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Disputa política está na raiz da paralisia do governo gaúcho

Não bastassem contas públicas de difícil administração, o estado sofre para tomar decisões importantes por conta das aguerridas disputas políticas

Por Ana Clara Costa, de Porto Alegre
3 out 2011, 10h01

Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul não tem sido exemplo de pujança nos últimos anos, vide o crescimento abaixo da média nacional, o investimento público é marcado pela estagnação. E a origem do problema é política. Há anos, o governo gaúcho é cenário de aguerridas disputas entre diferentes líderes locais e partidos que não se transformam em medidas consistentes de desenvolvimento à altura das necessidades do estado. A falta de um governo que seja parceiro do empreendedorismo tão característico dos gaúchos está, portanto, na raiz de boa parte dos problemas econômicos regionais.

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Não se trata aqui de culpar um ou outro governante ou partido, haja vista que o estado já contabiliza mais de duas décadas de investimentos insuficientes, sobretudo em infraestrutura. A explicação mais comum que se ouve pelos pampas é que o governo afundou-se em dívidas gigantescas e, para sanar o caixa deficitário, teve de deixar as políticas de desenvolvimento em segundo plano.

O economista Adalmir Antonio Marquetti, presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do estado (aquela mesma entidade que foi comandada pela presidente Dilma Rousseff nos idos de 1990), detalha melhor a situação. Segundo ele, com o aperto fiscal dos últimos anos, o estado gaúcho conseguiu acumular sucessivos superávits primários, que é a economia do governo para reduzir o endividamento de longo prazo. O cálculo do primário dá-se pela diferença entre arrecadação e gastos, excluindo o serviço da dívida pública – e é nesta última conta que o reside o problema. Cerca de 10% do orçamento do estado é direcionado para pagar dívidas. Devido aos juros elevados, o superávit alcançado com o aperto fiscal não tem sido suficiente para reduzir o déficit nominal (o endividamento total). “O ajuste das contas não tem sido suficiente para que sobre dinheiro para investir mais, e isso impede que o estado funcione como indutor do crescimento”, afirma o economista.

A explicação é relevante, mas não é suficiente, apontam especialistas e empresários. Alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais, também passaram por um período de pesado esforço fiscal para reequilibrar as contas. No entanto, nem por isso o investimento foi tão prejudicado. Em 2006, Minas Gerais investiu 8,5% de seu orçamento no estado, enquanto o Rio Grande do Sul, apenas 4,6%. Em 2010, o governo mineiro manteve os investimentos em 8,6% da receita, enquanto o gaúcho havia avançado apenas para 5,3%. “Quando se fala em reduzir o orçamento, a primeira coisa que se aperta é o investimento. E é justamente o investimento que tem de ser feito em primeiro lugar”, avalia o empresário Daniel Randon, presidente da Fras-le, uma das principais indústrias de componentes automotivos do pais, localizada em Caxias do Sul.

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Grenalismo – Essa matemática prejudicial ao estado tem sua origem em questões que vão além das finanças públicas e incluem até mesmo aspectos culturais. O “grenalismo” – palavra criada para denominar a guerra fria que existe entre gremistas e colorados e que pode definir também certa predisposição a divisões muito acirradas – é um exemplo disso. Tal característica tão própria do povo gaúcho, quando levada à política, tem feito com que decisões importantes para o estado levem muito tempo a serem tomadas. Na avaliação de economistas, empresários e dos próprios habitantes, essa dicotomia que separa os torcedores dos dois principais times gaúchos aplica-se a praticamente todos os setores onde se faz necessário o consenso. Isso significa que o conflito de opiniões é tão enraizado na cultura local que acaba atravancando projetos que exigem que uma das partes ceda. “O gaúcho, em geral, não gosta de ficar em cima do muro. Ele prefere estar errado do que não ter uma opinião forte a respeito de algo”, diz um porto-alegrense.

Diante disso, o político gaúcho – que tem dificuldade histórica em fazer concessões para alcançar um objetivo maior – nem sempre consegue transformar alianças políticas em benefícios ao estado. Não raro, as conversas nos gabinetes e corredores dos prédios públicos terminam em briga – ou peleia, como eles gostam de dizer. “Havia uma divisão clara: um grupo de centro-esquerda ligado ao PT, e outro de centro-direita alinhado com o PMDB, que lidera a oposição no estado. E nunca esses grupos conseguiam se entender. Cada negociação que ocorria na Assembléia era uma disputa. E quem perdia, era o povo”, afirma Marquetti.

A situação não evoluiu muito desde então, mas há indícios de que o trato político tem andado menos ríspido. Em janeiro, foi criado o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES RS), composto por políticos, empresários e trabalhadores – em um grupo peculiar de oitenta cidadãos, cujos nomes vão desde Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração da Gerdau, até pessoas ligadas ao movimento dos sem-terra. O objetivo é inserir a população nas discussões sobre políticas públicas que visam retomar o crescimento no estado. Contudo, isso não quer dizer que, do dia para a noite, os partidos locais passaram a negociar com mais facilidade. Com o PSDB acuado e o PMDB medindo palavras para não se indispor com o Planalto, a base aliada do atual governador, Tarso Genro (PT), comanda o estado. Tanto o governo, quanto a prefeitura de Porto Alegre e a Assembléia Legislativa são lideradas por petistas ou coligados. Com essa verticalização e força política, o povo gaúcho espera que, ao menos, as peleias diminuam e projetos urgentes sejam aprovados.

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