvolvimento

O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) referente a 2011, divulgado nesta quarta-feira em Copenhague, traz uma seção especial sobre os desafios que a melhoria dos indicadores de renda, educação e saúde no mundo impõem para o controle da degradação ambiental. O estudo – que se debruçou sobre um conjunto de quatorze indicadores para fazer sua análise, entre os quais o índice de desempenho ambiental – conclui que o progresso recente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem sido obtido à custa do aquecimento global.

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IDH e CO2 – A pesquisa identificou que, quando o rendimento médio de uma nação cresce, também aumentam as emissões de dióxido de carbono (CO2) – o gás carbônico, principal poluente do chamado efeito estufa. A renda é reflexo do vigor da economia, que, por sua vez, é traduzida pela aceleração das atividades de produção e distribuição de bens. Com um uso mais intensivo de energia e maior circulação de veículos, é natural que ocorra expansão das emissões deste poluente na atmosfera.

O relatório não identificou relação entre a evolução dos índices de saúde e educação com o dióxido de carbono. Já o crescimento do IDH – como é uma média ponderada destas três variáveis – revelou que tem como contrapartida a ampliação da poluição atmosférica. Esta correspondência não é muito clara entre os países de IDH baixo, mas acelera-se rapidamente a partir de um determinado patamar (que o Pnud denomina ponto de virada). A partir disso, a instituição conclui que mais importante que o impacto em si do desenvolvimento sobre a degradação ambiental é a velocidade em que este acontece. Em outras palavras, os países com melhoria do IDH mais rápida também passam por um aumento mais célere das emissões de CO2 per capita. O Pnud acrescenta que, diante desta constatação, o melhor guia para saber o que esperar do desenvolvimento atual é olhar para as mudanças ao longo do tempo.

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Outras ameaças ambientais – A forma com que as emissões de gás carbônico relacionam-se com a renda e o IDH não é a mesma verificada para outros indicadores de meio ambiente. Em resumo, há ameaças ambientais que aumentam com o desenvolvimento e outras não. Outra correlação positiva, segunda a pesquisa, foi encontrada apenas na devastação das florestas.

O relatório do Pnud chama a atenção ainda para um estudo de Barry B. Hughes e Randall Kuhn que mostra que as curvas entre o IDH e a poluição urbana e da água, bem como o acesso a saneamento, são em U invertido. Isso que significa que, à medida que o desenvolvimento aumenta, a degradação ambiental medida por esses itens piora gradativamente. Contudo, chega um momento em que a alta do IDH tem como contrapartida a melhoria destes desses indicadores. A explicação é intuitiva: os governos passam, à medida que os países enriquecem, a ser pressionados por suas populações a oferecerem ambientes mais limpos e saudáveis.

Desigualdade é má – Apelando a métodos que a pesquisa classifica como “quase experimentais”, foram identificadas algumas relações entre desigualdade e problemas ambientais. Um exemplo é a descoberta de que níveis mais elevados de desigualdade de gênero apontam para patamares mais baixos de sustentabilidade. Da mesma forma, o desmatamento e a poluição levam a piores índices de IDH – o que fica mais fácil entender quando se sabe, por exemplo, que metade da subnutrição mundial é atribuível a fatores ambientais. Diante dessas evidências, o estudo conclui que “a desigual é má, não só intrinsicamente, mas também para o meio ambiente”.

Alerta para o futuro – O Relatório de Desenvolvimento 2011 faz também um alerta para as próximas décadas: a degradação ambiental pode botar a perder parcela das conquistas no terreno do desenvolvimento. O Pnud lembra que os últimos 40 anos (1970-2010) fizeram com que os países listados entre os 25% inferiores na classificação do IDH melhorassem seu desempenho em 82%, o dobro da média global. Se este fenômeno se repetisse até 2050, a maioria dos países alcançaria níveis de IDH semelhantes ou superiores aos daqueles que estão no top do ranking hoje. A proeza, contudo, dificilmente será repetida porque a escalada dos riscos ambientais tende a interrompê-la. Para medir os riscos futuros, a pesquisa traça algumas hipóteses. Tomando por base àquela que chama de cenário de “desafio ambiental” – que capta os efeitos adversos do aquecimento global na produção agrícola, no acesso a água potável, no saneamento e na poluição -, o IDH global será 8% menor. Se a conjuntura for de “catástrofe ambiental” – desmatamento descontrolado, degradação do solo, reduções dramáticas da biodiversidade e aceleração dos fenômenos climáticos extremos -, este índice será 15% inferior. Em ambos os casos, as pessoas dos países mais pobres correm maior risco.

Quase um terço das pessoas não sabe das mudanças no clima

Grupo de países

Consciência das

alterações

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climáticas

As alterações

climáticas são uma

ameaça grave

A atividade humana

causa alterações

climáticas

Regiões
Estados Árabes 42,1 28,7 30,3
Ásia Oriental e Pacífico 62,6 27,7 48,3
Europa e Ásia Central 77,7 48,2 55,0
América Latina e Caribe 76,5 72,7 64,8
Sul da Ásia 38,0 31,3 26,9
África Subsariana 43,4 35,5 30,6
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