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O futuro incerto da economia egípcia

Depois de crescer 5% em 2010, país se prepara para outono econômico que pode durar anos

Por Ana Clara Costa
3 fev 2011, 19h27

O Egito completou nesta quinta-feira dez dias de protestos, paralisações e caos político. É pouco tempo, mas o impacto na economia pode levar meses para ser revertido, alertam os economistas. No cenário traçado pela gestora de recursos americana Asas Capital, só os investimentos estrangeiros diretos (IED) levarão dois anos para se recuperar. Trata-se de um elemento importante do crescimento egípcio. O país recebeu do exterior, nos últimos cinco anos, 49 bilhões de dólares para uma economia de 216 bilhões de dólares em 2010. Paralisação de bancos e empresas, falta de liquidez e comunicação, além de prejuízos à pujante indústria do turismo compõem um cenário sombrio que o país terá de lutar arduamente para superar.

A sucessão de problemas deve colocar uma pausa na expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que atingiu notáveis 5% no ano passado. Apesar de o número ser chamativo, a conquista esteve longe de se refletir em melhoria significativa das condições vida para seu povo. O país tem 20% da população na pobreza e 44% vive com menos de dois dólares ao dia. A maioria dessas pessoas não tem emprego estável, nem acesso ao sistema bancário e a dinheiro vivo. As péssimas condições de vida, inclusive, são apontadas por cientistas políticos como fator fundamental para a revolta popular contra o presidente Hosni Mubarak. E o quadro tende a piorar.

Caos econômico – A situação política afeta a economia do Egito de inúmeras formas. O fechamento dos bancos, no último dia 31, deixou a população e as empresas sem nenhuma liquidez e estendeu o caos a toda a capilaridade econômica. Os caixas eletrônicos estão esgotando suas reservas e, segundo reportagem do The New York Times, o varejo está recusando o pagamento por meio de cartões de crédito. Como ninguém consegue prever a reabertura das agências, os comerciantes buscam reter divisas, pois temem não conseguir pagar funcionários e fornecedores.

No entanto, guardar dinheiro pode não servir para muita coisa. As empresas que fornecem insumos industriais, manufaturados e alimentos também estão paralisando suas atividades. Multinacionais como Coca-Cola, General Motors, Nissan e Volkswagen deixaram de funcionar, enquanto os navios que deveriam ancorar nos portos de Said e Alexandria estão recalculando suas rotas para países vizinhos, segundo a rede britânica BBC.

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Para fechar o cenário de total desordem econômica, o governo decretou o bloqueio das redes de internet por cinco dias no país – poupando apenas a rede que permite o funcionamento da bolsa de valores. Com isso, não só os civis, mas também as empresas ficaram sem conexão com suas subsidiárias ou matrizes. A internet foi religada apenas nesta quarta-feira. E a bolsa, devido à queda em 2011 de mais de 20% em seu principal indicador financeiro, o EGX-30, também encerrou suas atividades sem prazo para retomá-las (veja quadro abaixo).

Política e comércio exterior – Dependendo do futuro de Hosni Mubarak (e de quem assumirá o governo em seu lugar), as incipientes exportações egípcias podem ser afetadas. Isso porque outras nações antidemocráticas das proximidades podem seguir o exemplo do povo egípcio, reduzindo as trocas comerciais na região.

Com uma produção de petróleo de 710 mil barris diários, o Egito exporta cerca de 89 mil barris. Seus clientes são, sobretudo, nações do Oriente Médio que não possuem o óleo, como a Jordânia. Apesar de manter boas relações comerciais com a Europa, o Egito tem nos próprios países árabes seus principais parceiros. No primeiro semestre de 2010, o saldo comercial do Egito com o Oriente Médio ficou positivo em 1,68 bilhão de dólares. Já em relação à União Europeia, o resultado foi negativo em 5,5 bilhões de dólares, de acordo com dados do Ministério do Comércio e da Indústria do Egito.

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Do ponto de vista da economia internacional, contudo, a maior preocupação é com o funcionamento do Canal de Suez – passagem entre os Mares Vermelho e Mediterrâneo, que é responsável pelo escoamento de 5% do comércio diário de petróleo no mundo. Caso as operações sejam também paralisadas e o canal feche, certamente isso dará impulso adicional às cotações do petróleo, que já superaram os 100 dólares. Segundo analistas, o valor poderá ultrapassar 120 dólares se a passagem for fechada.

A força da indústria turística – O turismo – um dos principais motores da economia local – movimentou neste ano cerca de 13 bilhões de dólares em receita, ou 6% do PIB. A ocorrência de conflitos se dá justamente na época mais ativa (durante o inverno europeu) do setor. O impacto sobre o crescimento do país não terá precedentes. “Há uma quantidade enorme de famílias que sobrevivem da economia informal gerada pelo turismo e que agora simplesmente estão sem perspectivas”, afirmou o economista David Butter, da Economist Intelligence Unit (EIU), ao site de VEJA. Cerca de 10 milhões de egípcios trabalham no mercado informal, enquanto 7 milhões estão empregados no setor privado e 5 milhões, no setor público.

O economista Robert Powell, da EIU, alertou em ‘webconferência’ realizada nesta quinta-feira que, ainda que o futuro político do país fosse definido hoje, levaria meses para que a economia começasse a dar sinais de melhora, principalmente pelos estragos causados na infraestrutura e pela óbvia aversão a risco de turistas e investidores nos próximos meses. “O problema é que essa crise não irá parar hoje e nem amanhã. Por isso, ainda não dá para pensar em recomeço”, afirma.

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