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Europa tenta delinear o possível destino do euro

Dissolução da moeda única – que antes era impensável – torna-se uma alternativa possível para salvar a economia do continente europeu

Por Ana Clara Costa
11 nov 2011, 09h29

O euro, a moeda única da União Europeia, teve inimigos ferrenhos desde que foi concebido. Muitos são economistas respeitados, mas, fossem quais fossem as credenciais acadêmicas, quem insistisse em falar do assunto era visto, até pouco tempo atrás, tão somente como uma voz agourenta. Um exemplo é o francês Jean-Jacques Rosa, fundador do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da SciencesPo, em Paris. No início deste ano ele lançou o livro Euro: Como se livrar dele (Editora Grasset), no qual afirma que a moeda não é apenas um entrave para o crescimento da economia francesa, mas “o maior erro da Europa”. Ceticismo é uma palavra amena para descrever a recepção ao seu trabalho no continente.

Ao longo do ano, contudo, esse cenário mudou. A crise grega fez com que estudos “anti-euro” de franceses, alemães e italianos fossem tirados do fundo da estante e analisados com afinco pelas equipes econômicas dos países líderes do bloco europeu, França e Alemanha. Nesta semana, quando se avolumaram os indícios de que a situação econômica da Itália talvez fugisse ao controle, veio à tona que as elucubrações acadêmicas de outrora já alimentam debates políticos reais. Na quarta-feira, a agência Reuters publicou notícia afirmando que as conversas entre as duas maiores economias da zona do euro têm acontecido há meses, em todos os níveis de governo, e que delas já resultou uma lista de países “indesejáveis” no bloco. “Precisamos estabelecer a lista exata de quem não quer mais fazer parte do clube e de quem simplesmente não pode mais fazer parte”, disse um representante de um dos países à Reuters. Logo o assunto ocupou manchetes de outras importantes publicações internacionais.

Segundo Irwin Collier, professor de Economia da Universidade Livre de Berlim, alguns membros do CDU, o partido da chanceler alemã Angela Merkel, têm conversado sobre abrir uma votação para que os membros europeus recebam a permissão de sair da zona do euro, sem ter de deixar, necessariamente, a União Europeia. “Ainda não se fala abertamente sobre o assunto, sobretudo porque Merkel é muito cuidadosa. Mas está ficando difícil imaginar alguma outra solução para economia grega”, afirma Collier.

Após 19 anos da criação da União Europeia e 12 de implantação da moeda única, ficou claro que os pilares do sistema apresentam grandes rachaduras. Um abismo separa a agricultura e a indústria de países como Alemanha e Portugal, que usam a mesma moeda, sem ter a mesma força econômica. O quadro se agrava quando se constata que tampouco há paridade fiscal entre os países. Mais grave ainda é o fato de que no bloco há nações que maquiaram suas contas públicas, como a Grécia, e outras que se endividaram além da conta, como Portugal e Irlanda. “Na zona do euro, cometemos um erro grave ao colocarmos o sistema monetário à frente do sistema político”, afirma Collier.

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Nesse contexto, a Itália tem papel emblemático. O endividamento do país é de 120% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo dos 190% da Grécia. A dívida externa chega a 24% do PIB, mesmo patamar que países como Inglaterra e Estados Unidos – e bem abaixo da dívida espanhola, por exemplo, que já atinge 96% do PIB. Contudo, a desconfiança que paira sobre a Península Itálica é se o país conseguirá, em 2012, honrar o pagamento dos juros de sua dívida, no valor de 300 bilhões de euros. Com os juros (que são as taxas de retorno sobre títulos da dívida) superando os 7,5% ao ano, constata-se que os investidores estão exigindo um prêmio muito maior para comprar os títulos e que o país terá dificuldade em emitir novos papeis para captar os bilhões que serão necessários no ano que vem. O mercado não confia na capacidade da Itália de gerir suas contas públicas e sua dívida.

Diante de previsões pouco otimistas, conheça alguns cenários vislumbrados por economistas para sustentar a economia europeia nos próximos anos – com ou sem o euro.

(Com reportagem de Carolina Guerra)

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