G20 reúne-se no México de olho na crise europeia
Ainda que um calote grego no curto prazo tenha sido evitado, há preocupação com outras nações da União Europeia excessivamente endividadas
Devem ser acalorados os debates neste sábado e domingo na Cidade do México na reunião dos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais das dezenove maiores economias do mundo mais a União Europeia (G-20). Segundo os especialistas ouvidos pelo site de VEJA, o principal assunto da cúpula será a crise da zona do euro e a possibilidade de que as turbulências na região continuem afetando a economia mundial. Soluções práticas, no entanto, não devem ser obtidas na cúpula.
Ainda que tenha havido um acordo recente para ajudar a conter a crise aguda na Grécia, impedindo um calote em março, a evolução da dívida soberana do país ainda preocupa (veja infografia). O risco mais urgente, contudo, é que outros países europeus sucumbam, o que espalharia a crise a outras economias do continente e do mundo. Diante deste quadro, as discussões vão focar a busca de soluções. Como não há saída fácil, não devem surgir do México grandes novidades. “O encontro vai trazer cartas de intenções muito vagas. Não haverá resoluções práticas”, disse o economista Marcelo Fonseca da gestora de recursos M. Safra.
Divisão – A retomada da atividade na Europa, os problemas que a crise tem gerado às outras economias globais e as perspectivas de ajuda por parte de nações de fora da zona do euro devem ser outros pontos a serem discutidos. Neste contexto, cada bloco deve assumir uma posição. Enquanto os líderes europeus pedirão mais ajuda e justificarão que um aprofundamento das turbulências no continente afetará o mundo inteiro, os Estados Unidos – em ano eleitoral – não querem garantir apoio além do que já foi anunciado. As grandes nações emergentes, por sua vez, até se dispõem a ajudar, mas mediante um comprometimento maior da União Europeia a solucionar a crise.
Com cada bloco econômico defendendo seu ponto-de-vista, e pouco disposto a ceder a outrem, as discussões correm o risco de se resumir a diagnósticos. “Deve haver mais uma avaliação dos desequilíbrios da economia internacional. Eventualmente eles podem trabalhar numa agenda para que os países acabem cooperando na busca de um maior equilíbrio”, afirmou o economista da consultoria Tendências Raphael Martello.
No tocante à crise europeia, avanços significativos serão impossibilitados, na avaliação dele, porque os instrumentos para agir seguem concentrados nas mãos dos líderes da Europa. Só restará às outras nações pressionar. Exclusivamente dentro da UE, Fonseca aponta duas questões que deverão ser alvo das pressões do G-20: a expansão de fundos de estabilização financeira da Europa e a tentativa de conciliar medidas de austeridade fiscal com políticas de incentivo ao crescimento.
Fundos europeus – Com o intuito de impedir que países da UE com problemas mais graves atinjam uma situação crítica, como foi o caso da Grécia, alguns membros do G20 defenderão a ampliação dos recursos aos fundos de estabilização. No entanto, a principal potência do bloco, a Alemanha, posiciona-se contra a medida com medo de ter de comprometer ainda mais recursos próprios para a região. Apesar de as expectativas com este tema serem positivas, até porque existe pressão pesada de países como Japão, China, Reino Unido, Brasil, entre outros, a solução definitiva não virá no G-20. “No médio prazo, a Alemanha vai ceder e o fundo será expandido em parte por causa da situação da Grécia. Mas isso não será definido agora”, disse Fonseca.
Outro alvo de divergência é o balanceamento entre políticas de austeridade com medidas para o crescimento. “Um tema muito bonito de se falar, mas quase impossível de se conciliar”, afirmou o economista do M. Safra. A principal explicação para o pessimismo é o fato de Alemanha, França, Noruega e Suíça continuarem a exigir novos cortes das nações mais endividadas. A expectativa, portanto, é que essa discussão perdure no médio prazo.
FMI – Outro tema a ser discutido, mas sem aparente novidade para este fim de semana, é o aumento dos aportes de recursos no Fundo Monetário Internacional (FMI) para apoiar nações em apuro. As destinações podem chegar a 600 bilhões de dólares. Também neste tema há muitos interesses conflitantes. O próprio FMI mostra-se desconfortável em ficar excessivamente exposto a um reduzido número de países, no caso os próprios europeus. Tal postura reticente é apoiada pelas nações de fora do bloco. Há ainda a tentativa dos emergentes, como China e Brasil, de aproveitar o momento para ampliar seus aportes e, assim, conseguirem maior participação no organismo.
A expectativa é que a crise da Grécia seja abordada durante o encontro, mas, diante dos acordos alcançados nesta semana, com o acerto de um segundo empréstimo para o país saldar parte de suas dívidas, ela deixa de ser o centro das atenções. “Esse não é mais um problema de curto prazo, mas vai ajudar a trazer para discussão a situação de outros países com problemas no bloco”, disse Martello.