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Com Hollande no poder, bolsas europeias seguem instáveis

Ainda que François Hollande não tenha força política suficiente para peitar outros países da zona do euro, sobretudo a Alemanha, investidores estão cautelosos

Por Naiara Bertão
7 Maio 2012, 17h54

Ao subir no palanque neste domingo para comentar sua vitória na corrida eleitoral da França, o socialista François Hollande afirmou que os franceses escolheram a mudança. A derrota do conservador Nicolas Sarkozy, o atual presidente que concorria à reeleição, mostrou ao mundo que as medidas de austeridade fiscal não têm sido bem assimiladas pela população local. Mais que isso, o resultado do pleito sinaliza a derrocada de uma das principais lideranças europeias. Sarkozy, à frente da segunda maior economia do euro, e a chanceler alemã, Angela Merkel, líder da primeira, formavam a dupla que impôs o tom reformista da união monetária, calcado no rígido controle das contas públicas, e que distribuía lições e palavras de censura aos outros membros. O discurso era tão uníssono que a imprensa passou a tratá-los como se fossem um só: o líder ‘Merkozy’. Com a subida de Hollande ao poder, este ser híbrido – bem conhecido de todos – dará lugar a ‘alguém’ que poucos se arriscam hoje a caracterizar. Segundo especialistas ouvidos pelo site de VEJA, o político francês deve, ao menos, trazer um elemento positivo à maneira com que vem sendo conduzida a crise na Europa, com maior foco em medidas que estimulem o crescimento do PIB regional.

Enquanto pairarem dúvidas sobre os planos de Hollande para a França e o tom de seu relacionamento com outros países (especialmente a Alemanha), os investidores seguirão cautelosos e as bolsas tendem a reagir com volatilidade, como nesta segunda-feira. Analistas são unânimes em afirmar que há distância considerável entre o discurso e a prática. Hollande não deve por a perder tudo o que foi feito até o momento. Contudo não se sabe ao certo o que defenderá. “A derrota abre espaço para tempos incertos, mas, a meu ver, um pouco mais promissores”, diz André Perfeito, economista da Gradual Corretora.

“Quem tem medo de Hollande?” – Para o analista, depois da rodada de austeridade fiscal, o tom da política europeia agora será dado pela busca do crescimento econômico. O próprio Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter os juros da região em baixos patamares por mais tempo a fim de dar sustentação a essa meta. “Quem tem medo de Hollande? Por ora todo mundo. Afinal, não sabemos o que ele irá, de fato, fazer. Contudo, se ele não forçar a máquina rumo a uma ruptura, é bem provável que algum alívio de curto prazo aconteça no Velho Continente”, afirma Perfeito.

Já a consultora independente Zeina Latif não vê mudanças muito fortes pela frente. Ela destaca que Hollande deve sim ousar para promover o crescimento econômico da França, mas que as medidas a serem adotadas não devem assustar. Na avaliação da economista, é impossível desmontar tudo o que foi feito até agora por Sarkozi. “Ele não tem força política para mudar radicalmente”, diz Zeina.

Para ela, as medidas para promover liquidez, tais como a recente injeção de 529 bilhões de euros nos bancos pelo Banco Central Europeu (BCE), conseguiram, até o momento, afastar o risco de uma crise bancária no médio prazo. Mas só isso não é suficiente. “A Europa precisa de reformas estruturais para que a política fiscal não precise ser tão rígida. O problema é como fazer isso com líderes fracos”, coloca.

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Novos rumos – A derrota de Sarkozy na França levantou outra discussão importante. Hollande será um líder à altura na Europa, assim como foi seu antecessor, juntamente com a chanceler alemã? Ambos foram reconhecidamente os principais agentes na formulação de medidas para conter a crise do euro. “Se quiser tomar medidas mais fortes, que não levem em conta as ações de austeridade fiscal colocadas, Hollande terá de bater de frente com Merkel. Acho difícil ele fazer isso”, comentou José Luiz Rossi Junior, professor do Insper.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta segunda-feira que receberá o presidente eleito da França “de braços abertos”, mas lembrou que o pacto fiscal europeu não será renegociado. O socialista rejeita a austeridade empregada por vários governos na Europa a fim de combater a crise que atinge o continente e diz apostar no ‘crescimento’ francês.

Para o professor do Insper, a reconstrução da credibilidade da Europa perante os investidores é necessária para aliviar as tensões do mercado – que, ao imporem, por exemplo, prêmios cada vez mais elevados para absorção de títulos públicos do continente, têm por si só impacto econômico. Rossi Junior defende que Merkel, agora com Hollande, dê sinais mais claros de quais serão as políticas de longo prazo a pavimentar o caminho da região em direção a um futuro melhor. “Reformas trabalhistas, por exemplo, fariam o mercado ver que a Europa tem um plano de longo prazo e que os problemas não acabarão voltando”, afirma.

O risco da Grécia – Em meio a todas as críticas em relação à zona do euro, a Grécia é o centro das atenções. Neste domingo, foram eleitos os membros do novo Parlamento, com a inclusão do partido neonazista Amanhecer Dourado. A notícia acirrou ainda mais a já tensa situação política do país e o medo de que eles não cumpram os compromissos assumidos com a Comissão Europeia (CE) em troca de ajuda financeira.

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“Minha aposta continua sendo a de que vários países não serão capazes de se manter na zona do euro, a começar pela Grécia”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destacando o perigo de uma reação em cadeia, com outros países sendo afetados.

Ele explica que o principal problema da atual crise financeira na Europa é a duração, ou seja, a impossibilidade de se vislumbrar uma saída rápida e sem solavancos. “O período de reformas ainda está começando, eu diria, pois não tocou em pontos cruciais da agenda europeia que se refere ao envelhecimento da população”, completa.

O aumento do número de idosos só piorará, na análise de Vale, o quadro de baixo crescimento da economia regional e entrará em discussões políticas importantes. A insatisfação popular vai, em sua visão, exigir líderes que proponham alternativas ao baixo crescimento instaurado. Sua principal crítica com relação à união monetária é a rigidez com que trata países tão diferentes sob as mesmas regras.

Rossi, do Insper, acredita que, apesar de a Espanha estar com um quadro econômico alarmante – um desemprego já assustador e em alta, somado à recessão -, Portugal teria mais chance de ser a nova Grécia, pelas características de sua economia, com PIB pequeno e baixa produtividade.

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