Petrobras cai mais de 10% e derruba Bovespa
Após divulgar balanço sem considerar perdas com corrupção, papéis da petroleira desabaram e motivaram queda de 1,85% da bolsa brasileira
A frustração do mercado com o balanço trimestral da Petrobras, divulgado sem a esperada baixa contábil (redução no valor de ativos) derrubou as ações da estatal em mais de 10% e contaminou o Ibovespa. Com isso, o principal índice da bolsa brasileira terminou em baixa de 1,85%, aos 47.694,54 pontos, menor nível desde 14 de janeiro. O giro financeiro do pregão foi de 5,9 bilhões de reais. Os papéis preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) perderam 11,21%, e os ordinários (ON, com direito a voto) caíram 10,48%.
Em relatórios, analistas ressaltaram que a divulgação do balanço atendeu apenas obrigações com credores e não deu uma dimensão das perdas decorrentes de sobrepreço nos contratos que, conforme investigação do Ministério Público Federal (MPF), beneficiou ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos. “Isso é bastante frustrante, dado que todos esperavam por estes números para ter um algum dimensionamento das perdas e do valor dos ativos da empresa”, escreveram analistas da Planner, em relatório.
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Na madrugada desta quarta-feira, a Petrobras anunciou lucro líquido de 3,087 bilhões de reais, em queda de 38% ante o segundo trimestre do ano passado. Os números foram divulgados após uma reunião de onze horas do Conselho de Administração da estatal, que não chegou a um consenso sobre como separar no balanço as perdas provocadas pelos desvios apontados na Operação Lava Jato dos prejuízos com outros fatores, como projetos ineficientes e atrasos causados por chuvas.
Embora não tenha efetivamente reduzido o valor de seus ativos, a Petrobras apresentou um cálculo indicando potenciais baixas contábeis de 61,4 bilhões de reais, referentes a contratos assinados entre 2004 e abril de 2012. Anda assim, a preocupação de investidores sobre a saúde financeira da estatal deve continuar, já que não se sabe o valor exato da baixa contábil.
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Além da situação delicada da Petrobras, também repercutiu nos mercados brasileiros a percepção de que o ajuste fiscal comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, terá que passar por rodadas de negociação antes de ser colocado em prática. “Não será fácil, e os mercados vão precificando isso, após semanas de maior euforia e otimismo. Começamos a ouvir críticas às mudanças, à medida que os ajustes são anunciados”, disse a corretora Guide Investimentos. No setor financeiro, o que detém maior fatia do índice, Bradesco PN recuou 2,39%, Itaú Unibanco PN, 2,04%, e BB ON, 4,30%.
No exterior, o mercado também ficou na defensiva antes da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), à espera de sinais sobre quando os juros começarão a subir na maior economia do mundo. Logo após o fechamento dos mercados brasileiros, o Fed repetiu que continuará “paciente” para elevar os juros e disse que a economia dos EUA está nos trilhos, apesar das turbulências em outros mercados ao redor do mundo.
Dólar – À espera de sinalizações do Fed, a moeda americana subiu 0,25%, a 2,5769 reais na venda, após recuar 0,77% na terça-feira.
(Com Estadão Conteúdo e agência Reuters)