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Atacadas por europeus, agências de rating fazem bom trabalho, dizem analistas

Rebaixamentos das notas de papéis gregos, portugueses e irlandeses causam protestos. Se resultado fosse outro, ninguém questionaria nada

Por Carolina Guerra
20 jul 2011, 07h34

“O argumento hoje é que elas têm sido excessivamente rigorosas. Em 2008, no entanto, quando estas mesmas agências não foram capazes de prever a crise americana, o que se falava é que não seriam rigorosas o suficiente”, aponta o economista José Márcio Camargo

Ficou parecendo até que era de propósito. Uma semana após a União Europeia liberar uma nova parcela do pacote de ajuda à Grécia, trazendo certo alívio aos investidores, foi a vez de Portugal reacender os temores do mercado. Em 5 de julho, a tradicional agência de classificação de risco Moody’s rebaixou os títulos de dívida do governo português em quatro níveis, concedendo-lhes uma nota nada honrosa – um Ba2, já na categoria junk (lixo). Na prática, a mensagem da agência era que Portugal havia se tornado terreno desaconselhado aos investidores. A medida prejudicou diretamente o estado português, que passou a pagar juros cada vez mais altos para rolar suas dívidas. Desde então, o noticiário econômico tem sido marcado por seguidos rebaixamentos e ameaças de concessão de notas piores para governos e o setor privado (especialmente bancos) dos outros países da região, com destaque para Irlanda e Grécia. As agências mais influentes – a própria Moody’s, e também a Standard & Poor’s e a Fitch – não pouparam nem mesmo os Estados Unidos. Antigo ‘porto seguro’ dos investidores, o país recebeu avisos de que sua nota pode ser rebaixada graças ao impasse nas discussões sobre uma política de longo prazo para melhoria das finanças do país.

De mãos atadas frente à classificação, a solução encontrada por muitos foi uma só: reclamar, e muito. O novo primeiro ministro português Pedro Passos Coelho classificou o anúncio como um “murro no estômago”. Seguiram o coro empresários portugueses, além de governantes e instituições europeias. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, criticou a estrutura das agências. “Uma pequena estrutura de oligopólio provavelmente não é o desejável nas finanças globais”, observou em referência ao grande poder de impacto das análises proferidas por um pequeno número de agências. Já o ministro das Finanças na Alemanha, Wolfgang Schäuble, foi ainda mais longe e declarou que é preciso “romper o oligopólio das agências de classificação e limitar sua influência”.

Analistas ouvidos pelo site de VEJA veem exagero nas declarações e afirmam que as agências realizam um trabalho sério e bem feito. Contudo, como tudo na vida, aperfeiçoamentos são bem-vindos. “Tudo isso se resume a uma reação normal de quem perde”, diz José Márcio Camargo, economista da gestora de recursos Opus e professor da PUC-Rio. “O argumento hoje é que elas têm sido excessivamente rigorosas. Em 2008, no entanto, quando essas mesmas agências não foram capazes de prever a crise americana, o que se falava é que não seriam rigorosas o suficiente”, aponta.

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Os economistas argumentam que, se as notas dos países tivessem sido aumentadas nas últimas semanas, em vez de diminuídas, os governos correriam aos jornalistas para elogiar a decisão, com o intuito de atrair investidores. Em outras palavras, nos episódios recentes, as agências têm agido com independência e são criticadas por isso.

Aperfeiçoamento – Isso não quer dizer, porém, que o trabalho das chamadas agências de rating não é passível de crítica. Há uma reclamação antiga no mercado de que não existe regulação específica para o setor. Outros apontam um suposto conflito de interesse, pois grande parte das pesquisas voltadas ao setor corporativo é encomendada pelas próprias empresas.

As agências se defendem. “Estamos cientes de nossas responsabilidades e as levamos muito a sério”, afirma John Piecuch, porta-voz da Standard & Poor´s. “Se a nossa avaliação de viabilidade de crédito muda (em relação a algum país ou empresa), é nossa obrigação avisar os investidores, sem medo, com independência, não importando a configuração política”, explica.

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Já o limitado número de agências de classificação de risco com atuação relevante é lembrado por críticos para reclamar da reduzida competição e dos altos preços – e, claro, de sua elevada influência, que alguns consideram desmedida. “Uma boa alternativa seria obrigar que as revisões de nota fossem feitas sempre por outra agência – algo como um rodízio de agências”, sugere Renato Chaves, ex-diretor do fundo de pensão Previ, o maior da América Latina, entre 2003 e 2008. Para ele, a medida as obrigaria a ser mais rigorosas nas avaliações, pois uma revisão malfeita comprometeria a agência que fez o estudo.

No caso do Brasil já se cogitou que o Banco Central (BC) ou a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), que já regula o mercado de capitais, funcionassem como reguladores. A ideia não vingou pelo fato de os dirigentes destas entidades entenderem que os “investidores institucionais são grandes o suficiente para se protegerem, sem precisar da força do regulador”, nas palavras de Chaves (ex-Previ).

O peso da nota – As avaliações das agências de classificação de risco têm pesos diferentes conforme o tipo de investidor. Para os grandes fundos, que possuem uma equipe própria para investigar as tendências do mercado, os relatórios provenientes das agências são apenas um instrumento a mais para tomada de decisão. Já para os pequenos, ou investidores independentes, que não têm os mesmos recursos, as definições das agências ganham peso.

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“A ideia é sempre juntar o maior número de informações para diminuir o risco dos investimentos. Mas há fundos, como alguns de pensão, que por protocolo, investem apenas em empresas e países que se mantém no grau considerado seguro para investir”, diz Edison Garcia, superintendente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec). Estes são os que não buscarão ativos na Europa tão cedo.

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