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Agenda econômica de Marina destaca produtividade e ortodoxia

A mais nova filiada ao PSB de Eduardo Campos defende investimentos em educação, tecnologia e inovação para criar uma indústria mais competitiva e sustentável; o difícil é sair da teoria

Por Ana Clara Costa
5 out 2013, 18h12

Se o tema sustentabilidade é a base para as políticas de governo de Marina Silva, agora filiada ao PSB de Eduardo Campos, a questão da produtividade caminha ao lado. A mudança de partido forçada pela não aprovação de sua legenda Rede não altera, por enquanto, o que a possível candidata vice-presidente defende como plataforma econômica, mesmo porque muitas de suas ideias se alinham às de Campos. Marina falou incansavelmente, ao longo dos últimos dois anos, que não há alternativa para se ter uma economia sustentável sem direcionar investimentos de longo prazo em educação, tecnologia e inovação. Ela também é crítica feroz das políticas protecionistas do governo petista e do aumento da presença do estado na economia na última década, fato que, segundo Marina, prejudicou a competitividade do país. No discurso, sua visão é ortodoxa e receptiva ao mercado – e Eduardo Campos, neste aspecto, não deve impor atritos, já que o próprio governador de Pernambuco é reconhecido como gestor pragmático que impõe metas de produtividade à administração pública. Ele também tem demonstrado saber, como poucos políticos brasileiros hoje, atrair capital privado para seu estado.

Discurso afinado – Direcionar mais investimentos para a pesquisa em energias renováveis e diversificar a matriz energética do Brasil para além das hidrelétricas e do petróleo são ideias defendidas por Marina desde os tempos em que era senadora pelo PT – e continuarão sendo em sua nova legenda, apesar de o tema estar longe de ser crucial para Eduardo Campos. “O Brasil é o país com mais sol no mundo e, num momento em que estamos à procura de fontes de energia para substituir os combustíveis fósseis, essa é uma grande vantagem comparativa”, disse a candidata durante o EXAME Fórum, evento promovido pela revista EXAME, do Grupo Abril, que também publica VEJA. Contudo, sua equipe econômica, chefiada pelo acadêmico Eduardo Giannetti da Fonseca, economista e cientista social, sabendo da dificuldade de impor o discurso energético como uma bandeira de campanha, sabiamente migrou para uma discussão mais ampla, que também engloba energia, mas deságua na produtividade – que é o que realmente importa num país onde apenas o agronegócio, que representa 5% do Produto Interno Bruto (PIB), tem produtividade realmente alta.

Em entrevista publicada pela revista britânica The Economist na última segunda-feira, dias depois de a publicação ter criticado o desempenho econômico do governo Dilma, Marina foi exímia porta-voz de uma ortodoxia de que o Planalto se manteve distante nos últimos anos. “É essencial investir em infraestrutura para se tornar mais produtivo. Hoje nós perdemos cerca de 30% da nossa produção agrícola devido a problemas de logística, incluindo a falta de armazenamento e canais de transporte que não funcionam”, afirmou. No mesmo dia, no EXAME Fórum, Marina foi enfática ao afirmar que a falta de investimento em produtividade aliada ao intervencionismo do governo contribui para a desconfiança de investidores em relação ao Brasil. “Precisamos sair da dualidade estado provedor versus estado fiscalizador. Precisamos de um estado mobilizador, que consiga mobilizar o melhor de si mesmo, do setor privado e da academia”, disse a candidata.

Apesar de ser assessorada por economistas como Giannetti e André Lara Resende (um dos criadores do Plano Real), e acadêmicos como Paulo Sandroni, da Fundação Getulio Vargas, Marina ainda não detalhou, exatamente, o que fará para melhorar a produtividade do Brasil caso seja sua candidatura como vice de Campos se concretize. Ela diz apenas que suas políticas são marcadas pela visão de longo prazo e exigem um engajamento muito maior do que o horizonte de um ou dois mandatos. Segundo ela, a lógica atual (da ‘Velha Política’) prevê como único objetivo a manutenção do “poder pelo poder”, o que faz com que tudo seja executado com foco eleitoreiro. “Precisamos de políticas de longo prazo nos nossos curtos prazos políticos e isso só é possível em torno de uma agenda estratégica que englobe todos os setores e crie um ambiente de confiança”, afirmou. Apesar de fazer menos críticas que Marina em relação à atuação econômica do governo Dilma, Eduardo Campos compartilha com sua agora colega de partido o discurso de visão de longo prazo. “É preciso mostrar que temos uma estratégia de longo prazo, mostrar que existem regras claras e seguras para os investidores, tanto daqui como de fora”, disse o virtual candidato, quando questionado sobre a situação da economia do país.

O discurso pró-mercado fez com que Marina fosse, inclusive, chamada de “ortodoxa” pela própria The Economist – publicação que defende abertamente os princípios democráticos de capitalismo e livre-concorrência. A revista britânica também fez, meses atrás, uma reportagem enaltecendo o modelo de gestão pública de Eduardo Campos em Pernambuco. Marina defendeu, em entrevista, a importância de haver regras claras para todos os atores econômicos, para que possam competir em condição de igualdade. “Se você estabelecer critérios claros, o setor privado vai encontrar o caminho para fornecer os bens e serviços com o lucro necessário”, afirmou à correspondente da revista no Brasil, Helen Joyce. A falta de tal clareza tem sido uma das principais razões da desconfiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Marina reconhece o fato e afirma que até mesmo as concessões, que deveriam tornar o setor de infraestrutura mais eficiente, sofrem interferência exagerada do governo. “A realidade é poliglota. Nós é que somos monoglotas e vamos acabar ficando para trás”, disse.

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