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Petrobras divulga balanço nesta quarta: saiba o que está em jogo

Com cinco meses de atraso, relatório deve mostrar os prejuízos decorrentes da corrupção, detalhes do plano de desinvestimento e revisão dos valores dos ativos da estatal

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 abr 2015, 07h33

Esperado desde novembro do ano passado, o balanço auditado da Petrobras referente ao terceiro trimestre de 2014 e ao ano fechado será finalmente divulgado nesta quarta-feira. O atraso de 160 dias decorre dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que levaram a estatal ao centro de um turbilhão de denúncias envolvendo pagamento de propina a ex-diretores e obras superfaturadas. O mercado aguarda com apreensão o relatório que deve apontar os prejuízos causados pelo esquema de corrupção, além de detalhes sobre plano de desinvestimento da empresa e a revisão do valor dos ativos. Só a expectativa de apresentação do balanço fez com que as ações da Petrobras subissem 11% nos últimos cinco dias.

Mais do que um grande passo para reerguer a estatal, conforme alardeia o governo federal, a apresentação do balanço é, antes de tudo, um imperativo: por contrato, credores da Petrobras podem pedir o pagamento antecipado de seus empréstimos se a estatal não informar seu demonstrativo financeiro. Em termos práticos, os números auditados servem como base para investidores decidirem se a empresa merece mais um voto de confiança. Com a demora na publicação dos resultados, fica cada vez mais difícil (e caro) para a Petrobras captar recursos. Não à toa, a maior fatia de seu último grande empréstimo foi conseguida junto a dois bancos públicos: Banco do Brasil e Caixa.

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“É como se a companhia se destravasse. Com a divulgação do balanço, a companhia fica, dentro do possível, apta para investir, cuidar de seus problemas, de seus investimentos e negócios. Mas o mais importante é saber o que vem depois”, disse o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Placido. Para o economista, algumas diretrizes são indispensáveis para que a estatal consiga fechar o caixa em 2015 e retomar a confiança do mercado: a venda de ativos, a redução de investimentos, e principalmente, o fim da interferência do Estado nos negócios da empresa.

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O governo, por sua vez, se empenha em limpar a imagem da estatal que foi tragada no turbilhão de escândalos descobertos no âmbito da Lava Jato – três ex-diretores da alta cúpula da estatal foram denunciados por corrupção passiva, sendo que um deles, Paulo Roberto Costa, admitiu as fraudes e comprometeu-se a contribuir com as investigações por meio de delação premiada. Enquanto Costa está em prisão domiciliar, outros dois ex-dirigentes estão presos: Renato Duque e Nestor Cerveró.

Num intento de fazer coro ao Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou que o balanço será um marco para virar a página e acabar com a preocupação dos investidores em relação à empresa. “A expectativa é de que teremos o balanço auditado, e isso é algo muito bom. Marca um novo passo na reconstrução da Petrobras. A principal questão é que isso vai acabar com essas preocupações”, afirmou Levy em evento em Nova York, nesta segunda-feira.

Analistas de mercado não encaram o assunto com o mesmo otimismo. “Lógico que acalma o mercado. Uma empresa do tamanho da Petrobras assusta quando fica quase um ano sem balanço. Mas é uma calmaria passageira, pois ela tem muitos desafios pela frente para voltar a ter lucratividade. O primeiro deles é saber se vai adotar uma política de preços de combustível com previsibilidade ou uma política que ajuda a controlar a inflação e a eleger candidatos do governo”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIF). Sobre as últimas declarações do ministro, Pires afirmou que o governo tenta criar um “factoide”, uma notícia positiva para a empresa em meio à profusão de fatos negativos que a colocam nas páginas policiais dos jornais. “Balanço auditado não é um passo para reconstrução, mas uma obrigação da empresa”, diz.

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A apresentação do balanço do terceiro trimestre já foi adiada duas vezes, uma em novembro e a outra em dezembro do ano passado. A auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC), responsável por chancelar os resultados financeiros da Petrobras, recusou-se a assinar o relatório até que as perdas com a corrupção fossem conhecidas. Ao dar seu aval para um balanço, em última instância, falso, a auditoria também pode ser responsabilizada. Agora, tudo indica, a PwC chegou a um consenso sobre os números.

A maior preocupação dos investidores, que viram o valor de mercado da empresa despencar 20% em um ano, será a revisão no preço dos ativos da empresa, tendo em vista o fato de muitos de seus contratos terem sido superfaturados. Investigações da Lava Jato detectaram irregularidades em obras no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e na refinaria de Pasadena, no Texas. Informações obtidas pelo jornal Valor Econômico apontam que a Petrobras deve reportar perdas entre 14 a 28 bilhões de reais em valor de ativos no balanço que deve sair nesta quarta. Desse montante, os prejuízos referentes à corrupção ficariam entre 4 e 8 bilhões de reais.

Em janeiro deste ano, sem o aval da Pwc, a Petrobras publicou um balanço do terceiro trimestre de 2014 apontando uma queda de 38% no lucro em relação aos três meses anteriores. Os números não foram bem recebidos pelo mercado por não indicarem as perdas com a corrupção, o que levou as ações da estatal a despencarem na Bolsa. Uma estimativa preliminar apresentada ao Conselho de Administração da estatal ainda dava conta de que os ativos da empresa estavam supervalorizados em 88,6 bilhões de reais – parte disso por causa da corrupção. O governo, no entanto, considerou inadequada a metodologia para chegar ao cálculo e não a incluiu no balanço. Isso criou uma indisposição entre a presidente Dilma e a então presidente da Petrobras, Graça Foster. Resultado: dias depois, ela foi substituída pelo então presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.

Para analistas de mercado, os problemas da Petrobras vão muito além do anúncio do balanço. Reconhecida internacionalmente nas áreas de prospecção, extração, refino e distribuição de petróleo, a maior estatal do país viu o seu patrimônio se esfacelar nos últimos anos. Enquanto o seu valor de mercado caiu gradativamente, as despesas só aumentaram. De 2012 a 2014, sua dívida quase dobrou: passou de 181 bilhões para 332 bilhões de reais – esse número a transforma na petroleira mais endividada do mundo. O endividamento subiu ainda mais diante dos novos empréstimos contraídos recentemente com a China e os bancos públicos.

As dúvidas sobre a capacidade da estatal de honrar tantos compromissos fez a agência de classificação de risco Moody’s rebaixar sua nota de crédito para o nível especulativo. Não apenas a Lava Jato, mas também a perniciosa política de controle de preços dos combustíveis para segurar a inflação, de autoria do governo Dilma, motivaram a decisão da agência. “A situação da Petrobras é como se fosse uma pessoa que tem muito dinheiro, mas que está completamente sem liquidez. Ela mora na Zona Sul do Rio, tem uma casa em Angra e uma lancha. Mas não recebe mais dinheiro porque foi demitida. Mesmo assim, ela continua gastando e, por isso, precisa vender seus bens”, resumiu Placido.

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