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A era da adaptação

Segundo Klaus Schwab, é preciso adotar uma nova estrutura de soluções realistas que promovam a prosperidade partilhada dentro da economia global de hoje e amanhã

Por Klaus Schwab
16 mar 2015, 07h56

O mundo precisa parar de olhar para trás. Desde a crise financeira de 2008, gastamos energia demais tentando voltar aos dias de expansão econômica acelerada. A equivocada suposição de que os desafios do mundo pós-crise eram apenas temporários sustentou políticas que produziram somente recuperações insossas sem conseguir resolver problemas fundamentais, tais como o alto índice de desemprego e a crescente desigualdade.

A era pós-crise já acabou, e o “mundo pós-pós-crise” está à nossa porta. É tempo de adotar uma nova estrutura de soluções realistas que promovam a prosperidade partilhada dentro da economia global de hoje e amanhã.

Nesta nova era, o crescimento econômico será mais lento – mas potencialmente de maneira mais sustentável – comparado a antes da crise. E as mudanças tecnológicas serão a sua força propulsora. De fato, assim como a Revolução Industrial transformou o potencial produtivo das sociedades nos séculos XIX e XX, hoje uma nova onda de descobertas tecnológicas está remodelando as dinâmicas econômicas e até mesmo sociais. A diferença é que o impacto desta revolução será ainda maior.

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Uma característica importante desta revolução é o escopo e a escala do seu potencial de ruptura. A Revolução Industrial ocorreu de maneira relativamente lenta, como ondas compridas no oceano; embora tenha começado na década de 1780, o seu impacto não foi sentido de fato até os anos 1830 e 1840. A atual revolução tecnológica, em contrapartida, atinge as economias como um tsunami, sem aviso prévio e com força inexorável.

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O ritmo das mudanças foi acelerado pela natureza interconectada do mundo de hoje. O progresso tecnológico está acontecendo dentro de um ecossistema complexo e profundamente integrado, o que significa que ele altera simultaneamente estruturas econômicas, governos, medidas de segurança e o cotidiano das pessoas.

A fim de preparar um país para colher os benefícios de mudanças abrangentes e velozes, os formuladores de políticas devem levar em consideração a totalidade do ecossistema em que elas estão acontecendo, garantido que o governo, o empresariado e a sociedade se ajustem a cada mudança. Em outras palavras, competir na economia do século XXI vai exigir incessante adaptação.

Nada é proibido. Toda prática e padrão terão de ser repensados. Toda indústria estará sob o risco de ser completamente transformada. O serviço de caronas Uber, por exemplo, não apenas mudou a forma como as pessoas se locomovem; também parece estar liderando uma revolução no varejo, em que bens e serviços são “uberizados” – os consumidores pagam para usá-los, não para possuí-los.

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A indústria manufatureira, por sua vez, será transformada de forma similar pela tecnologia da impressão 3D. As cadeias de fornecimento serão eliminadas ou remodeladas – uma expectativa recentemente relatada pelo presidente de uma importante produtora de alumínio. Ele sabe que, para ter sucesso, as empresas terão que antecipar e reagir a essas tendências. Já se foram os dias em que os peixe grandes engoliam os pequenos. No mundo pós-pós-crise, os peixes mais rápidos irão liderar – e os peixes lentos irão morrer.

Mas a atual revolução tecnológica não está apenas remodelando o que produzimos e como produzimos; está fundamentalmente remodelando quem somos – nossos hábitos, interesses e visões de mundo. Considere a enorme diferença entre a maneira como os jovens e as gerações mais velhas interpretam a privacidade na era da Internet. Também está aumentando a nossa longevidade – um a cada dois bebês que nascem hoje na Suíça tem expectativa de vida superior a 100 anos.

Em suma, o impacto do progresso tecnológico será positivo. Mas isso não invalida o enorme desafio que ele representará.

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Por exemplo, a automação do trabalho, em última instância, irá impulsionar mais pessoas na direção de empregos mais bem pagos e produtivos, mais adequados à nova era do “talentismo”, em que a imaginação humana e a inovação, e não o capital ou os recursos naturais, impulsionam o crescimento econômico. Mas, se os trabalhadores falharem em adquirir as habilidades necessárias para preencher esses novos cargos, serão deixados para trás.

O governo, mais do que qualquer outro setor, pode moldar o impacto das mudanças tecnológicas, garantindo que os desafios sejam enfrentados, e as oportunidades, aproveitadas. De fato, deve estar na linha de frente dessas mudanças, criando um ambiente que encoraje a inovação e a criatividade no setor privado, garantindo, ao mesmo tempo, que os cidadãos estejam aptos a competir.

É claro, os governos não podem estar sempre à frente. Também vão ter que reagir e satisfazer as novas necessidades e demandas, tais como a expectativa de que os serviços públicos atinjam o mesmo nível de eficiência high-tech e conveniência oferecidos pelas empresas privadas.

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A mudança pode ser assustadora, mas é inevitável. E, na verdade, é uma fonte importante de oportunidade para melhorarmos não apenas nossos sistemas e estratégias, mas a nós mesmos. A última onda de mudanças tecnológicas está longe de quebrar. Devemos ficar animados – e cheios de esperança sobre onde ela pode nos levar.

Klaus Schwab é fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial.

Tradução: Roseli Honório

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Project Syndicate, 2015

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