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Concurseiros trabalham com ‘plano B’ para 2016

Possível congelamento de mais de 40 000 vagas federais faz com que candidatos procurem concursos estaduais e municipais ou revejam planos de carreira

Por Luís Lima e Eduardo Gonçalves
20 set 2015, 08h27

A possível suspensão de concursos públicos federais em 2016 frustrou os planos de muitos concurseiros, que, surpresos com a medida, buscam um plano B. Segundo o Ministério do Planejamento, são até 40 389 vagas em órgãos dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) que deixarão de ser criadas. A medida faz parte do controverso plano de ajuste fiscal elaborado pelo governo para tentar reequilibrar as contas públicas, que soma 66,2 bilhões de reais.

Os concurseiros, como são conhecidas as pessoas que se preparam para pleitear uma vaga no serviço público, tiveram que readequar prioridades. Entre as alternativas, eles falam em prestar concursos estaduais ou municipais, que não devem ser afetados, alimentar as esperanças de que os processos seletivos sejam retomados em 2017 – o congelamento dos concursos, com o qual o governo espera economizar 1,5 bilhões de reais, ainda depende do aval do Congresso – e até mesmo trocar de profissão.

“Temos que trabalhar com alternativas para não ficarmos dependentes dos concursos federais”, diz a estudante Daíse Magalhães de Souza, de 25 anos. Ela quer disputar uma vaga para analista da Receita Federal, mas, com a possibilidade de suspensão, cogita prestar concursos estaduais ou municipais. Daíse é – ou seria – concorrente do comunicador visual Marco Antônio Costa, de 43 anos, que também sonha com uma vaga na Receita. Ele é mais um que pensa em voltar as baterias para concursos na esfera estadual. “Penso em prestar para analista do ICMS, do governo paulista”, diz. Se nada der certo, Marco diz que trocará de profissão. “Preciso ter uma vida mais regrada, com carga horária reduzida e mais qualidade de vida.”

O administrador César Fernandes, de 38 anos, conta que soube do possível congelamento dos concursos pela imprensa. Em seguida, questionou a direção de seu curso preparatório para saber o que fazer. Fernandes quer prestar concurso para trabalhar no Banco Central. Como está em seu primeiro ano como concurseiro do BC, vai aproveitar o congelamento para seguir estudando, até que a seletiva seja anunciada. “Os cortes sempre sobram para o povo. Mas ao menos vou ter mais tempo para me preparar melhor.”

O incômodo com a possível suspensão dos concursos federais é acompanhado pela sensação de ter se transformado em bode expiatório do aperto das finanças do governo federal. “O brasileiro não tem culpa do que está acontecendo. A medida, anunciada de uma hora para outra, pode afetar os planos de muita gente, inclusive os meus”, diz o técnico em informática Emanuel Trindade, de 26 anos.

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Trindade tem razão: reduzir o tamanho do Estado e de seu funcionalismo, por meio de reformas administrativas cuidadosas, é uma tarefa a que governos sucessivos, desde a redemocratização, deveriam ter se dedicado. Mas o caminho percorrido foi o contrário. Não apenas a máquina pública inchou continuamente, como entraves ao empreendedorismo se encontram por todos os lados. Recentemente, o centro de pesquisas canadense Fraser Institute, divulgou seu ranking mundial de liberdade econômica, em que o Brasil aparece apenas em 118º lugar. Isso torna a estabilidade e os altos salários do funcionalismo ainda mais atraentes. Em 2015, mais de 12 milhões de pessoas disputarão vagas abertas em concursos públicos pelo país afora, um exército que representa mais de 11% da população economicamente ativa. Enquanto espera a retomada dos concursos – ele quer tentar uma vaga no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica -, Trindade, concurseiro prevenido, vai se dedicar com afinco a seu emprego atual. Em um outro Brasil, esse caminho na inicitavia privada poderia lhe bastar.

Esperança na ‘imunidade’ – O técnico em informática conta que, em seu curso preparatório, foi informado que concursos como os do BB e da Caixa são as “galinhas do ovos de ouro” do governo, o que pode deixá-los imunes à suspensão. É nessa “imunidade” que aposta Evandro Guedes, CEO da AlfaCon, um dos maiores cursos prepatórios para concursos públicos do país, com 792 mil alunos na internet. “Primeiramente, o governo deve suspender concursos para ministérios, de natureza não-obrigatória. Já as vagas de natureza essencial, como as da Receita ou da Polícia Federal, não devem ser congeladas porque garantem o funcionamento da máquina estatal”, diz. Segundo ele, depois do anúncio do governo, apareceu uma enxurrada de perguntas nas redes sociais da escola. “Houve um pânico inicial, principalmente de iniciantes.”

Esta não será a primeira vez que o governo recorre ao cancelamento dos concursos para conter gastos. Em março de 2011, uma portaria do Ministério do Planejamento suspendeu a nomeação de concursados e a realização de novos processos seletivos. Naquela época, o governo esperava gerar uma economia de 3,5 bilhões de reais. A então ministra do Planejamento, Miriam Belchior – hoje presidente da Caixa -, chegou a dizer na ocasião que estava “olhando com lupa” para as novas contratações para saber se realmente eram necessárias.

O diretor da Central de Concursos, Jaime Kwei, citou o caso para minimizar o anúncio do governo feito na última segunda-feira. “Naquele ano, foram abertas 24 740 vagas. A máquina não pode parar. As pessoas morrem, se aposentam, pedem exoneração”. Para os primeiros meses de 2016, estava prevista a seletiva para ingresso na Receita Federal, um dos concursos mais aguardados no ano. Trata-se do maior concurso da área fiscal, com 5 000 vagas para auditor e analista. “Num momento em que o Brasil está discutindo como reforçar seu caixa, como não contratar os responsáveis diretos pela arrecadação?”, raciocina Kwei. De janeiro a agosto, a arrecadação federal acumulou queda de 3,7% em relação ao mesmo período de 2014.

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Os dirigentes dos cursos preparatórios dizem que, em média, um concurseiro estuda de um a dois anos para passar nos testes. O congelamento pode criar um período adicional de preparação para os concurseiros, em particular para os trabalhadores incluídos na recente onda de demissões no setor privado. “A iniciativa privada não está em seu melhor momento”, diz o coordenador da rede LFG, Nestor Távora. Os concurseiros que aliam estudos e trabalho se seguram nos empregos atuais – enquanto eles existem.

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