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Governo corre contra o tempo para terminar o PAC das Concessões

Dilma passa pente fino em projetos e não poupa ministérios de críticas e exigências. Ela não quer repetir erros ocorridos nos leilões de aeroportos

Por Ana Clara Costa
10 ago 2012, 07h24

Previsto para ser anunciado no último dia 7, o PAC das Concessões – nome dado ao pacote de privatizações de portos, rodovias, ferrovias e aeroportos – deverá ser anunciado apenas em 15 de agosto, após reunião da presidente da República com empresários. A razão para a demora é a determinação de Dilma Rousseff em analisar cada projeto detalhadamente, mesmo tendo delegado poderes às ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Miriam Belchior (Planejamento) para defini-los. Sua insatisfação com as concessões de aeroportos foi tamanha que ela elevou o patamar de exigências para os projetos em discussão, nem que isso obrigue seus ministérios a refazerem dezenas de vezes um mesmo documento.

A intenção era apresentar algo já consolidado a empresários convocados para uma reunião no Palácio do Planalto na última terça-feira. Contudo, um dia antes, o cerimonial da Presidência cancelou o evento, postergando-o para o dia 14. Na tarde desta quinta-feira, a data foi novamente alterada. Entre as medidas em análise estão a elaboração de um novo marco regulatório para o setor de portos, novas concessões rodoviárias e aeroportuárias, além de definições sobre o projeto do trem-bala. Dilma e o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, reuniram-se nesta semana com Masami Iijima, presidente da Mitsui, uma das principais empresas do consórcio japonês interessado no leilão. Em seguida, Pimentel recebeu sozinho Yorihiko Kojima, presidente do grupo Mitsubishi, outro integrante do consórcio. Na quarta-feira, o governo anunciou a criação da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A. (Etav), que será comandada pelo ex-diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo.

Enquanto o plano de redução de preços do setor elétrico esbarrou nos cálculos da Fazenda – que pondera entre engolir arrecadação menor e não cumprir a meta fiscal -, o pacote de privatizações nada tem a ver com os gastos do governo, já que não exigirá investimento público. O problema, segundo fontes que circulam pelos corredores do Planalto, está em dois pontos: na centralização da presidente e no receio do setor privado. Enquanto Dilma está preocupada com detalhes técnicos dos projetos, visando a entrada de construtoras de grande porte nos principais leilões; o setor privado tem dúvidas sobre o retorno financeiro de tais operações. “Muita coisa está parada desde que a presidente assumiu. No governo anterior, o Lula tinha a própria Dilma para cuidar das coisas técnicas, e ele só se preocupava em assinar o projeto pronto. Agora, a presidente não tem outra Dilma para fazer isso. Em vez de delegar, ela centraliza ainda mais”, afirma uma fonte ligada ao governo federal.

Do lado do setor privado, o grande questionamento é a rentabilidade das concessões. “As empresas querem condições normais de mercado. Elas querem uma taxa de retorno compensatória, já que possuem dinheiro para investir”, afirma o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas. No caso das tentativas fracassadas de leilão do trem-bala em 2011 – excluindo-se as questões políticas que envolvem tal negociação -, muitas companhias não aceitaram entrar no projeto por não acreditarem que ele daria o retorno esperado. Na avaliação de Velloso, com rentabilidade considerada insuficientes pelo mercado, investidores mais experientes acabam desistindo dos leilões e dão espaço a outros que querem fazer qualquer negócio, e acabam se arriscando além da conta. “A experiência da concessão de aeroportos, quando operadores inexperientes ganharam, pode ter ensinado alguma coisa ao governo”, afirma.

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Privatização petista – A necessária atuação da presidente pela concessão à iniciativa privada de projetos em que o governo não está disposto (ou não tem condições) a investir deveria encerrar, de uma vez por todas, o capítulo da ‘demonização’ das privatizações. Bandeira levantada pela sigla em todos os pleitos eleitorais, a crítica ao modelo de participação privada defendido pela ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é agora desconstruída, na prática, por Dilma.

A presidente está prestes a assumir o posto de um dos governantes que mais privatizou no país. Parece estar cada vez mais claro para ela (ainda que o partido não concorde) que privatizar não é uma ação ideológica – e sim mais um instrumento de gestão econômica como outro qualquer. Mesmo levando um nome distinto (concessões), a ferramenta tem se mostrado útil ao longo da história recente para melhorar o funcionamento de setores que antes eram considerados ‘paquidermes’ – tamanha a ineficiência, corrupção e burocracia que os cercavam, como o setor elétrico, de telecomunicações e de rodovias.

Depois deste episódio, se o PT prosseguir com a retórica de desqualificar a importância e utilidade das privatizações na condução da economia não restará outra palavra para qualificar essa postura: hipocrisia.

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