Inflação oficial da Argentina fecha 2013 em 10,9%
Devido à maquiagem dos preços conduzida pelo governo de Cristina Kirchner o mercado contesta o dado e diz que indicador real é três vezes maior que o anunciado
A inflação oficial da Argentina terminou 2013 em 10,9%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec), órgão oficial do governo. O número, no entanto, é contestado por críticos do governo de Cristina Kirchner, que acreditam que a inflação real seja três vezes maior que a anunciada. Segundo o jornal Clarín, consultorias privadas estimam que o resultado tenha sido de 28,3%.
Em dezembro, o índice de preços ao consumidor calculado pelo governo subiu 1,4%, abaixo da previsão dos economistas, que era de 3,3%. É o valor mais alto desde março de 2005, quando a inflação mensal foi de 1,5%.
Mudanças – Este é o último número do Indec antes da estreia do IPC – Nacional Urbano (IPC-Un), prometido pelo governo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O compromisso assumido pelo governo de Cristina Kirchner com o Fundo é que o indicador seja transparente e reflita os preços reais praticados no país. Embora o atual índice aborde apenas a inflação da região metropolitana de Buenos Aires, historicamente foi uma mostra de referência dos preços. Quando a alta dos preços já atingia dois dígitos e o governo tinha que pagar elevados juros da dívida pública indexada à inflação, o ex-presidente Néstor Kirchner, marido e antecessor de Cristina, teria decidido começar o ano de 2007 com maquiagem do IPC para refletir uma taxa menor que a real.
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A medida representou milhões em poupança para o governo, que pagou menos pelos rendimentos dos títulos públicos, e ajudou na campanha presidencial de Cristina Kirchner para seu primeiro mandato. No entanto, a maquiagem do Indec acentuou as desconfianças sobre o país, disparou as expectativas de inflação e elevou as negociações salariais a níveis insustentáveis, especialmente para as províncias, municípios e governo federal, além das pequenas e médias empresas.
Cenário – Sem uma referência oficial de preços, cada sindicato negocia reajuste que lhe convém e as consultorias e institutos privados têm seus próprios levantamentos. Técnicos em estatística e analistas não acreditam que o novo indicador possa mudar a rotina oficial sobre os índices do país. “É preciso ver o número que vão divulgar em fevereiro. Particularmente, acredito que o problema não era o indicador, mas a forma como é medido. Se não muda a forma, a inflação vai continuar sendo inferior à real”, afirmou o economista Daniel Marx, ex-secretário de Finanças.
Relatório de universidades públicas sobre auditoria realizada no organismo apontou que o problema não era o método, mas os números falsificados. Em meio à expectativa da estreia do novo IPC, já surgem denúncias anônimas na imprensa argentina de funcionários do Indec apontando a falta de seriedade das novas medições. “Estão fazendo tudo de forma improvisada, às carreiras, para chegar ao fim do mês com um número fechado”, disse um técnico ao jornal La Nación.
Se a Argentina não conseguir normalizar suas estatísticas, pode sofrer sanções por parte do FMI, que já emitiu, em fevereiro, moção de censura ao país.
(com Estadão Conteúdo)