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A conta-gotas, novos hotéis desembarcam no Brasil

Redes tentam burlar entraves e falta de financiamento para conseguir se expandir no país. Interior se destaca na atração de investimentos

Por Ana Clara Costa e Anna Carolina Rodrigues
18 jun 2012, 07h49

A operadora hoteleira Hilton, que pertence ao fundo de private equity Blackstone, possui dez bandeiras e está presente em 78 países, com cerca de 540 hotéis para todos os bolsos – o que significa uma média de sete hotéis por país. Contudo, o Brasil, que é a sexta maior economia do mundo, conta com apenas um hotel Hilton na cidade de São Paulo. No caso do grupo Starwood, também dos Estados Unidos, que tem 1.076 hotéis de bandeiras como Sheraton, W e Le Meridien em mais de 100 nações, são apenas quatro as propriedades em território nacional. Ambos os exemplos refletem não só o desenvolvimento desastrado do turismo no país, como também a dificuldade que grandes redes possuem em promover a expansão de suas operações. Não à toa, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85,5% dos apartamentos disponíveis em hotéis brasileiros oferecem baixo ou médio conforto, o que mostra uma dose considerável de amadorismo no setor e que é reflexo da concorrência ainda modesta com as principais redes internacionais.

O fato é que, mesmo com a perspectiva de aumento da demanda, os lançamentos hoteleiros estão longe de suprir as necessidades do país, sobretudo em relação aos dois maiores eventos esportivos que acontecerão nos próximos anos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Segundo Mateus Cabau, diretor de desenvolvimento da rede Atlantica Hotels, que prevê lançar 38 novas unidades nos próximos três anos, os preços de terrenos e imóveis ainda são o maior entrave. “Em lugares como São Paulo e Rio de Janeiro, a conta não fecha. É muito difícil conseguir um investidor porque os preços estão tão altos, que não compensam como investimento”, afirma. De todos os lançamentos da rede, nenhum será nessas capitais.

Concorrência imobiliária – Outro entrave é o fato de investimentos em imóveis residenciais e comerciais terem dominado o mercado nos últimos cinco anos. “O investidor acostumou-se com um retorno de curto prazo no setor imobiliário. Por isso, a hotelaria havia deixado de ser interessante, já que começa a dar algum retorno somente depois de três anos”, afirma Cristiano Vasques, da consultoria HotelInvest.

Além de tudo, a crise que se abateu sobre o setor hoteleiro na década de 2000 acabou afugentando muitas redes e investidores. “Havia uma clara superoferta e a demanda de hóspedes caía. Isso intimidou muitas empresas e o quadro só começou a se reverter por volta de 2007”, afirma Paula Muniz, porta-voz da área de desenvolvimento do Hilton Brasil.

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Novos tempos – Mas os empresários do setor começam a notar algumas mudanças no horizonte. A trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic) e a relativa estabilização dos preços no mercado imobiliário fizeram com que empreendimentos hoteleiros voltassem a despertar interesse. “Os investidores estão mais receptivos a esse tipo de negócio agora. Mas ainda não se pode dizer que mudaram de mentalidade. Encontrar uma pessoa disposta a financiar um empreendimento inteiro ainda é muito difícil”, diz Vasques, da HotelInvest.

Na avaliação do sócio da consultoria hoteleira BSH International, José Ernesto Marino Neto, a pujança do setor hoteleiro brasileiro está no interior, e deverá continuar assim por algum tempo. “Famílias muito ricas decidem investir em hotéis de duas ou três estrelas como forma de diversificação. São essas pessoas que estão movimentando o segmento”, afirma.

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A rede Accor, que conta com nove bandeiras no país, deverá inaugurar 88 novos hotéis até 2015 – o equivalente a 13 mil apartamentos. Desse total, a metade corresponde a hotéis da bandeira Ibis e Ibis Budget – novo nome do Formule1, que corresponde à categoria econômica da empresa. O interior do país continua como o principal destino dos investimentos. “Em São Paulo, temos 45 hotéis em operação e nenhum em construção”, afirma Abel Castro, diretor de desenvolvimento da Accor América Latina. A empresa está, inclusive, testando o modelo de franquias para acelerar a expansão. “São unidades operadas por terceiros que seguirão o mesmo padrão de excelência e terão a supervisão da Accor”, diz.

Burocracia e tributação – O grande pleito das redes hoteleiras com interesse no país é um financiamento mais alongado por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que hoje disponibiliza uma linha de crédito com prazo de pagamento de, no máximo, dez anos. “Financiar um projeto com esse horizonte é muito arriscado, pois o prazo é muito curto”, afirma Cabau, da Atlantica Hotels. Como os retornos nos empreendimentos hoteleiros são de longo prazo, acabam sendo interessantes para investidores pessoa-física que desejam adquirir um apartamento dentro do empreendimento. “É dessa forma que financiamos a maior parte de nossos hotéis”, diz o executivo.

Contudo, mesmo com um investidor a postos, não significa que o cenário se abranda. Há a segunda etapa: a aprovação do projeto por parte das autoridades. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, leva cerca de um ano para autorizar a construção de um hotel na cidade. No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, devido à urgência da Copa, as prefeituras implantaram um sistema de aprovação relâmpago para tentar atrair investidores.

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