Copom segue cartilha e mantém Selic em 7,25% ao ano
Fraco crescimento da economia no último trimestre indicava que a equipe do Banco Central manteria taxa de juros inalterada por mais 45 dias
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros do país, a Selic, em 7,25% ao ano, sem viés, pela terceira reunião seguida. Economistas ouvidos pelo site de VEJA já apostavam na estabilidade em razão do baixo crescimento econômico.
Contudo, o comunicado divulgado pelo BC mostrou uma mudança de tom, evidenciando que a autoridade já admite a possibilidade de alterar a política monetária a partir de abril, quando ocorrerá o próximo encontro. “O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”, informou o comunicado.
Votaram pela manutenção dos juros os seguintes membros do Comitê: Alexandre Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques.
Mesmo os economistas ouvidos pelo próprio Banco Central (BC) para o relatório Focus divulgado nessa segunda-feira já apontavam que a reunião do Copom deste mês não deveria trazer alterações. Na estimativa do Top 5, grupo de cinco economistas que mais acertam as previsões no relatório Focus, a expectativa para a Selic permanece em 7,25% ao ano há 20 semanas.
A taxa básica de juros está neste patamar desde 10 de outubro de 2012, quando o Copom decidiu cortar 0,25 ponto porcentual de 7,50% ao ano. O motivo do corte na época é o mesmo apontado por economistas para a manutenção do juro atual: a (ainda) fraca atividade econômica no Brasil.
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Com o crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, de apenas 0,9%, uma possível alta da Selic é improvável, na visão de analistas. “Não vejo espaço para subir os juros com a atividade econômica tão fraca”, comenta André Perfeito, economista da Gradual Corretora.
Por outro lado, a inflação galopante não deixa, na visão do mercado, a equipe comandada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, baixar ainda mais os juros para estimular a crescimento. “Para conter o avanço da inflação, o governo deve utilizar muita desoneração”, firma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria “Mas deve, sim, conseguir atingir o objetivo.”
Tanto Tombini quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já deixaram claro que o governo está desconfortável com o nível atual dos índices de preços e que vai agir para manter o indicador no centro da meta de 4,5%. Porém, os últimos dados mostram que, cada vez mais, a inflação distancia-se do centro e se aproxima do teto da meta, que é de 6,5%. O governo, inclusive, tem tolerado o índice inflacionário mais próximo do teto como uma espécie de “banda informal” da inflação, da mesma forma que o patamar de 2 reais para o dólar passou a ser visto como a “banda informal” de um câmbio, em teoria, flutuante.
Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medidor oficial de inflação do governo, foi o maior desde abril de 2005, ao marcar alta de 0,86% – o indicador está acumulado em 6,15% em 12 meses. Nos 12 meses encerrados em dezembro, o índice havia somado 5,84% de alta, o que mostra a tendência de aceleração ainda maior neste ano. Para fevereiro, o IPCA-15, índice prévio da inflação oficial, já apontou alta de 0,68%, ante 0,53% no mesmo período de 2012. No relatório Focus, os economistas esperam inflação a 5,7% em 2013.
O próprio diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, admitiu que o índice ficará novamente acima do objetivo oficial, de 4,5%. “Com informações que dispomos hoje, não é realista imaginar convergência da inflação neste ano”. Para Carlos Hamilton, o indicador mostrará resistência no primeiro semestre e recuará no segundo semestre do ano.
Tendência – Para os economistas do Itaú BBA, do grupo Itaú, a taxa de juros deve permanecer no atual patamar por um período prolongado. “Na ata da última reunião, o Copom reconheceu a piora no balanço de riscos para a inflação e que estímulos adicionais de política monetária teriam efeito limitado sobre a economia, devido a ‘limitações no campo da oferta'”, escreveu a equipe do ex-diretor do BC, Ilan Goldfajn, em relatório. Contudo, atentam para a percepção do BC de que as pressões de inflação recentes são de curto prazo.
Agora, tanto os analistas do Itaú BBA como todo o mercado voltarão seus olhares para a reunião de abril do Copom, que pode ser decisiva para o BC definir qual será sua nova estratégia de política monetária.