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Os críticos do BIS

Segundo o presidente do BC tcheco, autoridades monetárias do mundo todo deveriam coordenar suas ações em alinhamento com as avaliações do BIS

Por Mojmír Hampl
23 set 2014, 17h45

Pode parecer uma suposição improvável, mas o banco central passou a ser uma coisa tentadora. Não é necessariamente uma novidade positiva. As decisões tomadas pelas principais autoridades monetárias desde a crise financeira mundial de 2008-2009 foram pouco ortodoxas, criativas e às vezes arriscadas. Suas escolhas atuais, nas quais há muito em jogo, afetarão a economia global nas próximas décadas.

Além disso, os dirigentes de bancos centrais tornaram-se mais explícitos ao expressarem de maneira firme seus posicionamentos nos meios de comunicação, com a pretensão de conquistar a opinião popular. Trata-se de uma mistura poderosa e perigosa. Neste ambiente, vozes sensatas e informadas, como a do Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais, também devem receber uma justa atenção. Infelizmente, muitos dirigentes de bancos centrais procuraram marginalizar o BIS, ao invés de se envolver com ele.

Um dos debates mais polêmicos já tinha terminado no momento em que acabaram com as medidas de fim da política monetária “não convencional” que foram introduzidas no rescaldo da crise financeira para garantir que os bancos continuassem a emprestar, estimulando assim o crescimento e evitando a deflação. Alguns dirigentes de bancos centrais agora se preocupam pelo fato de que acabar com estas medidas prematuramente, em especial com a retirada dos estímulos pelo Fed, colocará a economia de volta em recessão. Outros temem ainda que a atual estratégia, embora originalmente destinada a evitar um colapso econômico, esteja agora plantando as sementes da instabilidade futura, incluindo o surgimento de outra bolha de preços de ativos.

Em seus esforços para resolver esses dilemas, os responsáveis pelas diretrizes políticas também estão lutando para manter o foco nas ferramentas monetárias tradicionais tais como taxas de juros, ou fazem maior uso das chamadas “medidas macroprudenciais,” como acréscimos de capital e amortecedores ou ajustes na relação entre o valor do empréstimo e o valor do bem dos bancos.

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No cerne do debate – atualmente sendo conduzido dentro dos departamentos do tesouro e bancos centrais das principais economias, bem como em organismos supranacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional e o BIS – está a relação entre política monetária e estabilidade financeira. O BIS, por exemplo, sugeriu que a estabilidade financeira esteja intimamente ligada à política monetária e aconselhou os responsáveis pelas políticas monetárias a iniciar, mais cedo ou mais tarde, o desapego de suas economias ao dinheiro fácil. Os dirigentes de bancos centrais, no entanto, parecem querer experimentar primeiramente ferramentas macroprudenciais (e às vezes exclusivamente tais ferramentas).

É incomum testemunhar um confronto de pontos de vista entre os responsáveis pelas políticas monetárias que seja tão radical e claro e que tenha arrebatado de maneira mais ampla a atenção política e da mídia. E, sob os holofotes públicos, alguns dirigentes de bancos centrais têm tentado minimizar a avaliação do BIS, argumentando que é muito fácil emitir recomendações políticas de longo alcance, quando não se sofre nenhuma das consequências se a prescrição vier a dar errado.

De fato, as circunstâncias econômicas nacionais de um país e as ferramentas disponíveis para os responsáveis pela geração de políticas, devem orientar a política. E, embora o arrocho monetário pode bem ser aconselhável em algumas economias, pode ser inadequado em outras.

Mas as duras reações à análise do BIS parecem deslocadas e injustas. É sempre difícil encontrar a orientação da política monetária correta para uma determinada economia num determinado momento. Os bancos centrais empregam um exército de especialistas para tentar fazer certo, e outras instituições raramente estão tão bem providas de recursos adequados para apresentar contra-argumentos sofisticados à altura. O BIS, no entanto, é uma das poucas organizações que não só conta com a pesquisa necessária e a capacidade analítica, mas também tem um histórico de fazer boas intervenções. Não se deve esquecer – como muitos dirigentes de bancos centrais parecem ter feito – que o BIS foi um dos primeiros a alertar sobre os perigos dos excessos financeiros, vários anos antes da crise de 2008.

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O BIS tem o direito de ser ouvido. Ele existe não só para representar os bancos centrais, mas também para dar ideias e feedback intelectual. De fato, ele serve bem aos responsáveis pelas diretrizes políticas por sua opinião desafiadora, argumentativa e talvez influente. Ao invés de criticar o BIS, as autoridades monetárias deviam agradecer pelas perspectivas informadas que ele fornece.

Mojmír Hampl é economista e vice-presidente do Banco Nacional da República Tcheca.

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate 2014

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