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‘Falta ao Brasil uma política pública de empreendedorismo’, diz diretora da Unctad

Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, Fiorina Mugione, chefe da divisão de empreendedorismo da Unctad, explica a importância de se ter um governo que melhore o ambiente de negócios no país. Ela também defende a inclusão de temas relacionados ao empreendedorismo no currículo escolar

Por Naiara Infante Bertão
30 mar 2013, 18h20

O Brasil é o terceiro maior país em número de empreendedores, com cerca de 27 milhões de pessoas que trabalham em seu próprio negócio, de acordo com levantamento do Sebrae. Ao longo da última década, o empreendedorismo por oportunidade – quando o trabalhador empreende por vontade própria e não por força das circunstâncias – passou de 45% em 2002 para 69% do total de novos empreendimentos em 2011. Contudo, o governo não avançou em políticas públicas que estimulem o empreendedorismo – atendo-se apenas àquelas que favorecem o consumo. Tal constatação foi feita por Fiorina Mugione, há mais de seis anos à frente da divisão de Empreendedorismo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês).

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Fiorina Mugione, chefe da Divisão de Empreendedorismo da Unctad
Fiorina Mugione, chefe da Divisão de Empreendedorismo da Unctad (VEJA)

Fiorina viaja por países emergentes levando os conceitos que o organismo acredita serem primordiais para o desenvolvimento da cultura empreendedora. Neste mês, participou, no Rio de Janeiro, do primeiro Global Entrepreneurship Congress (Congresso Global de Empreendedorismo) na América Latina, promovido pela Semana Global de Empreendedorismo, a Kauffman Foundation e a Endeavor Brasil – e conhecido como a ‘Copa do Empreendedorismo’. Ao falar com exclusividade com o site de VEJA, Fiorina foi enfática na defesa da necessidade de uma política pública focada na formação de empreendedores. “A educação empreendedora é importante para fortalecer a capacidade e o desejo de mais pessoas começarem seus próprios negócios”, afirmou. Confira trechos da entrevista.

O que falta para que o Brasil decida, finalmente, investir na formação de empreendedores?

Há políticas públicas que poderiam ajudar a melhorar o clima de negócios para empreendedores no país e o governo deve ter um papel nessa ação. É preciso definir se será mais adequado ter uma abordagem mais proativa ou reativa. De uma maneira geral, identificamos que as principais medidas regulatórias necessárias para promover o empreendedorismo são a redução da burocracia, a melhora da capacitação profissional, a promoção de reformas fiscais, a flexibilização de políticas de trabalho e o aumento dos incentivos para a inovação. É preciso a construção de uma vibrante ‘comunidade de startups’ (empresas em estágio inicial) para que o número de empreendedores cresça.

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O governo tem de começar do zero?

Primeiramente, é preciso adotar uma estratégia nacional de empreendedorismo engajando o setor privado e a sociedade civil. Há ainda muito que melhorar no ambiente que empreendedores enfrentam para começar um negócio novo e expandi-lo no Brasil. Empreendedores brasileiros têm dificuldade em começar e também fechar negócios próprios por causa da burocracia, do sistema complexo de impostos e de dificuldades para acessar financiamentos. Além disso, a educação empreendedora no Brasil é insuficiente, com exceção de alguns esforços pontuais para introduzi-la no sistema formal ou mesmo informal de educação básica.

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27 milhões é o número de pessoas que trabalham em seu próprio negócio, de acordo com levantamento do Sebrae

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Em quais pontos o Brasil já está avançando?

Posso citar a redução do número de dias e do custo de se abrir uma empresa no país, além da criação de uma ampla campanha para estimular a formalização das companhias. A lei de inovação (Lei N° 10.973), de 2004, também é interessante para incentivar a criação de novas empresas. Há ações fragmentadas sendo feitas. O que falta, na verdade, é uma coordenação pública do governo para elas caminharem na mesma direção. Políticas econômicas, por exemplo, particularmente o comércio e o investimento, deveriam estar ligadas ao empreendedorismo.

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A atitude protecionista do governo em alguns campos econômicos afeta o empreendedorismo?

O Brasil deu passos importantes recentemente no sentido de promover o empreendedorismo e criar um ambiente favorável à formalização e expansão das startups. Contudo, empreendedores continuam sofrendo com o alto custo de se fazer negócios no Brasil e da falta de competitividade nos mercados internacionais, o que clama por atenção do governo.

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Em quais áreas empreendedoras o Brasil tem desempenho bom?

O Brasil está progredindo na área de inovação e tecnologia, assim como consciência empreendedora e rede de relacionamento. Todas as outras requerem atenção.

A senhora diz que é importante um país designar uma instituição para liderar o empreendedorismo. No Brasil, qual instituição poderia desempenhar esse papel?

O Sebrae é uma instituição líder neste setor que poderia ser mais engajada no desenvolvimento dessa política.

Quais países emergentes estão avançando mais do que o Brasil nessa área?

Na América Latina, por exemplo, podemos citar Costa Rica e Colômbia como países que têm um bom ecossistema empreendedor. A Costa Rica adotou uma estratégia ampla de empreendedorismo para os anos de 2010 a 2014, enquanto a Colômbia tem uma boa integração de suas políticas empreendedoras com o desenvolvimento econômico, além de estimular a participação do setor privado na melhoria da competitividade do país. Graças a esses esforços, eles aumentaram seus índices em pesquisas, como a feita pelo Banco Mundial que mede a facilidade de se fazer negócios nos países e a do Global Entrepreneurship Monitor sobre o crescimento do número de empreendedores.

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A inclusão do tema empreendedorismo no currículo escolar é uma necessidade?

Certamente. Educação empreendedora é importante para fortalecer a capacidade e o desejo de mais pessoas começarem seus próprios negócios, além de desenvolver uma cultura empreendedora na sociedade. A educação empreendedora, porém, não deve estar restrita ao currículo universitário e a cursos de pós-graduação, mas também estar presente em diferentes níveis educacionais, como em escolas primárias, ensino médio e no ensino superior. Ela também não pode ser separada de outras disciplinas, mas sim incorporada nas atividades do dia a dia dos professores e da sala de aula. Isso também requer uma mudança de postura dos professores, que não se limitariam a ensinar apenas técnicas de gestão de negócios, mas também expandiria para o ensino de habilidades empreendedoras, tais como a busca por oportunidades, cálculo de risco, negociação e construção de rede de relacionamento. O currículo desenhado deveria incluir métodos de interatividade do professor com o aluno que incorpora experiências práticas e o encoraja a aprender por meio da comparação com formas mais tradicionais de aprendizado escolar. Muitos programas de educação empreendedora engajam empreendedores reais como conselheiros voluntários, mentores ou ainda consultores.

Quais países têm mais avanço em educação empreendedora?

Na América Latina, o Chile está avançado na inserção da educação empreendedora no currículo regular de seu sistema educacional. Os ministros da Educação e da Economia têm colaborado para desenvolver este programa e, em 2010, foram registrados 78 mil estudantes de 546 escolas. O país também investiu no desenvolvimento de metodologias de ensino para os professores. Os ministros planejam começar a medir o impacto do desenvolvimento de uma política pública nacional de empreendedorismo já em 2014 em colaboração com o setor privado e o apoio da sociedade civil.

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