Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

As fazendas do futuro da África

O setor privado tem investido mais de US$ 7 bilhões por ano no desenvolvimento agrícola de países africanos para tentar fazer com que a agricultura tenha o mesmo nível de avanço que as telecomunicações

Por Strive Masiyiwa
27 jul 2014, 07h48

Iniciar um negócio pode ser uma tarefa difícil, especialmente na África, onde sistemas deficientes de governo sólidos e acesso a recursos essenciais podem limitar a chance de êxito. Para os agricultores da África, as dificuldades são particularmente pronunciadas. Considerando os enormes benefícios econômicos e sociais apresentados por um setor agrícola dinâmico e moderno, proporcionar incentivos aos agricultores, investimentos e regulamentações de que necessitam para terem sucesso deveria tornar-se uma prioridade.

O recente crescimento no setor de telecomunicações na África – que revolucionou inteiramente certos setores da economia, para não mencionar o estilo de vida da população – demonstra a eficácia dessa abordagem. Atualmente, no continente, há mais de 500 milhões de conexões móveis; ou seja, em muitos aspectos, a África é o lider mundial em crescimento e inovação de telecomunicações móveis.

Por que a África não conseguiu repetir esse crescimento no setor agrícola? Porque é que, em vez de colheitas abundantes, a África tem de pagar uma fatura anual de importações de alimentos que supera os 35 bilhões de dólares? De acordo com o último relatório anual do Africa Progress Panel, o problema é simples: tudo parece ir contra os agricultores da África.

Isto se aplica, em particular, aos pequenos agricultores, a maioria dos quais são mulheres. Esses agricultores, cujas áreas de plantação são iguais a um ou dois campos de futebol, tendem a não ter acesso a uma irrigação confiável e insumos de qualidade, como, por exemplo, sementes e fertilizantes. Além disso, raramente ganham o suficiente para investir em ferramentas necessárias, e não têm acesso a crédito.

Continua após a publicidade

E como se essas condições não bastassem, os agricultores enfrentam condições climáticas cada vez mais instáveis, que aumentam a probabilidade de colheitas escassas. Por exemplo, o rendimento de milho deve diminuir um quarto durante este século. E, quando as colheitas finalmente estão prontas, os agricultores novamente enfrentam sérios obstáculos, incluindo sistemas de estradas inadequados em zonas rurais e a falta de instalações de armazenamento refrigerado, que, se melhorados, lhes permitiria vender seus produtos no mercado.

Apesar dessas dificuldades, que são mínimas se comparadas àquelas existentes na indústria de telecomunicações, os pequenos agricultores africanos não são menos eficazes do que os seus homólogos mais importantes – o que demonstra a sua tenacidade e resiliência. No entanto, em vez de apoiar os agricultores, os governos africanos têm criado novas barreiras ao crescimento, incluindo uma pesada tributação, investimentos insuficientes e políticas coercivas.

Os agricultores africanos precisam de condições favoráveis que lhes permita superar os desafios que enfrentam. Neste contexto, o setor agrícola do continente poderia experimentar uma revolução semelhante à impulsionada pelo setor das comunicações.

Continua após a publicidade

Leia também:

Investir em vacinação pode salvar milhões de vidas na África

Por que Jeffrey Sachs é importante

Continua após a publicidade

Por que Bill Gates está errado

Como reduzir a desigualdade de gênero na agricultura africana

A boa notícia é que tanto o setor público quanto o privado – motivado pelo aumento da demanda de alimentos, especialmente nas cidades em rápido crescimento na África, bem como a escalada nos preços globais dos alimentos – parecem prontos para executar essa mudança. As empresas privadas começaram a investir no setor agrícola na África mediante iniciativas como Grow Africa (da qual sou Co Presidente), o que facilita a cooperação entre os governos nacionais e mais de uma centena de empresas locais, regionais e internacionais a fim de atingir metas de crescimento agrícola. Ao longo dos últimos dois anos, essas empresas têm investido mais de 7,2 bilhões de dólares no setor agrícola.

Continua após a publicidade

Por seu lado, os governos africanos e os parceiros de desenvolvimento, reconhecendo o papel fundamental que a agricultura pode desempenhar os programas de desenvolvimento econômico, começam a reverter o declínio do investimento público na agricultura nas últimas três décadas. Na verdade, o setor agrícola tem o potencial para reduzir a pobreza duas vezes mais rapidamente que qualquer outro setor.

Em muitas partes do continente, o impacto de tais esforços já está se tornando aparente. De Gana a Ruanda, o elevado nível de investimento na agricultura sustenta o crescimento econômico em áreas rurais, impulsionando a criação de emprego e ajudando na redução da pobreza e da fome.

No entanto, todas essas conquistas permanecem frágeis. Para sustentá-las, os governos africanos precisam solidificar o seu compromisso com a Declaração de Maputo sobre Agricultura e Segurança Alimentar da União Africana, que compreende a promessa de canalizar pelo menos 10% dos seus orçamentos para o investimento agrícola. Além disso, devem proporcionar aos agricultores infraestruturas, fornecimento de energia, e políticas de apoio aos que necessitam, para colocarem os seus produtos no mercado.

Continua após a publicidade

O setor das comunicações também desempenha um papel fundamental. A tecnologia móvel já começou a transformar a agricultura africana ao facilitar aos agricultores informações valiosas, tais como preços no mercado, suporte à produção por meio de cupons online e até mesmo o acesso ao crédito. Muitos desses serviços inovadores tornam-se mais acessíveis para os pequenos produtores africanos, do que para seus homólogos norte-americanos ou europeus.

Finalmente, empresas privadas, as organizações agrícolas e atores da sociedade civil devem trabalhar juntos para assegurar o desenvolvimento da agricultura. Por exemplo, a Aliança para uma Revolução Verde para a África (AGRA) fornece sementes de qualidade – muitas das quais são resistentes à seca – a milhões de pequenos produtores do continente.

A União Africana declarou 2014 como o Ano da Agricultura e Segurança Alimentar na África. Através de uma ampla ação normativa, investimento e tecnologia, os agricultores africanos poderão duplicar a sua produtividade dentro de cinco anos. Já é hora de dar ao setor agrícola a oportunidade de que todos os africanos precisam para entrar em uma nova era de prosperidade partilhada.

Strive Masiyiwa, membro do Africa Progress Panel, é presidente e diretor executivo doEconet Wireless, Co-Presidente do GROW Africa, e Presidente do Conselho de Administração da AGRA (Aliança para uma Revolução Verde em África).

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate, 2014

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.