Líderes da zona do euro chegam a acordo sobre a Grécia
Resultado de reunião de 17 horas em Bruxelas abre caminho para um novo pacote de resgate e afasta a possibilidade de saída do país da zona do euro
Depois de dezessete horas de discussão, os líderes da zona do euro anunciaram nesta segunda-feira, em Bruxelas, que chegaram a um acordo sobre a crise da Grécia. O fim do impasse foi comunicado pelo presidente do Conselho Europeu Donald Tusk. “A cúpula da zona do euro chegou a um acordo unânime”, disse ele no twitter.
O acerto abre caminho para um terceiro pacote de resgate à Grécia para os próximos três anos – desde que o governo de Atenas consiga aprovar drásticas reformas de austeridade no país. “Acertamos em princípio que estamos preparados para começar as negociações para levar um programa ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o que em outras palavras significa continuar o apoio à Grécia”, disse Tusk em entrevista coletiva após a reunião em Bruxelas. Os detalhes do plano não foram divulgados, mas os ministros das Finanças da zona do euro haviam avaliado entre 82 e 86 bilhões de euros o montante necessário para socorrer a Grécia.
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O acordo também afasta a possibilidade de saída da Grécia da zona do euro. “A decisão dá à Grécia a chance de se recuperar com o apoio dos parceiros europeus. Ela também evita as consequências sociais, econômicas e políticas que um resultado negativo traria”, destacou Tusk. Para entrar em vigor, o acordo para o resgate precisa ser aprovado pelos Parlamentos dos seguintes países: Alemanha, Holanda, Áustria, Estônia, Eslováquia e Finlândia, além da Grécia.
Para que as negociações prossigam, a Grécia deverá implementar diversas reformas classificadas pelo jornal britânico Financial Times como “o programa de supervisão econômica mais intrusivo jamais estruturado na União Europeia”. Dentre os pontos estão previstos o aumento e simplificação de impostos, reforma no sistema de pensão, “modernização” das leis de negociação, demissões coletivas e o relaxamento e restrições ao comércio aos domingos.
Além disso, está prevista a estruturação de um fundo de 50 bilhões de euros, a partir da privatização de ativos gregos. Metade desse valor será voltado à recapitalização de bancos, 25% para investimentos e 25% para o pagamento de dívidas. O fundo seria baseado em Atenas e não em Luxemburgo, exigência imposta por alemães que foi fortemente rejeitada por Tsipras, que temia a saída de recursos da Grécia.
Os ministros de Economia e Finanças da zona do euro se reuniram nesta segunda-feira em Bruxelas para discutir o primeiro lance da ajuda imediata para a Grécia, após o acordo alcançado nesta manhã.
Tsipras – “Nós lutamos uma batalha dura. Nós enfrentamos decisões difíceis”, disse o premiê grego Alexis Tsipras na saída da reunião. O político terá a complicada missão de convencer o Parlamento grego a aprovar até quarta-feira muitas das medidas que foram rejeitadas no referendo de 5 de julho.
O premiê disse que o acordo vai permitir salvaguardar a “estabilidade financeira” do país e manifestou sua esperança de que algumas das medidas pactuadas, como o pacote de investimentos, a renegociação da dívida, ou o ponto final para o debate sobre a saída do euro, ajudem a acalmar os investidores e a resistir às medidas recessivas que o programa inclui. “Acho que o povo reconhece o combate difícil que tivemos e que nesta ocasião o peso das medidas será melhor dividido entre a sociedade.”
Merkel – Depois da reunião, a chanceler alemã Angela Merkel manifestou apoio ao acordo e disse que vai recomendar que o Parlamento de seu país aprove a medida. “As vantagens superam as desvantagens”, declarou. Para a chanceler, o governo grego mostrou “vontade e disposição de realizar reformas”.
Segundo Merkel, como parte dos compromissos assumidos pela Grécia para zelar pela sustentabilidade da dívida será criado um fundo, supervisionado pela Europa, para utilizar os recursos obtidos com a privatização de 50 bilhões de euros em ativos de empresas públicas gregas.
O presidente francês François Hollande elogiou a “coragem” de Tsipras nas negociações e qualificou o acerto como uma “decisão histórica” da Europa. “Houve acordo. A Grécia fica no euro. A Europa ganhou”, comemorou ele.
Prazos – A Grécia deve pagar ao Banco Central Europeu (BCE) 3,5 bilhões de euros em 20 de julho pelos bônus que a entidade monetária adquiriu no primeiro programa de compra da dívida soberana. No segundo semestre Grécia vencem parcelas que somam 26,6 bilhões ao BCE, ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos compradores de bônus de curto prazo
(Da redação)