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Com C3 nacional, Peugeot-Citroën quer ajudar matriz

Segundo o presidente do grupo no Brasil, Carlos Gomes, rentabilizar investimentos da operação brasileira é palavra de ordem para ajudar PSA Peugeot-Citroën a 'melhorar' na Europa

Por Ana Clara Costa
7 ago 2012, 10h30

“Não tínhamos alternativa a não ser produzir aqui. Não seria viável de outra forma. E não foi fácil”, diz o CEO da PSA no país, Carlos Gomes, em referência ao novo C3

A PSA Peugeot-Citroën ganhou o noticiário internacional nos últimos meses por se envolver em uma situação delicada com o governo francês, após anunciar um plano de demissões de mais de 8 mil funcionários de suas operações no país. O fato incitou, inclusive, críticas diretas de François Hollande, o novo presidente socialista. Contudo, do outro lado do planeta, a operação brasileira da PSA preparava seu principal lançamento dos últimos anos no mercado doméstico: o novo C3, da Citroën. Fabricado inteiramente no Brasil (e com tecnologia mais avançada do que a do modelo europeu), o carro é uma das principais apostas da montadora para rentabilizar os investimentos de 3,7 bilhões de reais anunciados para o Brasil em outubro de 2011 – e que devem ser investidos até 2015.

Em entrevista ao site de VEJA em Brasília, onde ocorreu o lançamento do carro, o presidente da PSA para a América Latina, Carlos Gomes, reafirmou o interesse da marca no (ainda cambaleante) mercado brasileiro, e fez um afago a Paris: “Tivemos de colocar em prática um plano de contenção no Brasil para que nossa operação seja rentável o mais rápido possível, e assim possamos ajudar a matriz a melhorar”, disse.

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Em 2011, a PSA comercializou 176 mil veículos no Brasil, com alta de 1% em relação ao ano anterior, totalizando vendas de 6,6 bilhões de reais no período. Já no primeiro semestre, a companhia reportou queda de 21% nas vendas na América Latina (tendo o Brasil como maior mercado). A PSA não divulgou o número específico do mercado brasileiro. A razão para o resultado, segundo a empresa, foi a parada na produção na fábrica de Porto Real, no Estado do Rio de Janeiro, tendo em vista a queda na demanda do mercado interno.

Confira a entrevista com Carlos Gomes, presidente da montadora francesa no país.

O grupo se encontra em situação difícil na França, sobretudo com o fechamento de uma fábrica nos arredores de Paris. A operação brasileira sofrerá consequências?

Não é segredo que o grupo atravessa um momento difícil. Nós somos a segunda maior montadora na Europa e o mercado não está bom para ninguém. Mas o plano de recuperação foi anunciado – e ele é claro, apesar de não ser consensual. Vamos aplicá-lo porque é a única forma de sairmos reforçados e bem dessa situação. No Brasil, vamos fazer nosso trabalho. Nada muda. Cumpriremos nosso plano de investimentos e a prova de que não voltaremos atrás é o fato de estarmos lançando o novo C3. Certamente, tivemos de colocar em prática um plano de contenção aqui para que nossa operação seja rentável o mais rápido possível para que possamos ajudar a matriz a melhorar.

O novo C3 é o principal projeto que a Citroën já fez no Brasil, com investimentos de cerca de 300 milhões de reais. Levando em conta a elevada carga tributária e o custo Brasil, é possível dizer que, daqui para frente, projetos como esse vão começar a valer à pena para empresas estrangeiras instaladas no país?

Não tínhamos alternativa a não ser produzir aqui. Não seria viável de outra forma. E não foi fácil. O C3 é um modelo de sucesso no país, com mais de 250 mil unidades vendidas. É uma referência em sua categoria, portanto, a expectativa em torno de um novo modelo era grande – e o investimento também! O objetivo que traçamos era o de fazer um carro compacto jamais concebido no Brasil e na América Latina. Trata-se de um modelo de ponta, desenvolvido com tecnologia local, transferência de tecnologia e muita inovação. Uma equipe de ‘guerra’ de 450 pessoas trabalhou nisso em Porto Real (fábrica da Citroën no município de Porto Real, Estado do Rio de Janeiro).

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O carro foi desenvolvido num período em que Brasil e Argentina passaram por mudanças regulatórias em relação às importações, além da criação de barreiras alfandegárias. Como isso afetou a empresa?

As questões alfandegárias foram muito complexas e houve diferenças entre Brasil, Argentina e México em relação ao setor automotivo. Isso não facilitou a nossa vida. Mas algumas das medidas do governo, como a queda do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros nacionais, favoreceram a indústria. Diante disso, o que fica é um sentimento de esperança e de uma regulamentação perene – pelo menos nos próximos cinco anos, como prevê o novo regime automotivo. Não se pode negar que há um cenário claro de estímulo aos investimentos e à qualidade dos produtos. Então é isso que eu retenho de toda essa experiência. Se o governo mantiver tudo como está, será positivo.

Leia mais: Vendas baixas e competição reduzem lucro da Peugeot

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As expectativas das montadoras em relação ao mercado brasileiro mantiveram-se altas, mesmo em período de desaceleração econômica. O que a Peugeot-Citroën espera do Brasil?

O mercado brasileiro passou por uma verdadeira revolução nos últimos dez anos – tanto na produção quanto no consumo. Diante disso, o pais é hoje um dos nossos três principais mercados, junto com Rússia e China. Exemplo disso é que desenvolvemos aqui um modelo mais inovador aqui que na Europa. Também está no Brasil um de nossos três maiores centros de tecnologia do mundo, com equivalentes apenas em Xangai e Paris. Além disso, há números positivos analisados em estudos econômicos, que apontam para um crescimento contínuo do número de carros por habitante. É verdade que, quando a economia fraquejou, o mercado automotivo também fraquejou imediatamente. Mas, nesse sentido, a experiência aqui tem sido interessante. Ao contrário da Europa, onde as coisas são mais regulamentadas e os governos têm menos capacidade de intervenção, as coisas no Brasil são rápidas. O governo intervém, muda isso e aquilo, e o empresário tem de acompanhar o fio da meada. O que também está claro é que o crescimento econômico continua sendo prioridade para esse governo. Por isso, nossa expectativa é chegarmos a 5 milhões de veículos no Brasil entre 2018 e 2022.

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Acredita que o Brasil tem o mesmo potencial que o mercado americano?

São mercados diferentes, mas a tendência de consumo está mais para o americano do que para o europeu. A Europa tem a cultura do transporte público e tem transporte de qualidade. O Brasil, infelizmente, não tem. Lá há trens de alta velocidade para percorrer longas distancias e aqui não há. Assim como nos Estados Unidos há o mito de dirigir do leste ao oeste, o brasileiro tem esse sonho de cruzar o pais, ir de São Paulo até a Bahia de carro. E isso é compreensível. Não é toda família de quatro pessoas que consegue viajar com o preço que as empresas aéreas cobram pelas passagens.

Assim como a Ford fez com o novo EcoSport, a Citroën tem planos de fazer um modelo de carro global projetado completamente no Brasil?

Não posso esclarecer nada ainda. Mas, o fato é que, cada vez mais, os mercados estão se tornando globais. Então você faz projetos mundiais que acabam se afinando de região para região, e a Ford está fazendo isso muito bem com carros como o Fiesta, o Focus e EcoSport. Então, eu diria que, no futuro, um projeto poderá começar em uma unidade e terminar em outra. Mas tudo depende de um cronograma e diversos outros fatores. Em relação à Citroën, não posso adiantar nada ainda.

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