JPMorgan perde US$ 2 bi em estratégia equivocada
Presidente-executivo do banco americano atribui o resultado a "erros, desleixo e mau julgamento". Ações despencarem 6,7% na Bolsa de Nova York
Para um banco visto como um grande gestor de risco que passou pela crise financeira sem ter prejuízos, os erros são vexatórios
O JPMorgan Chase, que se tornou o maior banco dos Estados Unidos após aquisições feitas durante a crise financeira de 2008, anunciou nesta quinta-feira que teve um prejuízo de cerca de 2 bilhões de dólares em operações realizadas em pouco mais de um mês, desde o início de abril.
A estratégia de hedge (proteção cambial) equivocada, uma operação com ações que afetou a reputação da instituição financeira e do presidente-executivo Jamie Dimon.
As perdas surpreenderam o mercado financeiro internacional e fizeram ressurgir os rumores sobre a necessidade de maior regulação nos negócios realizados pelos bancos dos EUA. De acordo com Dimon, as perdas ocorreram em operações da chamada “unidade corporativa” do banco, que faz negócios de hedge. Dimon atribui o resultado a “erros, desleixo e mau julgamento”.
Para um banco visto como um grande gestor de risco que passou pela crise financeira sem ter prejuízos, os erros são vexatórios, especialmente levando em conta as notórias críticas de Dimon à proibição de grandes bancos fazerem trading proprietário.
“Estamos com a cara no chão”, disse Dimon em teleconferência com analistas. Ele admitiu que as perdas têm a ver com a matéria do Wall Street Journal no mês passado sobre um operador, chamado de “London Whale”, que estaria ‘muito comprado’ em uma posição em que os fundos de hedge apostaram contra.
O banco afirmou à Securities and Exchange Commission (SEC, reguladora do mercado mobiliário dos Estados Unidos) que desde o fim de março a vice-presidência de investimentos -um braço do banco- estava tendo grandes perdas em carteira, principalmente no uso de derivativos para tentar antecipar o comportamento das ações.
Embora outros ganhos tenham em parte compensado as perdas em trading, o banco estima que a unidade da carteira em questão terá um prejuízo de 800 milhões de dólares no atual trimestre, excluindo resultados com private equity e despesas com litígios. O banco antes previa que a unidade teria um lucro de cerca de 200 milhões de dólares.
“Isso pode custar 1 bilhão de dólares ou mais” além do prejuízo estimado até agora, segundo Dimon. “É um risco que vai durar por trimestres”, afirmou.
Além disso, o presidente-executivo do JPMorgan é um dos maiores críticos da reforma do sistema financeiro no país, uma questão delicada desde a eclosão da crise dos empréstimos subprime (com menos garantias) no setor hipotecário dos EUA, que acabou originando a crise financeira de 2008. Para críticos de Jamie Dimon, as perdas ajudam a mostrar que ele está errado e a reforma financeira é necessária.
Repercussão – A notícia do prejuízo-surpresa do JPMorgan Chase fez as ações do banco despencarem 6,7% na Bolsa de Nova York. Outros bancos também foram duramente atingidos no pregão. Segundo o jornal The New York Times, a negociação que originou o mau resultado do banco começou a provocar boatos no mês passado. Ela envolveria um executivo do JPMorgan na Grã-Bretanha, cujas “apostas eram tão grandes” que ele foi apelidado de “Baleia de Londres” e “Voldemort”, uma referência ao vilão da série Harry Potter.
(Com agências Reuters e France-Presse)