iPad brasileiro só depende de licença do governo
Taiwanesa Foxconn, fabricante do tablet da Apple, está a ponto de começar a produzir; o problema é que ainda não recebeu habilitação do governo federal
Até o momento, sete empresas estão autorizadas a produzir tablets com redução fiscal: Samsung, Positivo, Aiox, Motorola, MXT, Envision e Semp Toshiba
A Foxconn utilizará a produção local para abastecer com iPads e iPhones não só a América Latina, mas também os Estados Unidos
A taiwanesa Foxconn – que é responsável pela produção mundial do iPad, da Apple – ainda não recebeu a habilitação dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento e Fazenda que lhe permitiria iniciar a fabricação do produto no Brasil. Somente com esta licença, as peças utilizadas na montagem dos aparelhos passam a ter redução de impostos federais e estaduais, que faz com que os preços dos tablets fiquem até 40% menores. A habilitação permite o enquadramento destes produtos no novo Processo Produtivo Básico (PPB), que consta na Lei de Informática. Segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), até o momento, sete empresas estão autorizadas a produzir tablets com redução fiscal: Samsung, Positivo, Aiox, Motorola, MXT, Envision e Semp Toshiba.
Apesar da falta de autorização por parte do governo, a Foxconn está se movimentando para ter sua estrutura pronta para quando a habilitação for outorgada. O site de VEJA visitou o local onde será produzido o iPad nacional, no quilômetro 66 da Rodovia Anhanguera, no condomínio industrial Global, em Jundiaí – a uma curta distância da maior planta da Foxconn no país, localizada no quilômetro 61 da Rodovia dos Bandeirantes, na mesma cidade, e que conta com 3.500 funcionários.
De acordo com a assessoria de imprensa da taiwanesa, a fase atual é contratação dos profissionais para a nova fábrica, que deverá ser inaugurada ainda este ano. O início da produção, porém, é uma incógnita ainda. Procurado pela reportagem, o MCT reconhece que a habilitação não foi liberada e limita-se a dizer que não há previsão de quando o problema será resolvido. O pedido foi feito no mês de março.
No condomínio Global, é intenso o movimento de profissionais em entrevistas ou no trato dos trâmites burocráticos para contratação. O galpão onde se localiza a fábrica foi alugado pela Foxconn e tem como dono a GWI Real Estate, empresa imobiliária do empresário coreano Mu Hak You – o mesmo dono dos fundos de ações que quebraram no início deste mês.
Só em 2012 – O site de VEJA apurou que a planta poderá ter até 6.000 trabalhadores dedicados à produção de iPhones e iPads, além de e-books da marca Foxconn, que deverão entrar no mercado em 2012. As contratações dos operários para a fábrica serão feitas até o final desta semana pela empresa de recrutamento Extra Consult. Funcionários do condomínio Global relatam que centenas deles já foram admitidos e estão em treinamento. Até o início de setembro, todo o recrutamento será completado, diz a empresa de contratações. De acordo com o prefeito de Jundiaí, Miguel Haddad (PSDB), a fábrica estará pronta para funcionar também em setembro. “Até o momento, essa é a informação que nos foi passada. Que eu saiba, não há mudanças de prazo”, afirmou. A Foxconn não confirma a informação.
Além de funcionários sendo contratados no Brasil, há cerca de 200 brasileiros das áreas de engenharia e tecnologia sendo treinados há dois meses na China, na maior planta da Foxconn, em Shenzhen. Para recrutar tamanho contingente especializado, a Foxconn teve de incorporar talentos da própria concorrência, como Motorola e Samsung.
Desconhecida até o momento em que sua primeira fábrica de produtos da Apple fora da China foi cogitada no Brasil, a Foxconn terá uma missão árdua e, ao mesmo tempo, desafiadora: segundo fontes da empresa, ela utilizará a produção local para abastecer com iPads e iPhones não só a América Latina, como também os Estados Unidos.
Bastidores – A falta de habilitação para fazer tablets com impostos reduzidos não é o único imbróglio que cerca as relações entre Foxconn e governo no Brasil. Segundo a coluna Radar, a empresa previa que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) entrasse com participação no negócio, mas acabou levando uma negativa da instituição. O governo estaria, então, buscando uma nova forma de ajudar a viabilizar o projeto de produção de tablets da empresa.