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Com ‘ativismo de gravata’, ONGs fiscalizam multinacionais

Fraude da Volkswagen, denunciada por uma organização não-governamental, é o mais recente caso protagonizado por essas entidades – mas não é o único

Por Da Redação
25 set 2015, 08h57

As organizações não-governamentais (ONGs) transformaram-se em atores de peso na vigilância do cumprimento dos direitos sociais e normas ambientais das multinacionais. O episódio da Volkswagen, que admitiu ter fraudado testes de emissão de poluentes para receber um selo ecológico nos Estados Unidos, é o exemplo mais recente disso.

O caso que abalou a montadora alemã, uma gigante com 590.000 operários e um volume de negócios de 200 bilhões de euros, foi exposto pelo International Council on Clean Transportation (ICCT), uma organização não-governamental americana que tem somente 27 colaboradores, segundo sua página na internet. O ICCT e pesquisadores da Universidade de Virgínia Ocidental revelaram que a Volkswagen tinha instalado um software de manipulação de resultados dos controles de poluição dos veículos a diesel.

“As ONGs se transformaram em atores inevitáveis nas denúncias de práticas empresariais”, afirma Yann Louvel, da organização não-governamental BankTrack, que monitora os procedimentos do setor bancário. A Volkswagen reconheceu ter colocado o dispositivo fraudulento em 11 milhões de veículos. O caso já forçou a renúncia do presidente da montadora, Martin Winterkorn, fez suas ações despencarem (a queda desde segunda-feira é de mais de 35%) e lhe rendeu uma enxurrada de ações judiciais que podem custar dezenas de bilhões de dólares.

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A montadora alemã soma-se, assim, a outros gigantes do mercado que caíram nas redes de investigações das ONGs. Em agosto, vários bancos desistiram de financiar um megaprojeto de mineração na Austrália devido à ação de um grupo de defesa, que alegou que o projeto ameçava uma grande barreira de corais.

A construtora francesa Vinci, por sua vez, está envolvida em uma disputa judicial aberta pela Sherpa, que denunciou a empresa pelas condições de trabalho dos operários que trabalham nas nas obras da Copa do Mundo de 2022, no Catar.

A mesma ONG apresentou uma denúncia contra o grupo Auchan, processado por causa da queda de um prédio em Bangladesh em 2013, que matou 1.138 operários da indústria têxtil. Desde então, inúmeras ONGs aumentaram a pressão para que marcas de peso, como a italiana Benetton, que fabricavam seus produtos no edifício, contribuam com um fundo de indenização.

Multinacionais do setor de alimentação também tiveram que ceder às ONGs de proteção das florestas tropicais e revisar seus contratos de fornecimento de óleo de palma. A Apple, acusada de se omitir em relação às condições deploráveis de trabalho nas fábricas de seus fornecedores, acabou aceitando a inspeção de uma ONG nas instalações da sua subcontratada chinesa Foxconn.

Por respeito ou medo – “As ONGs se profissionalizaram e se fortaleceram”, diz Nicolas Vercken, da ONG Oxfam. “Há dez anos, quando pedíamos uma reunião [no ministério francês das Relações Exteriores], achavam que vínhamos pedir dinheiro por causa de uma catástrofe humanitária. Hoje em dia nos recebem por nossa perícia ou porque nos enxergam como uma ameaça potencial, inclusive em assuntos meramente técnicos.” O caso Volkswagen ilustra perfeitamente essa profissionalização do ativismo. A fraude foi descoberta por uma ONG integrada principalmente por engravatados que já fizeram parte dos quadros da indústria automobilística.

A associação Sherpa monta suas ações judiciais com equipes de advogados e juristas capazes de sofisticadas “acrobacias legais”. A experiência desses profissionais consegue levar poderosas multinacionais ao banco dos réus, o que se transforma em avanços na legislação, afirma sua diretora, Laetitia Liebert. Como as demais ONGs, a Sherpa sabe usar as redes sociais, “uma força que pode servir de holofote e também como uma proteção durante os processos contra grandes empresas”, acrescenta a diretora.

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Para Yann Louvel, da BankTrack, o escândalo da Volkswagen “confirma o papel de protagonismo ONGs”, mas ele ressalta a escassez de recursos dessas entidades. “Nunca teremos a capacidade de estar por trás de cada empresa, por trás de cada um de seus contratos”, concorda Nicolas Vercken, da Oxfam.

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(Com AFP)

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