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Negócios que ajudam a reduzir diferenças sociais ganham a atenção dos investidores

Em dez anos, até US$ 1 trilhão será investido em todo o mundo nesse tipo de empreendimento; no Brasil, há pelo menos R$ 240 mi para os próximos meses

Por Raquel Grisotto
8 dez 2012, 19h14

Pequenos e médios empresários encontraram boas oportunidades de expansão nos últimos anos graças a produtos e serviços voltados à classe C em ascensão. Agora, um novo tipo de empreendimento para os mais pobres começa a ganhar espaço no país e a despertar a atenção dos investidores. São os chamados negócios de impacto social – empresas cujas atividades visam promover a melhoria da qualidade de vida da chamada “base da pirâmide social”, isto é, pessoas com renda anual de até 6 000 reais.

Segundo estimativas do banco americano JP Morgan, negócios com esse perfil devem receber até um trilhão de dólares em investimentos nos próximos dez anos. Os dados constam do relatório “Impact Investments: An Emerging Asset Class“, elaborado pela instituição financeira em parceria com a Fundação Rockefeller e divulgado em 2010.

No Brasil, dois novos fundos de investimento foram criados recentemente para colocar recursos em negócios de impacto social: um da Vox Capital e outro da FIR. Juntos, eles devem investir até 240 milhões de reais nos próximos meses. Na mira estão startups – companhias recém-criadas, em fase de desenvolvimento e pesquisa de mercado, e com potencial para forte crescimento – e pequenas e médias empresas (PMEs) que oferecem produtos financeiros e serviços essenciais para as áreas de saúde, educação e moradia a um preço acessível.

“Há muitas possibilidades de negócios”, diz Marcus Regueira, sócio da FIR Capital. “Na essência, basta criar alguma solução inovadora que ajude a diminuir os abismos sociais e, ao mesmo tempo, gere lucro ao investidor.” Chamado de First, o novo fundo da FIR Capital terá 200 milhões de reais para colocar em negócios com esse perfil. Na Vox Capital, os novos recursos destinados às empresas de impacto social chegarão a 40 milhões de reais em dois anos.

Daniel Izzo, sócio da Vox Capital
Daniel Izzo, sócio da Vox Capital (VEJA)
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Pioneirismo – Criada em 2009 pelos sócios Daniel Izzo, Kelly Michel e Antonio Moares Neto – neto do empresário Antonio Ermírio, do grupo Votorantim -, a Vox Capital é pioneira em investimentos de impacto social no país. Em quatro anos, a empresa já aportou recursos em seis negócios com soluções para a população de baixa renda. Agora, em nova fase de captação, prepara-se para descobrir novos empreendedores. “Para receber os recursos, não é necessário que a empresa tenha sido criada por pessoas das classes mais baixas”, explica Izzo, um dos fundadores da Vox. “Mas a atividade explorada precisa gerar um impacto positivo, ajudando quem quer ascender socialmente.”

Um dos negócios que recebeu recursos da Vox, no final de 2011, é o Balcão de Empregos, de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. Idealizado pelos professores de informática Silvio Souza e Carlos Krause, a empresa funciona como um site de anúncios de vagas de trabalho e de currículos. A diferença em relação aos demais portais de classificados online é que, no Balcão de Empregos, a maioria das vagas destina-se a profissionais com baixa escolaridade.

“Temos oportunidades para pedreiros, babás, auxiliares de escritório ou digitadores”, explica Verônica de Jesus, diretora da empresa. Para dar suporte aos candidatos, que muitas vezes não dominam o uso da internet, o Balcão de Empregos mantém unidades de atendimento presencial em várias cidades do interior de São Paulo e em Poços de Caldas, em Minas Gerais. “Parte do nosso trabalho é ajudar os profissionais a elaborar o currículo, digitalizar o documento e ainda ensinar noções básicas de informática para que possam buscar as vagas no site”, conta Verônica. Nas unidades, os candidatos também podem usar computadores com acesso à internet sem custo adicional. Para ter acesso ao pacote de serviços por dois meses, paga-se uma taxa de 64,90 reais. Não há custo para as empresas que anunciam as vagas.

Atualmente, o Balcão de Empregos tem 15 000 empresas parceiras e mais de 100 000 currículos cadastrados. O nível de empregabilidade, segundo Veronica, é de 60%. A empresa não divulga o faturamento. “Ainda é cedo para falar dos resultados dos nossos investimentos”, afirma Izzo, da Vox. “Mas a busca pelo retorno financeiro é a mesma que a de qualquer outro tipo de negócio.”

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Evolução – Os investimentos de impacto social surgiram nos Estados Unidos no início da década. Movimentos semelhantes foram observados, nos anos seguintes, também na Índia e no México. No Brasil, as oportunidades para ganhar dinheiro com esse tipo de negócio surgiram nos últimos anos. “Hoje, mesmo a população muito pobre quer ter acesso a serviços de qualidade e está disposta a pagar por isso se os valores forem acessíveis”, afirma Regueira, da FIR. “As possibilidades estão, sobretudo, na oferta de serviços capazes de complementar aquilo que o estado não consegue fornecer de uma maneira adequada.”

Profissional experiente na gestão de fundos de capital empreendedor, Regueira entende das dificuldades desse modelo de atuação. “O maior desafio é convencer o mercado que empresas criadas para promover melhorias na vida das pessoas também podem dar dinheiro”, diz. Hoje, a maior parte dos investidores do fundo criado pela FIR para esses empreendimentos é estrangeira. “Eles têm percebido mais rapidamente que os negócios com impacto social são uma tendência muito forte e que vão se expandir de forma acelerada nos próximos anos”, avalia.

Na Vox, além de estrangeiros, há também grandes empresários brasileiros e famílias com alta poder aquisitivo. “Por enquanto, nossos investidores ainda são pessoas que, de alguma maneira, preocupam-se em fazer o bem”, diz Izzo. “Mas com o tempo, estou certo que esse tipo de investimento deixará de ser apenas um nicho de mercado.”

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