Banco Mundial diz que 40% da população argentina pode se tornar pobre
Economia do país latino-americano está abalada com queda de reservas internacionais, déficit fiscal, inflação e disputa com fundos abutres
Um “choque econômico” poderia levar 40% da população argentina à pobreza, mostrou um relatório do Banco Mundial nesta terça-feira. O relatório apontou que “o enfraquecimento do clima de negócios e do mercado trabalhista podem ter efeitos significativos nas taxas de pobreza”, com a redução das reservas do Banco Central de 52 bilhões de dólares em 2011 para 28 bilhões de dólares em 2014, o aumento do déficit fiscal e a inflação, que pode atingir 40% este ano.
O Banco Mundial também afirmou que as disputas judiciais entre o governo da presidente Cristina Kirchner e os fundos abutres, que não aceitaram a reestruturação da dívida argentina em 2005 e em 2010, representam “riscos significativos” para a economia do país latino-americano. “Caso o governo consiga um acordo com os holdouts em um tempo relativamente curto, o impacto na economia poderia ser limitado”, ponderou.
Manipulação – O relatório do Banco Mundial informou que 33% da população argentina vive em condições vulneráveis (com cerca de quatro a dez dólares por dia), enquanto 10,9% vive em condições de extrema pobreza (com menos de quatro dólares por dia). Mas dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) indicam que apenas 4,7% da população do país latino-americano é pobre, sendo 1,4% indigentes.
Oposição e sindicatos acusam o governo da presidente Kirchner de manipular indicadores de pobreza. Dados da Confederação Geral do Trabalho (CGT) apontam que 30,9% da população argentina é pobre, sendo 12% indigentes. Já número do Instituto de Pensamento e Políticas Públicas (IPyP), de setores da esquerda, mostram que 36,5% da população do país latino-americano encontra-se abaixo da linha da pobreza, sendo 12,1% indigentes.
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Comércio exterior – A fraca conjuntura econômica da Argentina também tem comprometido as relações com parceiros comerciais. O país latino-americano suspendeu novamente o fluxo de pagamento aos exportadores brasileiros em meio a uma grave crise cambial. Os atrasos fizeram com que empresários dos setores mais prejudicados, como a indústria automobilística, pressionassem o governo brasileiro por uma solução urgente.
O problema ressurgiu depois de um período de estabilidade e se agravou nas últimas duas semanas. Autoridades econômicas e diplomáticas tentam um acordo para retomar o fluxo de remessas dos pagamentos. Empresários brasileiros pressionam pela criação de uma linha de financiamento aos importadores argentinos como garantia de pagamento. A alternativa, discutida no primeiro semestre, foi abandonada devido a restrições de Buenos Aires.
Reservas – A Argentina sofre com a falta de dólares, sobretudo em um período de fim da safra agrícola com queda significativa nas exportações. Negociadores brasileiros abriram conversas para tentar regularizar o fluxo de pagamentos aos exportadores nacionais, mas fontes informaram que há pouco otimismo. A falta de divisas na Argentina impede uma pressão muito forte por parte do Brasil e pode reduzir ainda mais o fluxo comercial entre os dois países.
Os importadores argentinos de produtos brasileiros precisam depositar no Banco Central pesos para o pagamento das suas compras. Em seguida, os pesos são convertidos em dólares para o pagamento das empresas brasileiras. Mas o processo tem sofrido atrasos, uma vez que o governo da presidente Cristina Kirchner limita a saída de moeda do país para conter a queda das reservas internacionais. As reservas em moeda estrangeira da Argentina totalizam 28,2 bilhões de dólares, quase 9 bilhões de dólares a menos que há 12 meses.
O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Alberto Alzueta, disse que os argentinos têm autorização somente para comprar petróleo e gás e medicamentos. Os demais produtos ficam em segundo plano. “O quadro que é bastante cinza, vai ficar negro”. Uma fonte graduada afirmou que a presidente Kirchner tem tentado marcar uma reunião bilateral com Dilma Rousseff em Nova Iorque, em paralelo à reunião da 69ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que começou nesta terça-feira.
(Com Estadão Conteúdo)