Com preço de empacotamento maior que o de venda, Venezuela retém leite
Cerca de 25 mil toneladas de leite em pó estão estocadas, segundo a Câmara de Indústrias Lácteas do país
O governo venezuelano mantém armazenadas cerca de 25.000 toneladas de leite em pó que não pode colocar nos mercados porque o custo do empacotamento é maior que o preço de venda do conteúdo, informou nesta segunda-feira o presidente da Câmara de Indústrias Lácteas do país (Cavilac), Roger Figueroa.
“Solucionar esse problema não é tão complicado, mas o (empacotamento) que está disponível, ao qual se pode ter acesso, tem um custo maior” (que o preço ao consumidor fixado pelo próprio governo), disse. O preço do quilo de leite em pó fixado pelo governo é de 70 bolívares, o equivalente a 30 centavos de dólar no câmbio oficial, mas o empacotamento “custa ao redor de 80 bolívares”, ressaltou Figueroa à emissora Unión Radio, de Caracas.
O leite, da mesma forma que muitos alimentos de consumo em massa e remédios, entre outros produtos, está entre os artigos que praticamente desapareceram dos mercados formais. A Venezuela atravessa uma severa crise econômica, marcada por uma grave situação de escassez de produtos básicos, alimentos e remédios e uma inflação de 180,9%, a mais alta do mundo.
O presidente da Associação Venezuelana de Indústrias Plásticas (Avipla), Hugo Dell’Oglio, afirmou à mesma emissora que há material para empacotar esse leite e levá-lo aos mercados, “mas o que acontece é que o preço do empacotamento aumentou e está acima do preço regulado”.
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A matéria-prima para fazer o empacotamento se baseia em uma resina elaborada pela companhia química estatal Pequiven, que também encareceu. Além disso, as empresas associadas à Avipla, segundo Dell’Oglio, “contam com 15% de matéria-prima importada”, cujas divisas dependem também do Estado. O controle estatal de câmbio e de preços foi instaurado na Venezuela em 2003, no início da dita “Revolução Bolivariana”, de Hugo Chávez, antecessor do presidente Nicolás Maduro.
O diretor executivo da Associação de Indústrias das Artes Gráficas (AIAG), Edgar Fiol, acrescentou à Unión Radio que a falta de divisas para pagar fornecedores estrangeiros também afeta seu setor, responsável pelos diferentes projetos das embalagens. “Temos uma capacidade instalada para abastecer as indústrias de consumo em massa, tanto alimentos como remédios, mas o problema é que não se cancela a dívida (a fornecedores estrangeiros) e persiste a falta de dólares para novas importações”, advertiu Fiol.
(Com EFE)