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Fiscalização urbana amplia flagrantes de trabalho escravo em varejistas

O problema, contudo, é mais sério nas áreas rurais; a boa notícia é que, desde 1995, o governo tem feito um trabalho sistemático de erradicação desta prática

Por Benedito Sverberi e Beatriz Ferrari
17 ago 2011, 20h08

A recente denúncia de trabalho escravo envolvendo uma fornecedora de roupas da grife Zara, do grupo Inditex, vem descortinar o fato de que a prática não foi completamente erradicada no Brasil. Nos últimos anos, grandes redes de varejo de vestuário, como a marca espanhola, têm sido autuadas pela Justiça por comprar de confecções que empregam pessoas que trabalham sob regime de escravidão. Até o próprio governo – na figura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – chegou a ser notificado por uma ocorrência desta natureza (veja quadro). Numa primeira avaliação, a impressão que se tem é de que o problema parece disseminado. Contudo, segundo a organização não-governamental Repórter Brasil, especializada no assunto, o número de trabalhadores afetados pelo problema chega à casa do milhar. Se a taxa é relativamente baixa em comparação com os 45 milhões de pessoas que possuem carteira assinada no país, por questão ética e ao mesmo tempo econômica, é tarefa do governo combater o problema. O poder público, felizmente, tem ampliado o trabalho de fiscalização à prática. A autuação das varejistas, inclusive, é fruto da intensificação desta política nas áreas urbanas.

Nos últimos dois anos, as inspeções realizadas pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e por secretarias ligadas aos governos estaduais têm se voltado mais intensamente às cidades. Essa opção traduz-se em maior número de descobertas de trabalho escravo, autuações e pessoas libertadas nas áreas urbanas, com destaque para as confecções (veja quadro) e a construção civil. A ONG Repórter Brasil chama o fato de “efeito lanterna” – o simples ato de jogar luz sobre algo faz com que este se torne visível. Faz questão de frisar que, disparado, o problema é mais comum nas áreas rurais, sobretudo em regiões da Amazônia Legal ocupadas pela pecuária. O próprio isolamento geográfico favorece sua disseminação. Perto de 40 mil trabalhadores em regime de escravidão foram libertados nos últimos 15 anos em fazendas espalhadas por todo o território nacional.

A legislação define como escravo aquele empregado que tem sua liberdade cerceada – ficando impedido de se desligar do patrão por pressões de natureza física, psicológica, tortura e fraude, e também por isolamento geográfico ou servidão por dívida – e/ou que trabalha em condições degradantes de salário, alojamento insalubre, tratamento desumano, etc. A triste constatação é que muitos casos identificados pela Justiça reúnem, ao mesmo tempo, várias destas características. Foi, infelizmente, o que se verificou na confecção paulistana que vendia para a Zara. De acordo com a lei, não adianta a empresa alegar desconhecimento desta prática no fornecedor. “A empresa precisa ter controle sobre a mercadoria que adquire. Não adianta dizer que não sabia. Se não sabia, deveria saber”, afirma Renato Bignami, subsecretário de Inspeção do Trabalho do ministério.

Avanços – A boa notícia é que o Brasil tem avançado no combate da escravidão moderna. Uma política sistemática de fiscalização, punição e prevenção foi implementada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995. O programa foi intensificado no governo anterior e mantido por Dilma Rousseff. Tornou-se, na visão da Repórter Brasil, uma política de estado, que independe de interesses partidários. “Nos últimos anos, o ministério reforçou a fiscalização do emprego de trabalhadores vulneráveis. Já foram mais de 30 operações. O obejtivo é criar consciência no setor. Este é o começo, e esperamos que as empresas se adequem”, diz Bignami.

As empresas brasileiras podem aderir ainda ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que é coordenado pelo Instituto Ethos, o Instituto Observatório Social, a Repórter Brasil e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ao fazer parte do sistema, elas comprometem-se a adotar as melhores práticas de combate e prevenção à escravidão. O projeto já conta com a participação de companhias do porte da Petrobras e da Vale. A ONG diz que tornar-se membro desta rede pode ser um primeiro passo para que a Zara comece a reverter o prejuízo causado pela recente denúncia à sua imagem. Ao fazer isso, a marca espanhola teria de rever toda sua rede, rompendo contratos com aquelas empresas que compactuem com o trabalho escravo. Foi o que fez a C&A nos últimos anos. A rede alemã, aliás, é considerada hoje referência, com uma política de controle de seus fornecedores, e também de prevenção, digna de elogio.

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