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‘Governo fez pré-sal perder seriedade’, diz especialista

A dois dias do segundo turno, novas descobertas são anunciadas pela ANP, colocando o pré-sal no palanque político mais uma vez

Por Ana Clara Costa
29 out 2010, 11h01

Os anúncios sobre o petróleo são verdadeiros, transparentes e sem interesses eleitoreiros? Em quais pontos a Petrobras, de fato, beneficia a população brasileira, para ser usada na campanha?

Em apenas uma semana, três notícias sobre novas reservas de pré-sal foram divulgadas no país. Cada uma delas se refere a áreas diferentes de exploração: o campo de Libra, na bacia de Santos, os poços em águas ultraprofundas na bacia Sergipe-Alagoas, e o rumor de que haja mais petróleo nos blocos BM-S 9, BM-S 40 e BM-S 12, em Tupi. Essa terceira descoberta teria, segundo os mesmos rumores, potencial de exploração de 68 bilhões de barris.

As informações são boas para o país, mas chama atenção o fato de serem divulgadas a menos de uma semana do segundo turno da eleição presidencial. É de se estranhar que tantas boas novas cheguem tão alinhadas com a agenda da estratégia eleitoral da candidata governista ao Planalto, Dilma Rousseff, que baseou boa parte do seu discurso durante a campanha do segundo turno numa fala ufanista sobre a riqueza da Petrobras e do pré-sal brasileiro. Além de propagandear as vitórias da estatal, os petistas ainda insistiram em dizer que uma vitória da oposição colocaria essas conquistas em risco – o que, é sabido, não aconteceria.

Na avaliação de Adriano Pires, diretor do Centro de Pesquisa em Infraestrutura (CBIE), os anúncios feitos sobre o petróleo são despejados no mercado com uma certa dose de irresponsabilidade por parte do governo – representado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). “O pré-sal perdeu seriedade. Há tantos números gigantescos divulgados às vésperas da eleição, que não se pode confiar”, argumenta Pires.

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Valor de mercado – A máquina de propaganda do PT em torno do petróleo e da Petrobras pode, no entanto, ter efeito contrário. Caso todas as descobertas se concretizem e sejam exploradas, as riquezas geradas ao país serão notadas em, no mínimo, uma década. A reserva de Tupi, amplamente divulgada como salvação da economia no final de 2007, produz hoje cerca de 14.000 barris de petróleo por dia. O Brasil consome cerca de 2 milhões de barris diários.

O crescimento da produção de petróleo também não foi exemplar ao longo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o balanço da própria Petrobras, entre 1995 e 2002, a produção de petróleo cresceu 109,5%. Já entre 2003 e 2010, o crescimento foi de 30%. “A empresa já está sendo penalizada por isso”, diz Pires. Desde a capitalização bilionária ocorrida no final de setembro, a Petrobras perdeu mais de 14 bilhões de dólares em valor de mercado. “Como uma empresa que pode explorar toda essa riqueza enterrada está perdendo tanto assim?”, questiona o especialista.

Perspectivas – A divulgação das novas descobertas ainda não motivou analistas a reverem suas perspectivas para as ações da empresa. O anúncio de Libra, cujo potencial de exploração deverá ser divulgado ainda nesta sexta-feira pela ANP, não pode ser considerado positivo para a Petrobras ainda, pois não está sob concessão da companhia no momento. “No curto prazo, os fundamentos não mudam. Não se pode revisar as perspectivas para a empresa antes de um detalhamento maior sobre as descobertas”, afirma Lucas Brendler, do banco Geração Futuro.

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Os questionamentos que permanecem: os anúncios são verdadeiros, transparentes e sem interesses eleitoreiros? Em quais pontos a Petrobras, de fato, beneficia a população brasileira, para ser usada como mote de campanha presidencial? Se as descobertas são tão importantes, não seria melhor divulgá-las com clareza após o frenesi das eleições? Segundo Adriano Pires, a relação direta do governo com o petróleo não é saudável para a população, pois cria expectativa em torno de uma riqueza que não é palpável. “Se criou um mito irresponsável em torno do pré-sal. Domingo, após as eleições, é certo que nem a ANP nem a Petrobras falarão mais disso por um bom tempo”, prevê.

Leia no blog do Reinaldo Azevedo:

Em 26 dias, Lula participou de nada menos do que cinco eventos na Petrobras, um a cada cinco dias. Ontem, lançou a nova Plataforma de Tupi. E voltou a sujar as mãos de petróleo. Num dado momento, quase lambeu o óleo. Até o presidente da empresa, o petista José Sérgio Gabrielli, usa a Petrobras para fazer campanha eleitoral aberta, acusando, o que é mentira, o governo FHC de ter sucateado a Petrobras.

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