Quando o dólar mergulhou para perto de 1,50 real, em meados de 2011, a presidente Dilma Rousseff e seu então ministro da Fazenda, Guido Mantega, criaram comoção mundial com a afirmação de que o Brasil estava sendo “invadido” por dólares especulativos no contexto do que chamaram de “guerra cambial”. Na avaliação da presidente recém-empossada, os investidores não estavam depositando suas reservas no Brasil por crença na economia brasileira, e sim para explorar ganhos de curto prazo sobre títulos do país, que remuneravam bem o capital estrangeiro com taxas de juros atrativas. A maioria massacrante dos economistas discordava da presidente. Diziam que se o dólar estava baixo, era reflexo dos bons fundamentos econômicos do país: inflação sob controle, contas públicas nos eixos e a manutenção do regime de câmbio flutuante. Contribuía também a estabilidade política.
Em setembro de 2015, o Brasil parece outra nação. Não há sequer um pilar da economia brasileira que esteja dentro dos bons parâmetros e a instabilidade política causa apreensão em todos os estratos da sociedade. Depois de mais de quatro anos de deslizes econômicos, o país está mergulhado numa crise que tem feito os investidores partir em debandada. Como reflexo do quadro que se formou, o dólar cravou, nesta terça, seu maior valor desde a criação do real: 4,05 reais. Mas, assim como em 2011, a presidente faz a avaliação errada do cenário.
Desde segunda-feira, a presidente levou a cabo uma forte articulação para que o Congresso não votasse os vetos sobre a chamada pauta-bomba – uma série de medidas aprovadas por parlamentares e que têm o potencial de implodir as finanças públicas. Dilma vetou os itens de impacto fiscal que podem onerar os cofres em mais de 20 bilhões de reais só este ano. Se os vetos forem derrubados, o plano de ajuste fiscal vai pelo ralo. Daí a articulação, compreensível, da presidente – e que resultou em apoio não só do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como também do presidente do Senado, Renan Calheiros.
Obter a chancela de ambos a essa altura do campeonato já é por si só uma façanha. Mas, no último minuto, Dilma recuou. Desistiu de operar para que a apreciação dos vetos fosse adiada. Decidiu que o correto, agora, é que sejam votados. A razão: o dólar. A presidente avalia que a moeda estourou o patamar de 4 reais não por causa do derretimento dos fundamentos econômicos ou da crise política. Para Dilma, a moeda disparou a 4 reais devido à instabilidade causada pela possibilidade de os vetos serem derrubados.
Num movimento ligeiro na tarde desta terça, a presidente articulou apoio do Senado para não só colocar em pauta como manter os vetos. Queria passar o recado ao mercado de que, com os votos dos senadores aliados, conseguiria maioria para passar os vetos e eliminaria tal preocupação do radar. Não funcionou: o dólar fechou em alta. Há duas hipóteses para a estratégia falha: ou o dólar não disparou por causa da questão dos vetos, ou o mercado não acredita que ela conseguirá mantê-los. Moral da história: a presidente continua sem entender a movimentação cambial. (Ana Clara Costa, de Brasília)
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