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Disparada do dólar evidencia falta de estratégia do BC

Atuação da autoridade monetária no câmbio não é clara para o mercado e estimula a especulação sobre a moeda; real é um dos principais perdedores entre os emergentes

Por Ana Clara Costa e Talita Fernandes
19 ago 2013, 19h22

O dólar rompeu o patamar de 2,40 reais nesta segunda-feira, chegando a ser negociado acima de 2,42 reais, maior cotação em mais de quatro anos. A alta ocorreu mesmo depois da atuação do Banco Central (BC) em três leilões de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro). Nos últimos três meses, o BC já ofertou mais de 25 bilhões de dólares em contratos de swap sem conseguir, em nenhum aspecto, reverter a tendência de alta da moeda ou sequer trazer alguma estabilidade cambial.

A autoridade monetária já anunciou que passará a atuar no mercado à vista nesta terça, despejando até 4 bilhões de dólares no setor financeiro, na expectativa de conter a moeda norte-americana. As opiniões dos analistas sobre esse tipo de oferta são divergentes. Há quem acredite que o efeito será imediato para conter a volatilidade da moeda. É o caso de Sidnei Moura Nehme, diretor da NGO Corretora. “Com esse tipo de leilão, o BC dá liquidez por meio dos bancos. É uma forma de conter a alta especulativa porque os especuladores estão no mercado futuro”, afirma.

Outros avaliam que não será diferente dos resultados que têm sido obtidos com os últimos leilões. “Pode ser que tenha um efeito maior, mas não há muita diferença entre a atuação no mercado à vista e no mercado futuro”, afirma a economista Gabriela Fernandas, do Itaú BBA. A última vez que o BC vendeu dólares no mercado à vista foi em 20 de junho deste ano.

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As opiniões sobre o futuro do câmbio divergem constantemente porque não há uma mensagem clara do Banco Central sobre suas intenções ao intervir no mercado. Ao mesmo tempo em que o BC dá a entender que seu objetivo é conter a volatilidade, há momentos em que o mercado está muito volátil e a autoridade não entra vendendo dólares. “As últimas atuações (do BC) tem sido mais erráticas. O mercado está com dificuldades para entender qual é a nova dinâmica”, diz Gabriela. Segundo a economista, o histórico recente de atuação do BC faz, justamente, com que suas intervenções tenham menos poder sobre a moeda. “O mercado não entende o que ele quer”, diz.

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Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, uma mudança positiva na percepção do mercado seria, por exemplo, o BC entrar de forma mais agressiva nos leilões, colocando mais lotes da moeda à venda. “Não é nada improvável que o dólar chegue a 2,50 reais no curto prazo, a menos que o BC mude a postura.”

Um comunicado enviado pelo banco Barclays a investidores evidencia o mesmo problema. Segundo os analistas do banco, o BC não está tentando frear o fortalecimento do dólar e tampouco cogita estabelecer um piso para o real. “Vemos o BC preocupado com as consequências inflacionárias do enfraquecimento do real, mas ele mostra que não está disposto a queimar reservas para conter essa tendência”, informa o comunicado.

Na mesma nota, o banco se disse surpreso com a rápida desvalorização do real – algo que seus analistas esperavam que acontecesse apenas no início de 2014, quando, segundo o Barclays, o Brasil terá sua nota de crédito rebaixada pelas agências de classificação de risco devido à deterioração das contas públicas. Em junho deste ano, a Standard & Poor’s revisou para baixo a perspectiva da nota brasileira. De acordo com a agência, para não ter a nota rebaixada, o governo precisará dar demonstrações claras de melhora na situação fiscal e reconquistar a credibilidade perdida.

Fim dos estímulos – Segundo o Barclays, a possível redução dos estímulos econômicos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), a partir de setembro deste ano, funcionou como um estopim para a desvalorização das moedas dos países emergentes – mas, no caso do Brasil, os efeitos foram sentidos com mais força.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na última sexta-feira que o patamar de 2,30 reais estava “confortável” para alguns setores, o que fez com que a moeda disparasse para 2,39 reais, acumulando alta de mais de 5% na semana. Mantega aproveitou para culpar o Fed pela desvalorização do real e enfatizou que se trata de um movimento global de fortalecimento do dólar.

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Contudo, o ministro não se ateve ao fato inegável: o real é segunda moeda mais castigada em 2013, perdendo apenas para o rand sul-africano. Segundo dados de câmbio do Citibank, enquanto o real acumula perdas de 14,15% no ano, a moeda do país africano perde 15,75%. No caso da rúpia indiana, a desvalorização é de 10,8% no mesmo período, e o rublo russo perde 7,12%. O México, novo queridinho dos investidores entre os países emergentes, vê seu peso se desvalorizar apenas 0,36% em 2013. Até mesmo a moeda argentina perde menos que o real – cerca de 12% no ano.

É ponto pacífico que a atuação do Fed afeta o valor de todas as moedas. Mas, devido à frustração dos investidores com o Brasil e à piora constante dos indicadores, como PIB e inflação, a tendência é de que o real continue sendo mais penalizado. “O desempenho macroeconômico tem contado bastante e os investidores precificaram isso no real”, afirma Robert Wood, da Economist Intelligence Unit (EIU).

A expectativa dos economistas é que a volatilidade aumente ao longo da semana diante das expectativas em torno da ata da reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), o comitê de política monetária do Fed, que deverá ser divulgada na quarta-feira.

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