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Poucos investidores e muitas regras afastam as PMEs da Bolsa

Desde que foi criado, mercado voltado para empresas de pequeno e médio porte só atraiu quatro companhias

Por Gabriel Ferreira
28 jul 2013, 13h00

Ter ações listadas na Bolsa de Valores é um dos grandes símbolos de sucesso que uma empresa pode ostentar. Mais do que uma forma de financiamento, ser uma companhia aberta contribui para a imagem da empresa, facilitando contatos com clientes, fornecedores e bancos. Isso acontece porque as regras de boa governança exigidas para quem lista seus papéis dão maior segurança para todos que, por algum motivo, tenham de negociar com aquela companhia. No Brasil, ter ações listadas na Bolsa não é exclusividade de gigantes como Petrobras e AmBev. Pequenas e médias empresas têm seu espaço reservado – ou, pelo menos, há um caminho criado para que isso ocorra.

Conhecido como mercado de acesso, a listagem das ações de empresas de menor porte foi batizada de Bovespa Mais. Nascido em 2005, esse mercado custa a se popularizar por aqui. Se em alguns países, como Inglaterra e Canadá, o número de empresas inscritas nos mercados de acesso ultrapassa os milhares, no Brasil apenas quatro companhias abriram capital no segmento. Dessas, apenas duas fizeram o processo de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que serve para iniciar a comercialização dos papéis na Bolsa de Valores. Em 2008, a Nutriplant captou 20 milhões de reais com a venda de ações e, em março deste ano, a Senior Solution levantou 62 milhões de reais em sua oferta inicial.

O baixo número de participantes não é sinal de que o mercado não tenha potencial de desenvolvimento. A BM&FBovespa diz ter um mapeamento de 200 empresas com grande potencial para aderir à Bolsa. Esse abismo entre o número potencial e o real tem se mostrado um desafio de difícil resolução para a Bolsa e também para as empresas. Um dos maiores entraves é a baixa participação de pessoas físicas no mercado de ações. “Historicamente, os mercados de acesso são muito ligados aos investidores locais. O problema é que isso foge da realidade do Brasil, já que 70% das ações lançadas em IPOs na Bovespa costumam ser compradas por investidores estrangeiros”, afirma Cristiana Pereira, diretora de Desenvolvimento de Empresas da BM&FBovespa.

No país, menos de 0,5% da população investe diretamente em ações. Em outros mercados emergentes, a média chega aos 5%. Como nem todo grande fundo de investimento estrangeiro conhece as minúcias do segmento de PMEs no Brasil – que corresponde a 99% das empresas do país – a abertura de capital de uma companhia como a Nutriplant, que atua na produção de micronutrientes de solo, correria o risco de não ser percebida. Contudo, a empresa decidiu arriscar e direcionou todos os seus esforços de captação para sua estreia na Bolsa. “Apesar das exigências e dificuldades do processo, achamos mais fácil fazer a abertura de capital do que buscar um fundo de investimento”, afirma Ricardo Pansa, presidente da companhia. A empresa foi a primeira a entrar para o Bovespa Mais e aplicou grande parte dos 21 milhões de reais captados para engordar seu capital de giro. “Para nós também seria bom ter mais empresas listadas, já que isso atrairia o interesse de mais investidores e aumentaria a liquidez da ação”, diz o executivo.

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Incentivo fiscal – Para incentivar a entrada de mais investidores, uma alternativa seria a concessão de benefícios fiscais, reduzindo ou até acabando com o Imposto de Renda sobre o ganho de capital. “Também deveria haver dedução de imposto dos valores gastos pelas PMEs no processo de abertura de capital”, afirma Rodolfo Zabisky, coordenador do PAC-PME, grupo que estuda medidas para melhorar o mercado de acesso à Bolsa no país. Pelas contas do PAC-PME, o crescimento das empresas que entrariam no mercado resultaria numa arrecadação adicional superior aos 10 bilhões de reais, compensando as desonerações fiscais concedidas.

Não basta, porém, a simples redução dos impostos. “Várias medidas precisam ser tomadas, como a simplificação do processo de oferta pública de ações”, diz Cristiana, da BM&FBovespa. Hoje, a quantidade de exigências é tamanha que os empresários se sentem desestimulados a dar continuidade ao processo. “Fica a impressão de que seria necessário parar a rotina da empresa por dois anos para dar conta de todas as exigências”, afirma Zabisky.

Concorrência – Outro ponto apontado pelo coordenador do PAC-PME como um empecilho para o desenvolvimento do mercado de acesso no Brasil é a existência de uma só Bolsa. Ele acredita que a possível entrada de concorrentes à BM&FBovespa deve contribuir para o desenvolvimento do mercado no Brasil. A ATS Brasil, resultado de uma sociedade entre o Americas Trade Group e a NYSE Euronext, já demonstrou interesse no segmento de PMEs. Responsável pela administração de importantes Bolsas ao redor do mundo, como a de Nova York e a de Paris, a empresa tem focado no desenvolvimento desse tipo de mercado em diversas partes do mundo. Recentemente, a empresa lançou uma bolsa europeia voltada para as PMEs, e Enternext, que já nasceu com mais de 750 companhias listadas.

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Modelo londrino – Um dos exemplos constantemente citados como modelo a ser seguido para o amadurecimento do mercado de acesso é a London Stock Exchange (LSE), a Bolsa de Valores de Londres. Por lá, as ações de pequenas e médias empresas são listadas num mercado batizado de Alternative Investiment Market (AIM). Em junho deste ano, o AIM listava 1 085 empresas. Por mês, uma média de cinco empresas abre capital no segmento.

Por trás do modelo de sucesso desenvolvido pela Inglaterra, estão alguns dos fatores considerados fundamentais para que o Bovespa Mais também apresente melhores resultados no Brasil. Um dos principais pontos é a criação de incentivos fiscais, para que investidores se interessem pelos papéis das empresas de menor porte. Em breve, o governo inglês deve ampliar esses benefícios, com a isenção de novos impostos. “Essas medidas, somadas às que são adotadas há mais tempo, são um sinal claro da importância dada ao mercado de capitais envolvendo PMEs”, afirmou a LSE, por meio de sua assessoria de imprensa.

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