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Novo Pão de Açúcar: um negócio em que o BNDES não deveria estar

Como entidade que trabalha com dinheiro público, o BNDESPar deveria seguir o interesse público na hora de fazer suas apostas. Não é o caso dessa fusão

Por Ana Clara Costa e Beatriz Ferrari
29 jun 2011, 10h17

A tese fraca da “internacionalização” é a única que pode ser esgrimida para justificar a presença do BNDESPar na transação

A fusão de Pão de Açúcar e Carrefour, em estudo oficialmente desde esta terça-feira, deverá contar, como já se tornou praxe em anos recentes, com a participação bilionária do BNDESPar, o braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O aporte, mais precisamente, será de cerca de 4 bilhões de reais (ou 1,7 bilhão de euros). Como todo fundo de investimentos, o BNDESPar rastreia o mercado em busca de oportunidades. Não há dúvida que participar da união de duas gigantes do varejo é uma oportunidade extraordinária. Como entidade que trabalha com dinheiro público, no entanto, o BNDESPar deveria obedecer também ao interesse público na hora de fazer suas apostas. E, a menos que se dê a ele uma definição muitíssimo ampla, esse interesse não entra na equação que reúne Pão de Açúcar e Carrefour.

Em comunicado ao mercado, o BNDES procurou explicar as razões por que pretende apoiar o negócio. “Caso o projeto em questão se concretize”, diz a nota, “o grupo assumirá uma posição estratégica no Carrefour, um dos maiores varejistas globais, abrindo caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional.” É um argumento duvidoso. O Carrefour global teria de se transformar, incondicionalmente, na Grande Distribuidora de Produtos Brasil para justificar um investimento tão volumoso de nosso banco estatal de fomento. Isso não vai acontecer. A venda de produtos brasileiros em supermercados estrangeiros da gigante que está nascendo deverá se observar na exata medida em que faça sentido econômico. Nem mais, nem menos.

Infográfico: o passo a passo da operação Carrefour-Pão de Açúcar

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A tese fraca da “internacionalização” é a única que pode ser esgrimida para justificar a presença do BNDESPar na transação. Nenhum dos outros argumentos clássicos usados para defender a ideia – por si só questionável – da presença do estado no comando de empresas se aplica. O setor de varejo não traz o chamado “retorno social”, ao contrário do de infraestrutura ou comunicações. Não precisa de fomento especial, como o de inovação tecnológica. E tem crescido a taxas expressivas sem ajuda: sua expansão chegou a 10,9% no ano passado – bem acima do crescimento do PIB, que ficou em 7,5%. O Grupo Pão de Açúcar faturou 37,8% a mais que no ano anterior (considerando a aquisição das Casas Bahia), enquanto o Carrefour cresceu 33,7%.

Qual o tipo de interesse público contemplado pela compra de um naco do Novo Pão de Açúcar pelo BNDES? Segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um órgão do governo, a resposta é: “nenhum”. “Estamos falando de grandes empresas com boa saúde financeira. Não seria difícil encontrar parceiros privados para tomar parte nessa operação”, diz Almeida. “Precisamos do BNDES para financiar projetos sociais, ou para ajudar áreas de ponta como a biotecnologia e a TI a progredir. Não para atuar no varejo.” Quando o estado decide ajudar o Pão de Açúcar e o Carrefour a vender papel higiênico, vinho francês, salsicha e televisores, são os donos do Pão de Açúcar e do Carrefour que mais se beneficiam, e não o contribuinte.

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(Com reportagem de Derick Almeida)

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