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Vacina brasileira contra o HIV será testada em macacos

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP devem começar os testes no segundo semestre deste ano

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 5 ago 2013, 18h05

Pesquisadores brasileiros deverão começar a testar uma nova vacina contra o vírus HIV em macacos a partir do segundo semestre deste ano. Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o experimento deve ter uma duração de 24 meses. Em testes anteriores, a técnica já havia se mostrado eficaz para imunizar camundongos. Se ela tiver o mesmo efeito nos macacos, os pesquisadores esperam poder testá-la em seres humanos.

A vacina – chamada HIVBr18 – começou a ser desenvolvida em 2001 por uma equipe de pesquisadores coordenada por Edecio Cunha Neto, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Segundo a Agência Fapesp, os cientistas analisaram o sistema imunológico de um grupo especial de portadores do HIV, que eram capazes de manter o vírus sob controle por mais tempo e demoravam mais para desenvolver a doença.

No sangue desses pacientes, eles descobriram que a quantidade de linfócitos T do tipo CD4, células do sistema imunológico que costumam ser atacadas pelo HIV, permanecia mais elevada que o normal. “Os portadores de HIV que tinham as TCD4 citotóxicas (que matam células infectadas pelo HIV) conseguiam manter a quantidade de vírus sob controle na fase crônica da doença”, afirmou Cunha Neto, em entrevista à Agência Fapesp.

Em seguida, os pesquisadores isolaram pequenos pedaços de proteínas do HIV que se mantinham iguais entre a maioria das cepas do vírus. Usando um programa de computador, selecionaram os trechos que tinham maiores chances de serem reconhecidos pelos linfócitos TCD4 dos pacientes. E 18 moléculas escolhidas foram recriadas em laboratório. Uma tática comum em vacinas contra o HIV é selecionar estes pedaços: eles são inofensivos ao organismo, ao contrário do vírus, mas também despertam uma reação do sistema imunológico.

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Em uma pesquisa publicada em 2006 na revista Aids, os pesquisadores testaram as moléculas, ou seja, os pedaços, em amostras de sangue de 32 portadores de HIV com condições genéticas variadas. Como resultado, descobriram que, em mais de 90% dos casos, pelo menos um destes pedaços foi reconhecido pelas células TCD4. Em 40% dos casos, mais de cinco foram identificados.

Imunização – Em um segundo momento, as moléculas do vírus (simplificando, os tais pedaços) foram administradas a camundongos que foram geneticamente modificados para possuir células que se comportassem como as do sistema imunológico humano. Isso é essencial para poder testar a vacina e verificar seu grau de eficácia. Nesse caso, 16 das 18 moléculas foram reconhecidas e ativaram tanto as células de defesa TCD4 como as TCD8. Esse resultado foi publicado em uma pesquisa divulgada na revista PLoS ONE em 2010.

No experimento mais recente – ainda não publicado – os pesquisadores avaliaram a capacidade dessa nova vacina de reduzir a carga viral no organismo dos camundongos. “O HIV normalmente não infecta camundongos, então nós pegamos um vírus chamado vaccinia – que é aparentado do causador da varíola – e colocamos dentro dele trechos do HIV”, afirmou Cunha Neto à Agência Fapesp.

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Nos animais que receberam a vacina, a quantidade do vírus encontrada foi apenas 2% da registrada em animais que não foram imunizados. Segundo os pesquisadores, em seu estágio atual, a vacina não é capaz de eliminar totalmente o vírus do organismo, mas pode manter sua carga reduzida a ponto de o paciente infectado não desenvolver a imunodeficiência e não transmitir o vírus.

Teste em humanos – A última etapa da pesquisa antes de poder testar a vacina em humanos será realizada em uma colônia de macacos rhesus pertencentes ao Instituto Butantan, em São Paulo. A vantagem de fazer testes em primatas é a semelhança com o sistema imunológico humano e o fato de eles serem suscetíveis ao SIV, vírus que deu origem ao HIV. “Nosso objetivo é testar diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a resposta imunológica mais forte e então poder testá-lo em humanos”, disse Cunha Neto à Agência Fapesp.

O teste nos primatas representa mais um passo em uma longa cadeia de experimentos até que a vacina possa ser aplicada nos pacientes humanos. Se ela for bem-sucedida, a primeira fase do teste em seres humanos deverá ser feita em uma população saudável e com baixo risco de contrair o HIV, que será acompanhada de perto por vários anos. Nesse primeiro momento, além de avaliar a segurança da vacina, os pesquisadores devem verificar a magnitude da resposta imune que ela é capaz de desencadear e por quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo.

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A partir desse estágio, os pesquisadores esperam poder atrair interesse comercial para patrocinar as duas últimas etapas dos testes da vacina em seres humanos. Segundo os cientistas, essas últimas fases devem custar 250 milhões de reais. Atualmente, o desenvolvimento da HIVBr18 é conduzido pelo Instituto de Investigação em Imunologia, um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com apoio da Fapesp, que investiram cerca de 1 milhão de reais no projeto.

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