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Inflação registra a maior alta desde junho de 2005

Em doze meses, o IPCA acumula elevação de 7,31% – o maior valor desde junho de 2005, quando a taxa havia ficado em 7,27%

Por Benedito Sverberi e Carolina Guerra
7 out 2011, 09h26

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – indicador oficial de inflação e que baliza o sistema de metas – atingiu em setembro uma elevação de 0,53%, contra uma alta de 0,37% em agosto. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Inflação assusta e acelera – Com isso, no acumulado em 12 meses, a alta dos preços da economia totaliza 7,31%, o que significa o maior valor anualizado desde junho de 2005, quando o índice havia atingido 7,27% em doze meses. O resultado também comprova que a inflação está acelerando, a despeito do discurso do governo de que esta deve se acomodar até o final do ano. No acumulado em doze meses até agosto, a variação tinha ficado em 7,23%. De janeiro a setembro, por sua vez, a apreciação é de 4,97%.

Passagem aérea é vilã – O IBGE informou que foram as passagens aéreas as vilãs da inflação em setembro. A categoria exerceu, sozinha, um impacto de 0,09 ponto porcentual no IPCA, o maior do mês. O instituto apurou que os vôos subiram, em média, 23,4% em relação a agosto – mês em que as tarifas haviam apresentado queda de 5,95%. A consequência é que, enquanto as despesas com transportes haviam mostrado estabilidade no oitavo mês do ano (0,03%), elas saltaram para 0,70% no mês passado.

O resultado de transportes foi influenciado também pelos combustíveis, que tinha caído 0,09% em agosto, mas voltaram a subir em setembro, com acréscimo de 0,69%. Somente o preço do litro do etanol aumentou 3% no mês passado, contra um avanço de 0,30% no mês antecedente. Já a gasolina ficou 0,50% mais cara, sendo que em agosto tinha mostrado queda de 0,14%.

Preço de automóvel volta a subir – De agosto para setembro, o IBGE destaca ainda o item conserto de automóvel (que passou de 1,10% para 1,23%), mantendo-se em alta. Além disso, também pesaram sobre o IPCA as variações do seguro voluntário (de -0,88% para 0,86%) e automóveis, tanto novos (de -0,37% para 0,18%) quanto usados (de -0,60% para 0,51%). Em resumo, após a medida do governo que aumentou em 30 pontos porcentuais o IPI dos importados, os preços dos veículos voltaram a subir, após meses em queda.

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Os preços dos alimentos aumentaram 0,64% em setembro, causando impacto de 0,15 ponto porcentual no IPCA e respondendo por 28% do índice mensal. Vários produtos ficaram mais caros, com destaque para o feijão carioca (6,14%), açúcar refinado (3,82%) e cristal (3,42%), frango (2,94%) e leite (2,47%).

Apesar da alta, o grupo alimentação e bebidas mostrou desaceleração de agosto (0,72%) para setembro (0,64%), o que é explicado pelo menor crescimento de preços de determinados itens, destacadamente carnes (de 1,84% em agosto para 0,99%), frutas (de 3,07% para 1,45%) e pão francês (de 0,63% para 0,57%). Houve também quedas expressivas nos preços do alho (de -8,96% para -16,84%), cebola (de -7,40% para -7,69%) e tomate (de -0,58% para -6,79%).

Dessa forma, o grupo alimentação e bebidas (0,64%), com impacto de 0,15 ponto percentual, somado a transportes (0,78%), também com 0,15 ponto, apropriaram-se de 0,30 ponto percentual do IPCA de 0,53%, dominando 57% dele, ou seja, mais da metade.

Repercussão – A elevação de 0,53% já era esperada pelos analistas, após o IBGE ter anunciado, em 20 de setembro, variação idêntica para o IPCA-15 (prévia da inflação oficial). O dado confirma ainda a percepção geral de que o Banco Central abandonou o objetivo de fazer com que a inflação oficial retorne a um patamar aceitável – que é de, no máximo, 6,5% no acumulado em doze meses, o equivalente ao teto da meta de inflação, que tem em seu centro o valor de 4,5%, mas há uma margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima e para baixo.

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O mercado financeiro passou a entender que o objetivo da autoridade monetária agora é preservar o crescimento a qualquer custo, ainda que isso signifique alta expressiva dos preços. A estratégia é considerada arriscada. “É preocupante. O governo está dando mais atenção ao crescimento do PIB, que antes estava com previsão em torno de 5% e baixou para 3,5%. O problema é que ele já se encontra sem muitas ferramentas para combater a inflação. Outras alternativas seriam aumentar o compulsório, ou mexer em instrumentos fiscais”, afirma Roberto Vertamatt, diretor do comitê de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Os economistas alertam que, a despeito da inflação acelerada, o governo não deve mudar a tendência de redução da taxa básica de juros, a Selic. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central surpreendeu os analistas ao anunciar uma redução de 0,5 ponto porcentual da taxa. A explicação, em declarações de membros do BC e na própria ata do Copom, é que o governo trabalha com um cenário pessimista para a economia brasileira, prevendo impactos no país da crise instalada na Europa e nos Estados Unidos. Essas turbulências teriam, de acordo com o BC, o poder de desacelerar a alta dos preços no país, justificando uma redução da Selic. A divulgação do IPCA de setembro mostra, no entanto, que a interpretação está, ao que tudo indica, equivocada. “O cenário está diferente do previsto pelo BC. A instabilidade continua, mas não houve queda de preços significativa nas commodities de forma a ter um reflexo no Brasil”, acrescenta Vertamatt.

Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, lembra que o Banco Central costuma evocar o que acontece em outros países para explicar suas opções no país. “Quanto ao abandono das metas de inflação, o argumento do BC é que outros países também estão descumprindo suas metas para combater a recessão”, afirmou. O que ninguém entende é que a economia brasileira, ainda que com um crescimento menor que o verificado no ano passado, segue em expansão e deve fechar 2011 no positivo. Além disso, alerta Velho, não dá para comparar a economia brasileira com as dos países desenvolvidos, que têm muito menos problemas estruturais para trazer a inflação de volta, como, por exemplo, indexação menor.

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