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Ministro nega interferência para Ipea segurar dados sobre miséria

Ex-presidente do instituto, Marcelo Neri disse que Ipea foi autônomo e legítimo para adiar divulgação de pesquisa para depois das eleições deste ano

Por Luís Lima 6 nov 2014, 19h01

Após receber críticas em função da forma com que o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) vem conduzindo a divulgação de indicadores de desigualdade social, o ministro Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, a que o Ipea é subordinado, defendeu a decisão da entidade de só divulgar os números depois das eleições. “Foi uma decisão legítima, e, por outro lado, (se os dados fossem divulgados) as críticas seriam de outro tipo, de que o Ipea estaria fazendo propaganda oficial”, afirmou a jornalistas em evento em São Paulo.

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Segundo Neri, o Ipea foi cuidadoso para não interferir no processo eleitoral. Ele reforçou que a decisão foi tomada antes de se conhecer os dados da Pnad. “O Ipea foi zeloso. Foi um cuidado com a própria instituição. Não tive nenhuma interferência e tive que respeitar”, disse. Curiosamente, em 2010, dados favoráveis ao governo da Pnad foram divulgados entre o primeiro e segundo turno, o que também gerou uma série de críticas.

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A declarações de Neri foram feitas um dia após a divulgação de dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad), que mostram que o número de miseráveis no Brasil avançou pela primeira vez desde 2003. Conforme os resultados, que constam no banco de dados Ipeadata, houve um acréscimo de 3,68% no total de indivíduos considerados abaixo da linha da pobreza, ou indigentes – passaram de 10.081.225 em 2012 para 10.452.383 no ano passado, ou seja, mais de 371.000 pessoas entraram para o grupo de miseráveis no período. Para Neri, esse aumento é uma “flutuação estatística”, pois está dentro da margem de erro.

Ex-presidente do Ipea, Neri negou a possibilidade de que esse crescimento mostre que programas sociais do governo, como o Bolsa Família, tenham alcançado um “teto”. “Isso é suposição. Tem que descer pro dado, ver o impacto do programa”, disse. “Não acho que as políticas políticas tenham atingido um teto ou piso, e não acho que a macroeconomia contaminou as Pndas”, afirmou, citando dados favoráveis da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e da Pnad Contínua.

A análise social da Pnad é feita anualmente pelo Ipea. Contudo, neste ano, o instituto optou por adiar a divulgação do levantamento alegando seu impacto no cenário eleitoral. No mês passado, um de seus diretores, Hérton Araújo, pediu exoneração por não concordar com o adiamento da divulgação para depois das eleições. Exaltado, Neri disse que chamou Araújo para conversar e sugeriu publicar dados da Pnad por vias particulares, não públicas, como o Ipea.

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Em vez de ressaltar os dados sobre a miséria, Neri preferiu destacar números positivos da Pnad, como o crescimento de 3,5% na média da renda domiciliar per capita no último ano e de 5,5% entre 2011 e 2013, bem acima do crescimento econômico do período. “Se o Ipea tivesse divulgado esses números seria a crítica oposta”, disse.

Em setembro, o site de VEJA revelou que outro estudo engavetado pelo instituto, e que levava em conta a análise de dados da declaração do Imposto de Renda, mostrava que a concentração de riqueza havia aumentado no Brasil entre 2006 e 2012. A análise, ainda preliminar, apontava, entre outros dados, que os 5% mais ricos do país detinham, em 2012, 44% da renda. Segundo Neri, o estudo não foi “engavetado”, mas não publicado pelo Ipea por opção do autor. “O bem-estar geral da nação pela especificação usada nesse estudo aumentou”, disse, ponderando que é preocupante que a desigualdade tenha caído menos.

Questionado sobre a indicação do próximo ministro da Fazenda e se continua no governo Dilma, Neri se limitou a dizer que estas são decisões particulares da presidente Dilma Rousseff (PT).

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