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Ante indefinição brasileira, Dassault mira agora os Emirados Árabes

Em entrevista ao site de VEJA, o vice-presidente da Dassault, Eric Trappier, diz que o país árabe não tem de lidar com cortes no Orçamento, como no Brasil

Por Ana Clara Costa
12 abr 2011, 08h48

“Se não fecharmos com o Brasil, iremos atrás de outros países”, diz o vice-presidente da Dassault, Eric Trappier

O ano começou difícil para a fabricante francesa de equipamentos de defesa Dassault. Vista em 2009 como a preferida do Planalto para fabricar os cobiçados caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), a empresa viu seus planos serem destroçados pelo corte orçamentário proposto pela presidente Dilma Rousseff no início de seu mandato. Com a decisão, a escolha dos caças está temporariamente suspensa e os Rafales já não são mais os primeiros da fila.

A Dassault – que contava com o negócio para conseguir vender, pela primeira vez, seu caça fora da França – terá de esperar. Além dela, a sueca Saab e a americana Boeing estão no páreo em negociações igualmente agressivas para abocanhar o cliente bilionário que é o governo brasileiro.

O vice-presidente da Dassault, Eric Trappier, esteve no Rio de Janeiro para participar da LAAD Defence & Security – a principal feira latinoamericana do setor de defesa – e falou ao site de VEJA. Segundo Trappier, se os concorrentes não brigarem por espaço no setor, dentro de 30 anos haverá apenas produtos de defesa norte-americanos no mercado.

Sem garantias de que levará a licitação brasileira, a fabricante francesa parte para outras empreitadas. Nos Emirados Árabes, por exemplo, as negociações para venda de caças estão mais avançadas que no Brasil. “Lá não há questões envolvendo cortes orçamentários”, afirmou o executivo.

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A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, acompanhado de executivos da Boeing, pode criar uma aproximação com o governo Dilma possivelmente prejudicial à Dassault? Os assuntos do setor de defesa geralmente são muito políticos e despertam o interesse dos presidentes qualquer que seja o país envolvido. É usual também que o empresário que oferece seu avião a um país acompanhe o presidente da república em suas visitas ao local. Também fazemos o mesmo e isso é parte das viagens organizadas pelo alto escalão político. Agora, é da alçada das autoridades brasileiras se perguntarem se houve uma mudança nas relações com os Estados Unidos. Na minha opinião, em grandes concorrências como essa dos caças, esse tipo de visita é comum, assim como também foi quando o presidente Nicolas Sarkozy visitou o Brasil com sua comitiva.

O presidente Sarkozy ainda não veio após a posse da presidente Dilma. Há alguma previsão de visita? Que eu saiba, não. Ele veio ao Brasil na época do presidente Lula e a atual presidente começou seu mandato em janeiro, o que é bem recente. Os calendários de visitas políticas são sempre divulgados com bastante antecedência e até agora, que eu saiba, não ha previsão de visita.

As negociações de venda do Rafale aos Emirados Árabes estão mais avançadas que aquelas no Brasil? No Brasil, o processo está congelado devido ao corte do Orçamento. Contudo, as negociações estão em um ponto em que, se o congelamento deixar de existir, elas avançarão muito rapidamente. Já nos Emirados Árabes Unidos não há esse tipo de questão. Então as negociações estão avançando. Não dá para afirmar com todas as letras que estão mais avançadas porque só se pode dizer isso quando os papéis estiverem, de fato, assinados.

E a compra de caças do governo suíço? O processo na Suíça também está congelado devido a problemas orçamentários.

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A Saab, da Suécia, anunciou investimentos de 50 milhões de dólares para desenvolver um centro de pesquisas no Brasil, na região do ABC, mesmo se o contrato dos caças não for fechado. A Dassault pensa em fazer esse mesmo tipo de acordo? Não. Caso nós ganhemos a concorrência, poderemos gerar em torno de 16 bilhões de reais em negócios, graças a parcerias que firmamos com mais de 40 empresas brasileiras. Mas isso só será concretizado se a compra dos caças for feita, pois envolve uma produção voltada para a Aeronáutica.

A Dassault promoverá mais eventos para buscar parcerias com empresários no Brasil? Temos planos de fazer encontros em São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, que são centros industriais importantes. Creio que isso nos ocupará pelo resto do ano. Não iremos colocar restrições quanto aos locais. Se aparecerem outras oportunidades de encontros com empresários em regiões que nós não mapeamos, iremos fazer.

É verdade que, se o Rafale não for vendido a nenhum país, a Dassault deixará de produzi-lo? Não. O Rafale foi encomendado pelo exército francês em contrato de quinze anos de fornecimento de aeronaves e manutenção. Já a Saab não fabrica mais para o exército sueco. O F18, da Boeing, não será mais fabricado dentro de quinze anos porque a própria marinha americana já encomendou o F35, que é um modelo mais avançado. Então, quando se fala de perenidade, o Rafale tem um futuro. Com isso em mente, se pudermos ter um contrato de exportação, ótimo, pois isso prolonga nosso portfólio de vendas no exterior.

E se não houver exportação? Há muito tempo a França fez a escolha de desenvolver sua própria indústria aeronáutica. O que poderia acontecer, por questões orçamentárias, é que deixássemos de formar acordos de cooperação futuros. Por essa razão, ficaríamos contentes de ter o Brasil como parceiro. Se não fecharmos com o Brasil, iremos atrás de outros países. Se não fecharmos com ninguém, o Rafale será de qualquer forma o produto número um do exército francês para os próximos 15 anos.

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E depois disso? Já estamos projetando, em nosso centro de estudos, novas aeronaves sem piloto para abastecer as gerações futuras. Lá, investimos em tecnologia para preparar produtos para daqui vinte ou trinta anos. Nós pensamos no longo prazo e estamos confiantes no que se refere ao curto prazo. Além disso, temos uma atividade de aviação civil muito potente, que nos permite viver, o que faz com que nosso grupo seja bem equilibrado. Quanto à Saab, fabricante do Grippen, não estou certo de que tem atividade civil, como a Dassault e a Boeing.

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