Moody’s pode rebaixar em breve nota de crédito do Brasil
A deterioração das finanças públicas já levou a agência de classificação de risco a reduzir a perspectiva do 'rating' do país de "estável" para "negativo"
Durante evento promovido em São Paulo pela Moody’s, o vice-presidente da agência de classificação de risco , Mauro Leos, disse que, se algo de “muito ruim acontecer” para a economia do Brasil, a nota de crédito (rating) poderá ser revisada antes do primeiro trimestre de 2016. Por olhar indicadores de conjuntura, como crescimento econômico, política fiscal, dívida, juros e inflação, geralmente a agência observa um país por mais de 12 meses. “Se dados econômicos estiverem em nível definido, podemos reavaliar”, disse na 16ª Conferência Anual da agência.
A deterioração das finanças públicas já levou a Moody’s a rebaixar a perspectiva do rating de “estável” para “negativo”, um claro sinal de que, se nada for feito no âmbito fiscal, a nota será rebaixada.
Entre os pontos baixos da economia brasileira que justificam a perspectiva negativa da nota soberana, Leos disse no evento que talvez o elo mais fraco seja a política fiscal. Ele explicou que a relação dívida bruta/PIB do país sempre foi elevada, mais alta do que os vizinhos da América Latina e de outros emergentes, incluindo com rating mais baixo do que o brasileiro. A relação entre encargo de juros/receita também é alta, perto de 15%. “Isso sempre foi assim, mas agora existe um fator novo”, comentou, referindo-se à queda do superávit primário e ao crescimento do déficit em conta corrente nos últimos quatro anos.
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Na terça-feira, os dados de contas do governo central (composto por Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) mostraram o pior resultado para meses de agosto em 18 anos: déficit primário de 10,42 bilhões de reais. Também foi o quarto mês seguido que o governo não conseguiu economizar receita para pagar os juros da dívida.
Leos apontou que a relação dívida bruta/PIB está subindo e deve ficar em 60,1% este ano, segundo as projeções da Moody’s, atingindo patamares semelhantes aos de 2009 e 2003, após o nervosismo do mercado com a eleição de Lula, em 2002. “Há uma clara deterioração da dívida pública”, comentou. O déficit nominal deve atingir 4,5% do PIB este ano. O analista explicou que o crescimento médio do PIB brasileiro deve atingir 1,7% ao ano no mandato de Dilma Rousseff, bem abaixo da média de 4,6% no segundo mandato de Lula.
O vice-presidente também falou que existe, atualmente, uma crise de confiança no Brasil, já que o sentimento dos empresários está no nível mais baixo desde 2009, durante a crise financeira mundial. Isso é prejudicial para a economia porque afeta diretamente o nível de investimentos, que vem caindo junto com a confiança.
(Com Estadão Conteúdo)