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‘Brasil tem lição a aprender com o Peru’

Para presidente do Banco Central peruano, medidas de abertura de mercado ajudaram seu país, Chile e Colômbia a se saírem melhor na crise

Por Luís Lima 18 mar 2015, 12h05

O fato de o Brasil amargar posições ruins em rankings de competitividade e inovação já não causa mais tanta surpresa, como mostram levantamentos recentes elaborados pelo Fórum Econômico Mundial. Um dos motivos para os resultados desfavoráveis é a estratégia comercial do país, reconhecido por ser uma das economias mais fechadas do mundo. A inspiração para uma guinada rumo a uma maior abertura comercial mora ao lado: para o presidente do Banco Central (BC) do Peru, Julio Velarde, o Brasil tem uma lição a aprender com o país vizinho. “O Brasil tem ótimas universidades, avanços na área de ciências tecnológicas, tem potencial para crescer. A pergunta que fica é: ‘Por que vou buscar crescer muito se tenho uma proteção tão grande que posso andar sem me esforçar tanto?'”, afirmou. Segundo Velarde, uma economia mais aberta cria setores mais competitivos. No caso do Peru, ele reforça parcerias comerciais estabelecidas com China, Japão, Europa, Estados Unidos e Canadá. “Na Aliança do Pacífico, composta por Chile, Colômbia, México e Peru, as quatro economias são bem mais abertas. Todas têm convênios com Europa, Estados Unidos”, exemplifica. “Ou seja, há uma rede muito mais ampla de acordos comerciais e isso as favorece.”

Ao comentar o ajuste fiscal em curso no Brasil, Velarde preferiu não entrar em detalhes. No entanto, reforçou a necessidade da implementação de medidas restritivas para a retomada do crescimento no país e ponderou que “há formais mais eficientes do que outras” para organizar as contas públicas.

Eleito o melhor presidente de banco central do mundo em 2015 pela revista The Banker, ligada ao Financial Times, Velarde está no Brasil para participar do inPerú, um road show voltado a investidores brasileiros. Na ocasião, falou com exclusividade ao site de VEJA. Confira trechos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o ajuste fiscal em curso no Brasil?

Sei que está sendo implantado e que, obviamente, afetará o crescimento no curto prazo. Não há duvida a respeito disso. Mas é preciso adotá-lo para que a economia se recupere. Há formas mais eficientes do que outras para ajustar as contas públicas. Da perspectiva dos empresários, parece que a questão tributária ainda é bastante ineficiente no país. E promover mudanças de tributos neste cenário pode ser bastante complicado. De todas as formas, deve-se ter cuidado para afetar o crescimento o mínimo possível. O Brasil vai superar os desafios, sem dúvida. Os empresários estão conscientes.

O governo brasileiro costuma recorrer ao cenário externo para justificar a desaceleração econômica. Qual o impacto que o exterior teve nos últimos anos na economia peruana?

Mudanças na conjuntura externa nos afetaram no curto prazo, na medida em que pressionou os preços de produtos de exportação. Mas, atualmente, vejo o cenário mundial como positivo. A queda do preço do petróleo, por exemplo, beneficiou países da Europa e o Japão. Para o futuro, a esperada alta de juros nos Estados Unidos pode fazer com que commodities se tornem menos atrativas como ativos financeiros, prejudicando exportadores de matérias-primas. E apesar da desaceleração da China, a Índia está crescendo muito.

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Compartilha da percepção de que Peru, Colômbia e Chile fazem parte deu um grupo seleto na América Latina menos vulnerável a solavancos externos?

O que acontece é o que o Peru tem uma dívida pública muito baixa – a segunda menor da região, depois do Chile. E em anos bons, de preços altos, temos registrado superávits fiscais. Em 2013, fomos o único país na América Latina que teve superávit fiscal. Ainda que sejam menores que as brasileiras, também temos altas reservas internacionais, superiores a 60 bilhões de dólares. Além disso, somos uma economia muito aberta. Temos acordos comerciais fortes com China, Japão, Europa, Estados Unidos, Canadá. Isso faz com que nossa economia seja mais competitiva.

Em matéria de comércio exterior, o Brasil tem uma lição a aprender com o Peru?

Acredito que sim. Os países que se beneficiam são os que, efetivamente, se abrem. O Brasil tem ótimas universidades, avanços na área de ciências tecnológicas, tem potencial para crescer. A pergunta que fica é: ‘por que vou buscar crescer muito se tenho uma proteção tão grande que posso andar sem me esforçar tanto?’. Uma economia mais aberta cria setores mais competitivos. No caso da Aliança do Pacífico, composta por Chile, Colômbia, México e Peru, as quatro economia são bem mais abertas. Todas têm convênios com Europa, Estados Unidos. México, Chile e Peru são membros da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico. Ou seja, há uma rede muito mais ampla de acordos comerciais e isso as favorece.

Acredita que Venezuela e Argentina podem contagiar de forma negativa economias vizinhas?

Não vejo riscos. Ainda que sejam países ricos, creio que tenha pouco efeito na região, assim como no caso do calote argentino com Nestor Kirchner. Dependendo do caso, algum efeito de mercado pode haver, mas creio que não dure uma semana.

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Qual a estratégia adotada pelo Banco Central do Peru para conter a recente valorização do dólar ante o sol?

Atuamos com mais força em momentos de apreciação acentuada. Em 2013, por exemplo, compramos quase 14 bilhões de dólares, ainda que não tenhamos achado que houve uma forte valorização. Temos sido mais ativos, comprando moeda de forma antecipada, para evitar uma escalada cambial. Recentemente também implementamos algumas medidas que limitam o mercado de derivativos, para evitar o excesso de volatilidade. Esta medida, especificamente, tem permitido que as apostas no mercado futuro fiquem um pouco mais contidas. Mas vale lembrar que a pressão cambial ocorre em todas as partes do mundo.

A inflação chegou a superar o teto da meta em janeiro, ainda que tenha desacelerado em fevereiro. O BC pretende adotar uma política monetária mais agressiva, caso a inflação resista?

Depende. Se são fatores de oferta, reagimos com mais cautela na política monetária. Mas, apesar disso, esperamos terminar o ano com a inflação dentro da meta, a 2,4%. Em relação ao câmbio, ele ainda não foi responsável por um repasse significativo na inflação. Mas esta é uma questão que preocupa, já que o repasse foi maior que o esperado em países como Chile e Colômbia no ano passado. No Chile, por exemplo, a inflação chegou a estourar o teto da meta do governo. Creio que esta questão tem ver com as expectativas em relação ao câmbio futuro. Se subiu muito e se espera que vá continuar subindo, os preços refletirão isso. De qualquer forma, estamos alerta.

O Peru registrou um PIB de 2,35% em 2014, o menor desde 2009, ano em que o mundo ainda pagava a conta da crise mundial. Quais os motivos deste resultado?

Em parte foi o choque de oferta. O setor primário recuou mais de 2% – agricultura, pesca e mineração. E o investimento público caiu 3% em 2014, mas deve se recuperar este ano. Temos tido superávit fiscal na maioria dos últimos anos. No ano passado, porém, tivemos déficit fiscal de 0,1% do PIB. Em 2013, houve superávit de 0,9%. Então, há margem para ter uma política expansionista do ponto de vista fiscal. Na política monetária, temos baixado a taxa de juros, não de forma agressiva, porque temos grande parte do crédito em dólares. Para este ano, projetamos um crescimento de 4,8%.

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