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Depois do pico, inadimplência deve começar a cair

Famílias endividadas aproveitarão o 13º salário para pagar dívidas. Quase metade de toda a renda adicional na economia terá como destino os bancos

Por Carolina Almeida Lima e Benedito Sverberi
22 dez 2011, 17h36

Indicador Serasa Experian de Perspectiva da Inadimplência do Consumidor aponta que as taxas efetivas deve começar a cair já nos próximos meses

Como acontece em todo fim de ano, milhões de brasileiros estão com mais dinheiro no bolso graças ao pagamento do 13º salário. A estimativa é que, entre novembro e dezembro, aproximadamente 118 bilhões de reais tenham sido injetados na economia com a liberação da 1ª e da 2ª parcelas do benefício. O valor é recorde é representa um avanço de 15% sobre o apurado no mesmo período do ano passado. Para os varejistas, no entanto, o desempenho da comercialização de bens e serviços em 2011 poderá trazer saudade do Natal de 2010. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) projeta um aumento de 6,5% das vendas nestas Festas – metade da alta apurada em igual período do ano anterior. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA apostam que os presentes deste ano serão, em sua maioria, ‘lembrancinhas’ e que os brasileiros destinarão boa parcela de sua renda adicional ao pagamento de dívidas. Este comportamento é uma boa notícia, pois abre espaço para um bem-vindo controle da taxa de inadimplência no país.

Famílias no vermelho – A taxa de insolvência das pessoas físicas – medida pelo Banco Central para os atrasos nos pagamentos de empréstimos de mais de 90 dias – atingiu recorde em novembro, de 7,3%. Outro dado apurado pelo BC dá o tom preocupante da trajetória do endividamento no país. A dívida total das famílias junto aos bancos, enquanto proporção da renda acumulada em doze meses, não para de crescer. Em outubro, atingiu a marca histórica de 42,47%.

Economia desacelera – Estes números preocupantes coincidem com um ano que chega ao fim com um panorama bem diferente do que começou: a forte expansão da economia brasileira deu lugar a uma desaceleração visível – tanto que o PIB mostrou estagnação no terceiro trimestre. As medidas macroprudenciais, adotadas pelo governo desde o final de 2010 para moderar o crescimento econômico – e assim amenizar a alta dos preços -, começaram a tomar corpo na segunda metade do ano. Graças a elas, muitas linhas de financiamento tornaram-se menos acessíveis. Além disso, a própria taxa básica anual de juros voltou a subir, passando de 10,75% no início da gestão Dilma, com pico de 12,00% em meados do ano. Os bancos, por sua vez, ficaram mais rigorosos na concessão de empréstimos ante o avanço da inadimplência e os temores da crise internacional.

Não bastasse o noticiário negativo, as famílias já podem sentir essa paralisia econômica no bolso. Está mais difícil, por exemplo, conseguir aumentos acima da inflação. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado em 11 de dezembro, indica que o aumento real médio dos salários das categorias com data-base no 2º semestre tende a ficar em torno de apenas 1,36%. “O consumidor está com medo do cenário instável para 2012”, comentou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços E Turismo (CNC), Carlos Thadeu.

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Brasileiros começam a reagir – Dessa forma, nada mais prudente que utilizar esse final do ano para ajustar as finanças. Para os especialistas, as famílias vão aproveitar o dinheiro a mais no bolso, proporcionado pelo décimo terceiro, para pagar as dívidas contraídas. Dentro dessa perspectiva, não só o consumo como a inadimplência devem baixar. “O que nós estamos vendo agora é as pessoas buscando regularizar suas situações financeiras”, comentou o gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Habi.

Nome sujo nem pensar – Administrar dívidas junto a administradoras de cartão de crédito, bancos, financeiras e varejistas já seria um desafio para boa parcela da população brasileira. Especialmente os integrantes das camadas mais pobres têm razões adicionais para se preocupar, pois o custo de ter o “nome sujo na praça” no caso deles é mais alto. Somam-se a isso os efeitos da crise financeira internacional no país e a inflação que custa dar trégua, com impactos no mercado de trabalho e na renda.

Uma pesquisa realizada em novembro pelo Data Popular com 5.003 pessoas conseguiu captar esse espírito de cautela que começam a prevalecer entre as pessoas. Os dados apontam que 46,4% de todo o dinheiro despejado na economia pelo 13º salário, ou 54,8 bilhões de reais, será destinado para sanar pendências junto ao sistema financeiro. Quanto menor a renda do indivíduo, maior será a parcela do 13º destinada ao pagamento de dívida. A classe de rendimento mais baixa reservará 55,7% de seu rendimento adicional de fim de ano para esta finalidade. A nova classe média, ou a classe C, terá comportamento bastante semelhante: 53,9% do seu 13º vai direto para os bancos, financeiras e administradoras de cartão. Essa faixa da população, aliás, ultrapassou a alta renda na divisão do bolo do 13º. Hoje, ela já responde por 54,3% do volume bilionário de recursos que rega a economia todo final de ano. A classe mais abastada responde por 38,5%.

Ciclo de consumo perde fôlego – Os analistas também apontam que, a despeito da crise, é até certo ponto natural uma acomodação do consumo e do endividamento após um ciclo de forte expansão. O ano passado foi decisivo para esse panorama. O expressivo desenvolvimento econômico, aliado à manutenção da taxa de juros por todo o segundo semestre e à mobilidade social, tornou possível a aquisição de diversos itens – de celulares a computadores, até carros e imóveis. Tudo com o empurrão do mercado de crédito. “As pessoas estavam fora do mercado de consumo. Era normal que houvesse esse ‘boom‘ inicial porque havia toda uma demanda reprimida. Contudo, essa situação tem um limite. Esse impulso já é menor que um ano atrás e tende a ser mais suave daqui para frente”, disse o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Leonardo de Carvalho. “As pessoas estão mais endividadas em 2011 do que em 2010. Assim, o espaço para assumir novos endividamentos é menor”, acrescentou Habi.

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Há a ainda o peso do orçamento familiar. “Existe um orçamento mínimo nas famílias que, quando atingido, funciona como um gatilho. Como temos um nível de renda bastante aquém do encontrado em países mais desenvolvidos, esses limites não são questão de escolha”, ressaltou Carvalho.

Taxa antecedente – Além da redução do endividamento, em parte proporcionada pela quitação de dívidas do 13º, o próximo ano trará outros fatores favoráveis ao controle da inadimplência. A perspectiva de inflação, por exemplo, está em queda; a taxa de desemprego deve seguir relativamente baixa; a propensão das pessoas a se endividarem é menor; e haverá o aumento de cerca de 14% para o salário mínimo.

Diante disso, o Indicador Serasa Experian de Perspectiva da Inadimplência do Consumidor – que busca antecipar o movimento dessa taxa seis meses à frente – está em queda. O índice de outubro (o mais recente) recuou 1,3%, atingindo o patamar de 98,2 pontos. Este é o sétimo declínio mensal consecutivo. De acordo com a Serasa, isso significa que as taxas efetivas começarão a cair já nos próximos meses.

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